sexta-feira, 10 de junho de 2011

CAIU NA REDE É PIXEL

?QUANTA DOR ME LEVA A DEUS
?QUANTO DEUS ME LEVA À DOR

quinta-feira, 9 de junho de 2011

RINHA DE GALINHA

Por Don King - nosso correspondente na Academia Brasileira de Letras e Artes Marciais

Waall, peguem logo as fichas, o uísque e façam suas apostas: o duelo dos desvairados vai começar. Neste corner, Haia Phinkasovna, a Louca da Ucrânia, dona do uppercut mais introspectivo da língua portuguesa e também conhecida como Clarice Lispector. No outro, o Máscara, o Falsário de Lisboa, o homem das mil personas, Fernando Pessoa. Não vale golpe baixo na alma. E o pau come na House de Noca. Holly shit!


Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?
E porque não tenho uma palavra a dizer.
Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez.
E se estou adiando começar é também porque não tenho guia. O relato de outros viajantes poucos fatos me oferecem a respeito da viagem: todas as informações são terrivelmente incompletas.
Sinto que uma primeira liberdade está pouco a pouco me tomando... Pois nunca até hoje temi tão pouco a falta de bom-gosto: escrevi “vagalhões de mudez”, o que antes eu não diria porque sempre respeitei a beleza e a sua moderação intrínseca. Disse “vagalhões de mudez”, meu coração se inclina humilde, e eu aceito. Terei enfim perdido todo um sistema de bom-gosto? Mas será este o meu ganho único? Quanto eu devia ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética... Ainda não pressinto o que mais terei ganho. Aos poucos , quem sabe, irei percebendo. Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de uma tal bondade. É uma doçura.
Quero saber o que mais, ao perder, eu ganhei. Por enquanto não sei: só ao me reviver é que vou viver.
Mas como me reviver? Se não tenho uma palavra natural a dizer. Terei que fazer a palavra como se fosse criar o que me aconteceu?
Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo – traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem sequer entender para que valem os sinais. Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.

(Clarice Lispector em A Paixão Segundo GH.)


AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


DIZEM QUE FINJO OU MINTO

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê!

(Fernando Pessoa)

LHUFAS - coisa com coisa nenhuma

MC BANDEIRA E O RAP DA PARADA DE LUCAS

MC Bandeira nasceu no Recife, com o nome de Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho. Veio pro Rio aos nove anos, indo morar na comunidade de Nova Brasília. Lá conheceu os rappers MV João CabraL, Oswald Science e Chico Drummond, com quem funda o grupo Semana de 22. O nome lembra o massacre de 22 de setembro de 2003, na Favela de Itabira, quando 22 pessoas foram assassinadas por mascarados suspeitos de serem policiais, fato que não ficou comprovado pois até hoje o julgamento dos envolvidos continua sendo adiado.

O primeiro sucesso do grupo foi “Mano, Vamu Nessa pra Pasargada”, em 2006. Mas MC Bandeira foi acusado de apologia às drogas e condenado a seis anos de prisão. Agora, em liberdade condicional, ele volta a se juntar com MV João Cabral, Oswald Science e Chico Drummond e juntos lançam o cd “Educação Pela Pedrada no Meio do Caminho”, que mal chegou às ruas e já ganhou uma ordem judicial proibindo sua execução por “conter apologias a contravenções penais variadas”. Em primeira mão, a letra do rap Parada de Lucas, já que por enquanto a proibição não inclui as letras.

O RAP DA PARADA DE LUCAS

parada de lucas

o trem não parou o trem não parou o trem não parou

ah se o trem parasse

ah se o trem parasse

ah

dois seios intactos dois seios no mangue

dois seios escuros dois seios defuntos

ah se o trem parasse ah se o trem parasse ah

parada de lucas

e o trem não parou

parada de lucas

que parada é essa irmão?

que parada é essa irmão?

que parada é essa?

ah

é o crime na noite

é o crime no mangue

é o crime no nada

parada de lucas

e o trem espantoso

que o crime engoliu

que o crime engoliu

que o crime engoliu

ah

PREPARE O SEU ORELHÃO PRAS COISAS QUE EU CANTAR

LIRINHA

Neto de Patativa do Assaré, filho de Bob Dylan, irmão caçula de Chico Science, Lirinha, ou José Paes de Lira, é músico , compositor e escritor e um dos criadores do projeto Cordel do Fogo Encantado, que durou de 1997 até 2010. Nesses vídeos, algumas criações deste cantador cibernético, tangendo sua guitarra debaixo do maracatu atômico.

