o sonho
que buda
tem
um dia
ser tão
sem
quanto
o gato
do arma
zém
O BLOG DO CESAR CARDOSO
NEGA MALUCA
Mu Chebabi canta a nossa parceria. Quem gostar pode comprar o cd “Mu Chebabi”. Lá tem Nega Maluca e mais nove criações de Mu. O cantor e compositor João Bosco gostou e disse: “O cd de Mu Chebabi não para de circular na pista do meu som. ‘Nega maluca’ me ganhou. Por ora não quero saber de outra nega. Mu é o máximo.”
uma gagueira de vento desviou o riacho
que brisa por mim de dentro & encharcou
o fogo das duas luas de brasa do meu olhar
a sombra da ilha de um susto esti
lhaçou o ritmo do meu coração de bumbo
porcelana por ser lã
meu desejo vadio preso para averiguações
o que são viadutos & tubarões nesta cidade
de tangas tangos tarzans tragédias de tédios?
as lembranças ficam longas
você foi tão breve
que as terras que eu não inventei me sejam leves
Este texto foi publicado no livro A Nossa Moranguíssima Paixão (Editora da UERJ, 1984). O livro não se encontra mais à venda. E o autor tenta se vender mais ninguém quer comprar.
PEQUENO INDICIONÁRIO DE NUTILIDADES – CAPÍTULO 6
Bem-te-verme
[do latim bene-tuu-vermis]
S.m. Bras. Ínfima Zoologia.
Ave parasita, de asas e cauda manchadas de vermelho vivo, cabeça amarela, garganta azul, peito e abdômen roxos। Descoberto pela nanobiologia, o bem-te-verme é considerado a mais bela ave do reino animal. Mas seu tamanho é tão reduzido que ele só pode ser visto em microscópios. A bem-te-verme-mãe esconde seus filhotes recém-nascidos dentro da banana-de-cauda-roxa, que é devorada pelos babuínos do arquipélago africano Frijol de Carita. Assim, o bem-te-verme passa toda a sua vida dentro do estômago deste símio, só saindo para se reproduzir e morrer. Mas, por ser tão mínimo, mesmo ali ele pode executar belos vôos helicoidais.
Cedoso
[Do lat. ceatosu, pelo grego arcaico αλφάβητου]
Adjetivo poroso.
Suavidade prematura da primeira claridade da manhã, formada por fios de luz esverdeada, emanados pela estrela Urucuia, da constelação de Diadorim. Ela brilha no hemisfério sul apenas na madrugada de 19 de março, dia de São José, marcando o início da estação das chuvas no nordeste brasileiro. Em seu livro “Vida Social No Brasil em Meados do Século XIX” Gilberto Freyre registra que “os devotos de São José seguiam os tênues fios verdes do cedoso, para encontrar as pedras de sal, garantia de um ano com muitas chuvas”.
Frijol de Carita
Ilha do Caribe, onde escravos de diversos países se refugiaram durante o século 17. Tropas espanholas atacaram a ilha várias vezes sendo sempre rechaçadas. Por fim, uma grande frota foi montada para um ataque final. E aquela que ficou conhecida como A Armada Invencível realmente não foi derrotada. Mas também não venceu porque simplesmente não conseguiu encontrar a ilha, por mais que passasse meses esquadrinhando o Mar do Caribe. Alguns babalorixás caribenhos contam que os negros arrancaram a ilha do fundo do mar e remaram com ela de volta até a África. Ela seria o arquipélago que forma Cabo Verde e tem o formato de uma fava de feijão fradinho, sua principal plantação.
Nonadeira
[Da loc. do lat. tard. res non nata, 'nenhuma coisa nascida', com perda do res + sufixo eira ]
Substantivo nódino.
Árvore do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto é a nonada. Ela também foi expulsa do paraíso por Deus e replantada por dois anjos às margens do Rio Hades, nas portas do inferno, onde é protegida pelos cães de agosto. Tem a casca pelo lado de dentro e seus gomos estão sempre expostos. Ao serem bicados pelos pássaros eles sangram.
