HAICONTOS
A NOTÍCIA
A cada manhã, ele acorda às seis e meia, desliga o despertador antes que toque, se levanta sem fazer barulho nem acender a luz, vai até o banheiro, fecha a porta meio emperrada com cuidado, ergue a tábua de madeira, mija, pega a escova na prateleira dentro do box, bota pasta, escova os dentes, bochecha, cospe, passa uma água fria demais no rosto, vai até a sala, tira o pijama, veste a bermuda e a camiseta que deixou esticadas de véspera sobre a poltrona, calça as havaianas, abre a porta da sala com cuidado, desce o lance de escadas, abre a portaria, atravessa a rua, para em frente à banca, espera que cheguem os três jornais, empilha os exemplares, paga com o dinheiro já certo, volta para casa, senta-se em frente à mesa da cozinha e lê atentamente os obituários, à procura da notícia de sua morte.
A PRISÃO
Foi julgado, condenado e levado à cela com vendas nos olhos. No caminho lhe informaram que nas novas prisões não havia grades e lá ele só permaneceria por sua livre vontade, mesmo tendo sido condenado.
Quando pôde tirar a venda estava só na cela e pôs-se a andar apressado com um único pensamento: ir embora dali imediatamente.
Mas a cela é tão ampla que, por mais que caminhe dias e noites sem parar, jamais consegue encontrar a saída.
A VIAGEM
Esse ano conheci Praga, a única capital européia em que ainda não fora. Tive que tomar um dalmadorm e meio pois o vôo era mais longo que o habitual. O cálculo do doutor Castello mais uma vez foi perfeito, acordei com o avião pousando.
As instalações do hotel correspondiam exatamente ao que eu vira no site. Inclusive os cabides vermelhos. Já o bar que escolhi não se mostrou tão agradável assim. O trânsito fazia com que a viagem até lá durasse sempre cinco minutos a mais do que o previsto. Algumas cervejas não vieram na temperatura prometida no e mail. E nem todas as garçonetes aceitaram minhas ofertas monetárias para me acompanhar até o quarto.
Mesmo assim tomei os doze porres, um para cada noite passada na cidade.
Talvez eu volte pro ano.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
CHIPS – o prazer da batata & o poder do circuito –
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