JAGUADARTEEra briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas
E os momirratos davam grilvos.
“Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra! Bocarra que urra!
Foge da Ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!”
Ele arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo
Na árvore Tamtam ele afinal
Parou um dia sonilundo.
E enquanto estava em sussustada sesta
Chegou o Jaguadarte, olho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!
Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta e, fera morta,
Ei-lo que volta, galunfante.
“Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!”
Ele se ria jubileu.
Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas
E os momirratos davam grilvos.
O poema “Jaguadarte” é de Lewis Carroll e está em seu livro Alice Através do Espelho. A tradução dos versos foi feita por Augusto de Campos e está incluída em “Aventuras de Alice”, lançado pela Summus Editorial. A obra, em tradução do poeta Sebastião Uchoa Leite, que morreu em novembro de 2003, reúne Alice no País das Maravilhas, Alice Através do Espelho e outros textos de Carroll, além de fotos suas.
A partir deste poema épico, satírico, Carroll desenvolve a teoria da palavra-valise, em que dois ou mais vocábulos formam uma nova palavra. Esta é a chave para a leitura do texto (uma delas, pelo menos) e um recurso que seguirá sendo usado pelos poetas.
Não sei se o livro ainda é encontrável nas melhores livrarias do ramo, mas certamente os sebos da cidade ainda guardam edições para quem se interessar. Vale a pena. Esse é mais um grande trabalho de Uchoa Leite. Ele afirma na introdução que escreveu: “Que os dois livros mais celebrados de Carroll, Alice in wonderland e Through the loooking-glass, sejam livros para crianças é verdade muito relativa. Na época, talvez. Hoje, mais de um século depois que foram publicados, são cada vez mais leituras para adultos. Também se foi compreendendo que não são apenas caprichosas fantasias. Pois não há nada por trás dos enredos e personagens desses dois livros que não esteja rigorosamente referenciado, seja através de dados da própria existência de Carroll, seja através de inúmeras alusões literárias, científicas, lógico-matemáticas, etc”