 

quarta-feira, 8 de junho de 2011

TE DOU MINHA PALAVRA

A ORQUÍDEA TATUADA, DE PEDRO VELUDO

Pedro Veludo está sempre viajando. Se não é pelas terras do planeta, é pelas palavras desse mundo de papel e de babel. Tanto num quanto noutro, Pedro não faz turismo, ele procura conhecer os lugares por onde passa e segue pensando neles quando os transforma em texto. É o que ele faz em seu novo livro, A ORQUÍDEA TATUADA, com registros, impressões de viagem, crônicas, contos e pequenos ensaios sobre suas mais recentes andanças. Com vocês mais um pouco da prosa de Pedro.

O ÚLTIMO ABRAÇO

Porto, Portugal.

Aos seis anos fui com minha mãe viver em outro país e nunca mais vi meu pai que, meia dúzia de anos mais tarde, veio a falecer.
Quase trinta anos depois voltei à sua cidade, em busca do paradeiro de um tio, irmão dele. Depois de muito procurar e quase desistir, consegui o endereço da repartição onde ele trabalhava.
Entrei. Olhei um a um os funcionários, avancei sem hesitações e parei em frente à mesa dele.
- Tio, eu sou o filho mais velho de seu irmão Henrique.
Por um instante ele me encarou e, aparentemente sem surpresa, baixou o rosto para a pequena gaveta à direita, na sua mesa, de onde retirou um envelope:
- Estava à tua espera. Isto é para ti.
Eram duas fotos, a certidão de nascimento e a carteira de identidade de meu pai.
Fechou a gaveta, e me olhou fixo. Depois se levantou devagar, deu a volta à mesa e me abraçou. Correspondi ao abraço e assim ficamos, em silêncio, durante algum tempo. Aos poucos o silêncio estendeu-se a toda a repartição. Os funcionários deslizavam na ponta dos pés nos olhando de soslaio, à distância conveniente. Em absoluto silêncio, como se não quisessem perturbar o que talvez adivinhassem ser o último abraço de meu pai.


PORTO QUE É

Torre dos Clérigos, Porto, Portugal.

Subo pela segunda vez à Torre dos Clérigos, no Porto.
A primeira foi há muitos anos com meu pai. Lá, no andar mais alto, no sino maior, ele escreveu, em vermelho, os nossos nomes. Escreveu... ou disseram-me que ele escreveu, ou sonhei que ele escreveu... ou quis muito que ele tivesse escrito.
Porto que me lembra pai, lembra frio e broa. Lembra cozinha da avó com cafeteira de cevada ao fogo.
Porto, meu “pequeno” Porto, da Praça dos Poveiros e Jardim de São Lázaro, onde eu prendia folhas secas apanhadas do chão, com palitos de fósforos, formando coroas que punha na cabeça e pendurava ao pescoço, desfilando feito herói de mim mesmo.
Porto que lembra pontes, as quais, ao atravessá-las, entro em recantos de mim que de tão escondidos e escuros não consigo ver se as lembranças lá guardadas são ou não acontecidas: se me foram contadas ou não, se as imaginei, se as misturei com outras ou são antigas fotos que não sei onde estão, se são frases ouvidas de não sei quem, se sonhos, se pensamentos...
Porto que o passar por tuas ruas me traz desassossego, como se a qualquer momento fosse encontrar uma marca, um sinal de mim, ou como se eu fosse me encontrar ao dobrar uma esquina.
Porto que lembra o que não sei saber se foi.


PORTO QUE NÃO É MAIS

Porto, Portugal.

