segunda-feira, 6 de julho de 2009

PATAVINinha’s

ROBERTO FLOR,
UM COBERTOR


Na minha casa
mora um cobertor
que eu batizei
de Roberto Flor.

Tinha guardado
esse nome pro meu gato.
Só que aqui no prédio
todo bicho vai pro lixo.
É proibido.
É contra a tal da lei

Mas pra que ela serve
isso eu não sei.

Diz que bicho
faz barulho,
suja tudo.
Mas meu irmão menor
chora berra faz xixi
e aí
fica todo mundo mudo.

E a vizinha de baixo
quando briga com o marido?
Também não devia
ser proibido?

Só espero que não proíbam
a gente de ter coberta.
Senão de madrugada
é resfriado na certa.

E no inverno
sem cobertor?
Vou direto
pro doutor!

Mas essa história do gato
Eu não engulo não.
Me dá um resfriado no coração!

Ninguém sabe aqui em casa
que o Roberto já é um rapaz.
E vive namorando uma colcha
lá da cama dos meus pais.
Ela é brincalhona
que nem hora do recreio.
E tem uma lua cheia de idéias
desenhada bem no meio.

Hoje expliquei pros meus pais
que eles precisam batizar a colcha.
Afinal, coitado do Roberto Flor:
pra uma namorada sem nome
como é que se manda
bilhetes de amor?

Sempre que posso
ajudo o Roberto.
Levo e trago recados
boto os dois bem perto.
Juntos na máquina de lavar...
ou então no varal
uso um pregador
pro casal se abraçar.

Às vezes
quando a noite já piscou seu olho
e os sonhos querem me levar
para o mundo do tanto faz
eu e ele vamos visitar
a colcha da lua cheia
lá na cama dos meus pais.

Brincamos de sonhar
enroscados
enquanto o quarto esfria.
Até o sol
bater na janela
e dizer bom-dia.


O texto Roberto Flor saiu no meu livro de poemas infantis Manu,Ela, lançado pela Editorial Nórdica, em 1987 e que se encontra esgotado (ou seja: não se encontra).

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