Pedra do Sono
[Do ár. al-pelderal sonkayl ]
Locução substantiva inorgânica
Mineral que faz a pessoa dormir por sete anos. Para que funcione, na primeira lua minguante de um ano bissexto, a pessoa deve se banhar, sem saber, com a água em que três pedras do sono estiveram mergulhadas por três semanas. Depois de trabalhar durante 21 anos para Labão, Jacó descobre a pedra do sono e prepara dois banhos, um para seu patrão e outro para sua filha Lia, com quem Jacó teve que se casar. Em seguida, Jacó foge com sua amada Raquel, a serrana bela, dizendo a ela: - Temos sete anos de felicidade até que eles acordem e venham nos procurar.
Pernunca
[Do latim Pernnuncale]
Subst. cláudico
A perna que o saci não tem. Quando o saci nasce é uma criança comum. Na madrugada em que a estrela Urucuia brilha nos céus, a mãe dessa criança faz um pacto com o demônio, indo até um pé de quilelenga-verde e trocando essa perna pelo barrete vermelho que dará poderes a seu filho. A pernunca vive vagando pelas densas matas amazônicas mas raramente encontra seu dono, que tem como maldição passar a vida toda fugindo dessa perna. Quando uma pernunca encontra seu saci, o demônio vem para tomar-lhe o barrete e levá-lo para o inferno.
Pintadinho do céu
Do armênio hɑjɛɹɛnɑ lɛzu h ɹɛnuzlɛjɛ
Locução diminutiva alada
Ave que vive nos céus pintados no teto da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto। Há quem diga que ela é apenas uma pintura criada por Mestre Ataíde em finais do século 18. Mas, segundo fontes descobertas por Câmara Cascudo, o pintadinho do céu se finge de pintura e ali permanece imóvel, se alimentando apenas da música do famoso órgão desta igreja. E quando, durante um batizado, o pintadinho do céu canta, é sinal de que aquela criança será um lobisomem.
São Reimok
No século 10, o reino de Monngüber, na Vissônia Setentrional, era governado por Reimok Segundo। Quando a rainha engravidou pela primeira vez, Reimok se converteu ao catolicismo e prometeu que, se Deus lhe desse um filho varão, ele invadiria todos os reinos vizinhos e os converteria à sua nova fé, mesmo que fosse a ferro e fogo. Mas Deus lhe deu uma filha. E depois outra. E mais outra. E por mais que Reimok fizesse mais e mais promessas e até invadisse todos os reinos vizinhos – e até alguns mais distantes – e os transformasse a ferro e fogo em leais seguidores de Cristo, e cortasse as cabeças e as línguas e amputasse as mãos e os pés e furasse os olhos de todos os que recusassem a palavra do Senhor, mesmo assim Deus insistia em lhe dar filhas. A rainha estava grávida pela sétima vez e, já em desespero, Reimok foi consultar as feiticeiras que ele mesmo havia banido do reino. E elas previram a vinda de mais uma fêmea. Reimok mandou matar a rainha, que ele amava, e enterrou-a no meio da imensa floresta que cercava Monngüber e fornecia caça e frutos e lenha para o reino. Nos seis meses seguintes um gigantesco incêndio queimou toda a floresta, transformando-a num deserto sem vida. Reimok saiu de seu castelo e, de joelhos, atravessou o deserto ainda cheio de restos de árvores em brasa. As chagas se abriam por suas pernas em carne viva. E por sete dias e sete noites despencaram dos céus sete tempestades que destruíram todo o reino. Quando finalmente as águas baixaram, retornaram os poucos súditos que conseguiram sobreviver. E, assombrados, viram surgir uma igreja toda feita de conchas e corais, bem no centro da antiga floresta. Lá dentro estavam Reimok e toda sua família. Os súditos entraram na igreja e puseram-se a rezar. E depois de sete dias e sete noites de reza, viram entrar no templo a rainha. E ela trazia nos braços uma criança, que Reimok não chegou a ver. Ele abdicou do trono em favor dela e partiu para o deserto, vivendo como monge anacoreta até morrer em 987. Oitenta anos depois foi canonizado.
Soninquê
[Do macedônio Soакедонскиикi]
Reverbo impessoal
Tipo de sono em que a pessoa pensa que está dormindo e sonhando mas tudo o que acontece é real. É causado pela Pedra do Sono.