Volto ao Porto, à minha cidade que não é mais minha, de meu país que não é mais meu, à casa de meus avós que não são mais.
Na pequena, outrora enorme, sala, agora muda de gestos e vozes, montículos de serragem de cupim sob os móveis denunciam que há muito ela não é varrida. Separando-a do cubículo de cinco metros quadrados, onde eu mais sonhava que dormia, a porta de vitral colorido está intacta.
Tudo é silêncio.
Desço um degrau, o assoalho de madeira range, e estou na cozinha. Sento-me e passo os dedos pelo tampo da mesa, procurando em vão entre as marcas do tempo algum sinal, alguma lembrança. E me vem um gosto amargo ao peito do que eu não mais lembro, de minha memória atropelada. Da cafeteira sobre o fogão, chega-me o aroma forte a cevada.
Um ruído vindo do quarto de meus avós faz-me prender a respiração. É meu avô que amola a lâmina de barbear, friccionando-a pacientemente, de um lado e do outro, no interior de um copo. Ao seu lado, em silêncio, minha avó vigia a galinha que está prestes a pôr, num minúsculo galinheiro pendurado do lado de fora da janela. “Tem-se que tirar logo o ovo”, ela me dizia, “senão ela o come”...
Aproximo-me do quarto deles, pé ante pé: refletida no espelho do guarda roupa a imagem dele penteia os longos cabelos brancos dela. Na mesa de cabeceira, a gramática de língua francesa, que ele todas as noites por anos a fio estudava antes de dormir. Je suis, tu es, Il est, nous sommes... e adormecia antes da segunda pessoa do plural. “É preciso aprender francês”, ele me dizia.
Saio, como que saindo de mim próprio, com a impressão de que o tempo passou muito rápido.
Dou dois passos escada abaixo e olho para cima, a tempo de ver minha avó me acenando um adeus, abanando um lenço branco, como se ela estivesse longe.
Ou como se eu estivesse muito longe.

“NÚNCARAS” – po+es+ia

Hermandad

Homenaje a Claudio Ptolomeo


Soy hombre: duro poço
Y es enorme la noche.
Pero miro hacia arriba:
Las estrellas escriben.
Sin entender compreendo:
También soy escritura
Y en este mismo instante
Alguien me deletrea.



Irmandade
Homenagem a Claudio Ptolomeo


Sou homem: duro pouco
E é enorme a noite.
Mas olho para cima:
As estrelas escrevem.
Sem entender, compreendo:
Também fui escrito
E neste mesmo instante
Alguém me soletra.


Octávio Paz, em Poemas Reunidos (1957 - 1987). Tradução: Regina Werneck.

AS NOVAS CAROCHINHAS

O CASO DOS TRÊS PORQUINHOS

12/8/2010
PORQUINHO PRÁTICO É ASSASSINADO

O mega-empresário do ramo imobiliário Prático da Silva e Gomes, conhecido como Porquinho Prático, foi assassinado ontem à noite na sede de sua empresa, a Three Pigs Corp,no Morumbi. O corpo, encontrado por seus irmãos Heitor e Cícero, apresentava sinais de tortura e sevícia, o que chocou a família e os amigos. Em depoimento na 89ª DP, os irmãos acusaram pelo crime o sr. Lupu Sanguinariu, romeno residente em São Paulo e conhecido pela alcunha de Lobo Mau. Uma diligência comandada pelo Delegado Andersen na noite de ontem deteve o Sr. Lupu nas imediações da imobiliária. Segundo o delegado, o romeno confessou o assassinato, declarando que agiu movido por vingança e que faria tudo de novo. Sem mostrar nenhum arrependimento, o Sr. Lupu contou ao delegado como colocou Prático ainda vivo dentro do forno, com uma maçã na boca e outra no ânus, e o cozinhou até a morte.

14/8/2010
REVIRAVOLTA NO CRIME DO PORQUINHO PRÁTICO

O assassinato do porquinho e mega-empresário do ramo imobiliário Prático da Silva e Gomes voltou à estaca zero. Em coletiva à imprensa na tarde de ontem, o advogado do principal suspeito do crime – o romeno Lupu Sanguinariu – apresentou laudo do Instituto Carlos Éboli comprovando que as declarações de seu cliente foram obtidas sob violência e não possuem nenhuma validade legal. Segundo o advogado, seu cliente foi barbaramente torturado pelo delegado Andersen, que comanda as investigações, podendo inclusive ficar com sequelas pelo resto da vida. Ele informou ainda que já está tomando as medidas legais cabíveis.

