sábado, 8 de abril de 2017

URUBUS EM CÍRCULOS CADA VEZ MAIS PRÓXIMOS - LANÇAMENTO



Urubus em Círculos Cada Vez Mais Próximos.

Esse é o título do meu novo livro de contos. E quero convidar você pro lançamento.
Vai ser no dia 18 de abril, terça feira, no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo.
O Gabinete fica na rua Redentor 157, em Ipanema. E o lançamento vai das seis e meia até as dez da noite.
Ah, vai ter leitura de contos.
Urubus em Círculos Cada Vez Mais Próximos, um lançamento da Editora Oito e meio.  
A gente se encontra lá.

Enquanto isso, aí vai mais um conto do livro.    

A COLHEITA

Quando entra o inverno é a época de escolher as pedras. É importante que todas tenham tamanho e peso bem semelhantes. Já o formato e as cores devem ser os mais diferentes possível.
Finda a seleção, é hora da lavagem. Deixamos de molho por três dias, em água do rio recolhida em uma noite de lua cheia. Em seguida espalhamos as pedras sobre os panos brancos. E depois vamos escová-las, uma a uma, primeiro com uma escova bem pequena, que alcance todas as reentrâncias, depois com um escovão, que lhes dê brilho e suavidade.
Então chega a hora mais importante: o plantio. A terra tem que ser revolvida manualmente e em seguida penteada, com pequenos ancinhos de madeira, que nós mesmos fazemos. Depois preparamos as covas, que não podem nunca ser dispostas em linha reta, mas formando curvas. Por fim trazemos as pedras nos panos brancos e plantamos uma a uma, mais uma vez em noite de lua cheia.

A primavera é a época da expectativa e das conjecturas. E na primeira lua cheia do verão pegamos nossos cestos e começamos a colheita. 


domingo, 2 de abril de 2017

OS URUBUS EM CÍRCULOS CADA VEZ MAIS PRÓXIMOS


Esse é o título de meu novo livro de contos, que vou lançar pela Editora Oito e Meio, no dia 18 de abril. Já, já mando mais informações sobre o lançamento. Enquanto isso, vai a seguir um dos contos. 

A PRISÃO 2 – O VEREDITO

Há três anos saíra o veredito: condenada à morte na forca. A sentença se cumpriria em três semanas. No dia da execução, foi acordada na hora marcada, um pouco mais cedo do que de costume. O café já estava na mesa e tudo funcionava com perfeição, como sempre. Foi levada para o local da execução e, no caminho, começou a receber todas as informações referentes ao enforcamento. Quantas pessoas já haviam sido enforcadas ali, que tipo de crime a maior parte delas cometera, quanto tempo o cérebro ainda vive após o corpo despencar, que reações físicas e químicas o organismo detona antes, durante e até mesmo após a queda. Finalmente chegou ao cadafalso e foi preparada para o último gesto, ainda com mais informações: de que material é feita a corda, qual o tipo de madeira usada no patíbulo, quantos carrascos já passaram por ali. Foi até mesmo apresentada ao seu próprio carrasco, embora já estivesse vendada e com a corda no pescoço. O homem puxou conversa, trocaram algumas frases. Por fim seguiu-se um profundo silêncio e ouviu-se o ruído metálico de uma alavanca sendo acionada. E tudo se apagou.
Acordou na enfermaria, onde lhe informaram que houvera um problema técnico com a alavanca e sua execução falhara. Ela desmaiara com certeza por toda a tensão envolvida. Com um pedido de desculpas do diretor do presídio em pessoa, foi reconduzida à sua cela e informada que o procedimento seria refeito na manhã seguinte.
E realmente na manhã seguinte, ela foi novamente acordada um pouco mais cedo do que de costume e mais uma vez passou por todo o ritual, com novas informações e novos dados sobre todo o processo. Até a alavanca ser novamente acionada.
Mais uma vez acordou na enfermaria e foi-lhe explicado o novo defeito, desta vez na polia que movimenta a corda. Mais uma vez o diretor se desculpou pessoalmente e ela retornou à cela.
Passaram-se cinco meses de execuções diárias e mal-sucedidas. Ela já conhecia de cor todo o funcionamento da forca, já cumprimentava o carrasco pelo primeiro nome e perguntava pela mulher e pelos filhos dele. A única surpresa eram os infindáveis defeitos, sempre um diferente do outro, chacoalhando dentro de sua cabeça.
Até que ontem, pela primeira vez, os guardas se distraíram e a levaram de volta à cela sem retirar o cinto que lhe segurava a roupa de execução. E assim que trancaram a porta, ela se enforcou nas grades.