Ut
[Do germânico üüß]
Nome da oitava nota musical, a única que não pode ser escutada pelo ouvido humano. É emitida pelas baleias beluga e por alguns insetos das florestas do sudeste asiático. Foi descoberta e grafada na sexta linha da pauta pelo monge beneditino Guido d’Arezzo, em 1032, na Toscana. O compositor Mozart foi o único ser humano até hoje a compor uma sinfonia na clave de Ut. Ele pretendia tocá-la no Mar do Norte, na época do acasalamento das belugas, mas morreu antes de realizar tal proeza.
Vila De Ávila
Cidade do Vale do Jequitissonha mineiro, que forma com suas vizinhas Barroquinha do Oeste, Lúdico e Catas de Aluvião o Quadrilátero Onírico. Chega-se à Vila de Ávila após o terceiro sonho com a cidade. Mas deve se retornar de lá antes da estação das chuvas pressentidas, que molham antes de desabar, ou a pessoa nunca mais será capaz de encontrar o caminho de volta.
DEDO DE MOÇA & ALICE BARREIRA
Meu caro maninho Cesar,
Aí vai mais uma carochinha. Essa é uma das duas que saíram na coletânea das Escritoras Suicidas, Dedo de Moça. Te mandei o livro mas você não me disse se recebeu, seu mal educado. E você, continua escrevendo? Isso mesmo: insista bastante que um dia você aprende.
Beijos em tua bela boca.
Da sua irmã, cada vez mais caçula e incestuosa,
Alice
PROVANDO DO FEITIÇO
O príncipe avisou-lhe que ia ficar longos meses fora em mais uma guerra, mas que seria o mais cruel dos homens em cada batalha, para assim poder voltar logo aos braços de sua esposa e amada; e nas batalhas, enquanto torturasse e matasse seus inimigos, não pensaria em outra coisa a não ser nela. Beijou a testa da princesa e se foi. Ela se deixou ficar na janela real, vendo o príncipe e a tropa desaparecerem na curva da estrada real. Tudo ali era tão real... E ela chorou como nunca chorara, nem nos tempos de maldições, perseguições e bruxarias, nem nos piores pesadelos que tivera nos cem anos de sono.
Houve então um passe de mágica, coisa que ela não via há anos. E a outra surgiu bem à sua frente. Perguntou quem era a aparição e ao saber que se tratava de sua fada madrinha, questionou logo: por que você me deixou dormir cem anos? A outra explicou então que era apenas uma de suas fadas madrinhas, não tinha tantos poderes assim, muito menos para enfrentar a bruxa que a enfeitiçara, fazendo-a dormir aquele tempo todo. Mas também tinha valor, afinal fora ao seu batizado e lhe dera de presente nada mais nada menos do que a beleza, atributo que ela ainda carrega no nome e no corpo, e que encantara o príncipe. Ao ouvir falar do príncipe, Bela suspirou e balançou a cabeça. A fada logo interpretou o gesto como saudades, prontificou-se a usar seus poderes para resolver o problema e antes que Bela dissesse ah, brandiu sua varinha de condão e se metamorfoseou no príncipe, mais encantado do que nunca. A fada-agora-príncipe ia começar uma possível declaração de amor, mas Bela interrompeu-a. Não suspirara por saudades do príncipe, a vida do casal já estava longe de ser uma maravilha, ele só pensava em guerras, invasões, batalhas e o mais das vezes chegava exausto na cama, pegando no sono rapidamente. Pelo menos não roncava, como Bela ouvia falar da maioria dos homens, mas deveria sonhar muito mais com os inimigos do que com sua princesa.
Diante dessa triste história, a fada voltou à sua forma original e as duas sentaram-se na varanda do quarto, que dava para o bosque real. E então foi a vez da fada desabafar. Sua vida também não era tão graciosa quanto parecia nas histórias. Fadas passam os dias e as noites fazendo mágicas, quase sempre as mesmas. Arranjam muitos príncipes, mas nunca ficam com nenhum deles, sempre morrem solteiras. E lembrou quantas vezes desejara para si um daqueles homens que entregara para tantas donzelas. Certa vez, não se conteve e ficou invisível para espiar um deles nu, no banho. E qual não foi seu susto ao ver o tal príncipe se masturbar no banheiro. Chegou a dar um grito, que fez o outro interromper o que fazia, olhar em volta desconfiado e se certificar de que a porta do banheiro real estava mesmo trancada.