16/8/2010
NOVAS REVELAÇÕES NO CRIME DO PORQUINHO PRÁTICO
– DELEGADO AFASTADO – IRMÃOS DO PORQUINHO PRÁTICO ENVOLVIDOS –

Após o afastamento do delegado Andersen, determinado pelo Secretário de Segurança de São Paulo, o caso do Porquinho Prático ficou a cargo dos diretores da Polícia Federal Jacó e Guilherme Grimm, conhecidos como Os Irmãos Grimm. Assim que assumiram as investigações, eles determinaram a prisão do delegado Andersen e dos porquinhos Heitor e Cícero. Os Irmãos Grimm vão apresentar ainda hoje à Justiça as provas de que Heitor e Cícero subornaram o delegado Andersen para que ele incriminasse o Sr. Lupu Sanguinariu. O que todos se perguntam agora é se os irmãos Heitor e Cícero estariam simplesmente se vingando do Sr. Lupu Sanguinariu por ele ter derrubado suas casas há muitos anos, ou se eles teriam algum outro interesse.

18/8/2010
VINGANÇA EM FAMÍLIA:
PORQUINHOS ASSASSINARAM O PRÓPRIO IRMÃO

“Está esclarecido o assassinato do porquinho e mega-empresário Prático da Silva e Gomes.” Assim os delegados Irmãos Grimm começaram a sua coletiva à imprensa na tarde de ontem, para logo em seguida apontarem os culpados pelo crime: os próprios irmãos da vítima, os porquinhos Heitor da Silva e Gomes e Cícero da Silva e Gomes. Diante da surpresa geral, os Irmãos Grimm declararam ter passado toda a noite interrogando os porquinhos, até que Cícero, em meio a uma crise nervosa, acabou confessando o crime. Segundo Cícero, desde a infância ele e Heitor sofriam maus tratos por parte de Prático. O irmão os tratava como se fossem inferiores, chegando várias vezes à agressão física contra eles. Mesmo na construtora, Prático costumava humilhá-los na frente de funcionários e de clientes. Tal prática foi confirmada por vários diretores e gerentes da Three Pigs Corp., a mega-construtora da família Silva e Gomes. Mas os Irmãos Grimm garantiram que há muito mais do que desavenças familiares e questões psicológicas no caso. Eles já têm provas de que Heitor e Cícero desviavam dinheiro da empresa. Prático contratara o delegado Andersen para investigar seus irmãos e já tinha provas suficientes para afastá-los da empresa e processá-los. Mas Andersen acabou contando tudo aos dois irmãos e se aliou a eles para praticarem o assassinato. O delegado Andersen também foi detido e declarou que participou da trama por dinheiro, ma os irmãos são psicopatas e assassinaram o irmão com requintes de crueldade.

(Da reportagem local.)

CESAR CARDOSO

AVISO AOS NAUFRAGANTES

O QUE É QUE NÃO É?

NOVO LIVRO INFANTIL DE CESAR CARDOSO

LANÇAMENTO NO SALÃO FNLIJ DO LIVRO PARA CRIANÇAS E JOVENS, QUINTA FEIRA, DIA 9 DE JUNHO, ÀS 10 DA MANHÃ, NO CENTRO DE CONVENÇÕES SUL AMÉRICA, AV. PAULO DE FRONTIN COM AV. PRES. VARGAS, RIO DE JANEIRO.

Neste meu novo livro, nada é o que parece. Uma simples bola branca parada pode ser uma lua boiando no céu. Um chafariz vira o esguicho de uma baleia. E assim, de mudança em mudança, vou inventando histórias em versos.
As ilustrações, que tornam possíveis os jogos que o texto propõe, são de Cris Alhadeff, ilustradora e designer carioca. O livro é um lançamento da Editora Biruta. O que que você está esperando aí? Vai logo comprar pro seu filho, anda!