As duas riram um pouco e Bela contou sua única aventura. Foram — ela e seu príncipe — visitar um reino vizinho. Lá mandava um imperador. O homem achava o título mais imponente do que príncipe ou mesmo rei. Era muito vaidoso, como a maioria dos reis, príncipes ou lá que nome tivessem ou se atribuíssem. E embora ficasse se pavoneando bastante, era de fato inteligente e bonito e Bela passou a noite entretida com seu charme. Na hora dos licores e charutos, seu marido foi escolher o que iria fumar e ela ficou a sós com o imperador por um brevíssimo instante. Muito breve mesmo, mas suficiente para que o homem a agarrasse pela cintura, a puxasse para si e lhe tascasse um beijo na boca. Bela conseguiu se soltar, deu um tapa no rosto do abusado, e foi ao encontro do marido no salão ao lado. E até o final da visita, ela e o conquistador barato agiram como se nada houvesse acontecido. Bela nunca tocou nesse assunto com o marido nem com ninguém. Nem contou — como fazia agora — que não botou muito empenho no tapa e até demorou um pouco para começar a fazer força e se soltar. Ainda era capaz de sentir os lábios do outro nos seus.
Nesse instante a fada dá um pulo do sofá e, enquanto grita "tenho uma ideia!", corre até o quarto, pega sua varinha e — mágica das mágicas, tudo é mágica! — se transforma no imperador vaidoso. Bela olha o outro sem saber o que fazer. Então, lentamente, se aproxima e beija aqueles lábios, agora sem tapa nem interrupção.
E elas não foram felizes para sempre, mas tiveram muitos momentos divertidos naqueles dias.
O poeta e jornalista Claufe Rodrigues nos visita e traz uma conversa poético-paródica com Manuel Bandeira. Com certeza o poeta do Castelo lerá e rirá com todos os seus dentes de piano.
Quer mais poemas do Claufe? É só ir em www.clauferodrigues.com। Uma boa dica também é o último trabalho em livro de Claufe: O Poeta Fingidor (Editora Globo): uma antologia de Fernando Pessoa, com iconografia que além de fotos traz desenhos e manuscritos, um DVD com documentário que Claufe fez sobre o poeta e foi exibido pela Globo News e prefácio de Carlos Felipe Moisés.
VOU-ME EMBORA PARA CASA
um poema-paródia para Manuel Bandeira
Vou-me embora para casa
lá sou inimigo do rei
lá tenho a mulher que eu quero
na cama que ainda não sei
Vou-me embora para casa
aqui eu não sou feliz
lá a existência é uma aventura
de tal modo inconseqüente
que Joana, a louca de Espanha,
não cala nem consente.
E voltarei a fazer ginástica
andarei de bicicleta na Lagoa
soltarei pipa no alto do morro
tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
do barulho e dos vizinhos
boto um Dylan no ouvido um Cartola na vitrola
pra me contarem as histórias
que no tempo de eu menino
só eles sabiam contar
Vou-me embora para casa
lá tem de um-tudo
é outra civilização
tem um processo seguro
de transar sem camisinha
tem computador, microondas, celular,
tem viagra e tem prosac (se um dia eu precisar),
tem prostitutas na pista
pro pitboy espancar.
E quando eu estiver mais triste
triste de não ter jeito
quando à noite sentir ganas de matar alguém
- lá sou inimigo do rei –
terei a mulher que quero
na cama que ainda não sei
Vou-me embora para casa.
A PAIXÃO SEGUNDO A.B.
Essa mulher sabe que por ela / sou capaz de tudo / sou capaz até / de atravessar a Rua dos Gusmões / lendo Ali Babá e os Quarenta Ladrões /
Hoje vivo no abandono / um vira-lata sem dono / e pra me judiar, Pafunça / nem meu nome tu pronunça /
Doutor, eu vou lhe ser franco / por essa nega eu já vi muito branco / subir parede lisa de tamanco /
Com a corda mi do meu cavaquinho / fiz uma aliança pra ela / prova de carinho /
De lembrança guardo somente suas meias e seu sapato / Iracema, eu perdi o seu retrato /
E no chão, bem perto do fogão / encontrei um papel escrito assim / pode apagar o fogo, Mané, / que eu não volto mais /
Teu olhar mata mais do que bala de carabina / que veneno estricnina / que peixeira de baiano / teu olhar mata mais do que atropelamento de automóver / mata mais que bala de revólver /
Pode ficar com tudo que te dei / pode ficar até com meu colchão / eu voltei somente pra pegar / meu cachorrinho, meu cobertor e meu violão /
Sem ela eu não posso ficar / sem meu violão /o que é que eu vou fazer / a malvada quer / que eu troque o samba / pelo iê-iê-iê /
Eu sou a lâmpida / e as mulher é as mariposa / que fica dando vorta em vorta de mim /toda noite só pra se esquentar /
Um dia Deus pegou Adão, tirou uma costela e fez a mulher. Desde então o homem trabalha pra ela. Vai daí o homem reza todo dia uma oração: “se quiser tirar de mim alguma coisa de bom, que me tire o trabalho, a mulher não!”
Aí vai a minha crônica na revista Caros Amigos do mês de janeiro, que já se encontra nas boas bancas do ramo. No número desse mês, Irmã Geraldinha: mais uma freira na mira do latifúndio; o Partido Pirata – contra as patentes do capitalismo; entrevista com Letícia Sabatella. E o time de craques de sempre, como Emir Sader, Frei Betto, Joel Rufino dos Santos e muito mais.
UM HERÓI
Lutei o bom combate. E ele era tão bom e justo e nobre, que eu seguia lutando mesmo com a chegada da noite, dos ventos, das tempestades. E, em meio às trevas, só reconheci meu próprio irmão quando o trespassei com a espada, julgando ser um inimigo.
Aquilo caiu sobre mim como uma maldição. Eu derramara o sangue do meu sangue! Mas o bom combate precisava de mim. E voltei a lutá-lo. E dessa vez matei meu pai. Para melhor lutar o bom combate, ele se disfarçara de árvore. Como era uma árvore que não crescia em nossa floresta, tomei-a por uma vegetação inimiga e trespassei-a com a espada. Quando a árvore me disse: “filho, o que fizeste?”, tive consciência de minha nova tragédia.
Sem poder encarar os companheiros e a família, parti. Mas nem o coração dilacerado me impediu de seguir lutando o bom combate. Disfarçado, invadi o território inimigo aleijando, trucidando e matando. Mapeei, uma por uma, as nascentes de água que abasteciam sua capital. E numa só noite, mesmo com a chegada dos ventos e das tempestades, envenenei toda a água. De madrugada escutei os gritos dos que morriam. E ao amanhecer entrei, triunfante, na cidade dominada. Corpos e mais corpos jaziam nas ruas. E pude reconhecer ali minha mãe, minhas irmãs, meus filhos e meus vizinhos. Todos mortos, envenenados. Eu não sabia que nós havíamos ganhado a guerra e invadido a cidade uma semana antes.
Me deixei ficar para ser capturado pelo inimigo que voltava. Eles me pegaram, me carregaram pelas ruas cheias de sangue enquanto davam vivas ao seu salvador. Agora sou o maior herói da História. Pelo menos da História que eles repetem diariamente em seus livros escolares.
(O autor desse texto foi dispensado de lutar o bom combate por ter pé chato.)
corpo
a
corpo
no
corpo
há
corpo
no
meu
corpo
nu
há
o
teu
corpo
nu
no
meu
corpo
nuvem
há
o
teu
corpo
nunca
VOCÊ JÁ PROVOU DEDO DE MOÇA?
Pra quem quiser conhecer um pouco mais da coletânea que reúne as Escritoras Suicidas, é só visitar a revista de poesia ZUNAI (http://www.revistazunai.com/). Abaixo, está o menu que você vai encontrar lá. (Pode ir direto daqui, mas vale a pena dar um rolé pela ZUNAI.)
Chacina no palácio, de Alice Barreira
O miúdo e o largo, de Eugênia Fernandes
Olho de peixe, de Julya Vasconcelos
Há um abismo nos cantos do mundo, de Lucélia Majistral
Tentativa, de Ro Druhens
Língua de reis, Verônica Couto