REVISTA OUTROS ARES

Já está nos ares internéticos o segundo número da revista OUTROS ARES. Vamos deixar que eles mesmos se apresentem: “Os ares são novos e outros, mas a ideia continua a mesma: publicar bons contos, fazer boas entrevistas e continuar mantendo este espaço para divulgação da literatura curta sendo produzida no Brasil.
... Em termos de novidade, tivemos a honra de receber contos de amigos escritores que querem apoiar a revista. Claro que o objetivo original é publicar material de escritores inéditos, mas seria um absurdo receber contribuições espontâneas de bons escritores já conhecidos e publicados, e não mostrar aos nossos leitores. Por isso criamos a nova seção Bônus, como se fosse um CD com músicas não esperadas. Nesta edição, temos a participação de Charles Kiefer e Ronaldo Cagiano. Essa seção só existirá quando recebermos contos de escritores que queiram prestigiar a revista.
Agora, a Outros Ares número 2. Neste número, um dos contistas contemporâneos mais conhecidos (contista mesmo, sem nenhum romance publicado): Marcelino Freire. Além de responder a nossas perguntas, ele conta sobre o projeto Edith – nova editora voltada a publicar autores inéditos – que nasceu das suas oficinas literárias. E também mostramos com exclusividade um conto dele que sairá no livro “Amar é crime”, a ser publicado em julho também pela Edith.
Entre os contos escolhidos desta edição, temos o paulista Willian Novaes, com o conto “Uma bola e as crianças“, o “conto de futebol” da edição, como aconteceu no primeiro número.
O carioca Cesar Cardoso distorce o amor infantil no excelente conto “O castigo“. O baiano Marcondes Araújo faz algo parecido, mas com as avós, no conto “Piolhos-de-cobra“.
E, para terminar, o gaúcho, mas com vontade de ser portenho, Marco Cavalheiro discorre sobre o “Inatingível” numa mistura de conto, crônica e micro-ensaio.
A partir desta edição, a data para saída é o primeiro domingo de cada mês, ou seja, a próxima estará online no dia 03 de julho. Os contos devem ser enviados até dia 25 de junho. Podemos ser encontrados no Facebook, Twitter ou direto no email: revistaoutrosares@gmail.com

POESIA NO SESI

O Poesia no SESI-RJ é um evento que acontece quinzenalmente no Teatro do SESI (av. Graça Aranha, nº1, Centro, Rio de Janeiro) sempre às sextas-feiras, ao meio dia, com entrada franca. O poeta homenageado do mês de junho é Gilberto Mendonça Teles, que comemora seus 80 anos e estará no dia 17 desse mês lendo seus poemas e conversando sobre sua poesia. O POESIA NO SESI é coordenado e apresentado pelos poetas Claufe Rodrigues e Mônica Montone. Mais informações: www.poesianosesirj.blogspot.com

FANZINES NA BIBLIOTECA NACIONAL

Os alternativos dos alternativos – da poesia marginal ao anarcopunk. Esse é o título da exposição de fanzines que a Biblioteca Nacional exibe até 5 de agosto no Rio de Janeiro. A mostra traz impressos da Geração Mimeógrafo e tem poemas de Geraldo Carneiro, Waly Salomão, Roberto Piva, Chacal, Leila Míccolis, Torquato Neto, José Carlos Capinan e muitos outros.

LITERATURA PRA QUEM GOSTA DE LITERATURA

Olha aí os principais eventos que a Secretaria de Cultura do Rio promove neste mês.

Literatura Brasileira: Olhar de Dentro, Olhar de Fora. Eis o tema que Adriana Lisboa e Antonio Torres debatem, com mediação de Arnaldo Bloch, dia 29 de junho, às 7 e meia da noite, na Biblioteca de Botafogo (Rua Farani, 53). E tem mais literatura espalhada pela cidade, quer ver?

O Circuito Jovem de Leitura traz escritores pra conversar com a garotada que gosta de ler. Caio Ritter estará na Biblioteca de Botafogo, dia 16 às 3 da tarde. Na Biblioteca da Ilha do Governador tem Rosinha Campos, dia 15 às três da tarde também. Na de Santa Teresa, o papo é com Flávia Lins e Silva, dia 22, às dez da manhã (Rua Monte Alegre 306) . E Luciana Sandroni vai na Biblioteca do Irajá, dia 29, às três da tarde (Av. Monsenhor Félix 312).

Vamos lá, cambada!

TEM VERSUS NA REDE

A versão virtual da sexta edição da Revista VERSUS, da UFRJ, já está na rede (www.versus.ufrj.br). Tem entrevista com Marco Aurélio Garcia, falando da política externa no governo Dilma; tem o professor Aloísio Teixeira, com o artigo “Marx e a economia política: a crítica como conceito”; tem o último artigo escrito por Bella Josef, debate e artigos sobre drogas, pré-sal e reforma agrária. E mais: Carlos Drummond de Andrade, Michel Foucault, Adam Smith, Francis Ford Copolla e Rubens Figueiredo, escrevendo sobre Liev Tolstoi.

MERCADO FINANCEIRO

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Todo mundo conhece a linguagem fílmica de Buñuel, mas é legal conhecer também os poemas desse cineasta surrealista. Outros charmes, discretos ou não, são revelados nas palavras desse cão andaluz. Para quem quiser mais, este texto está no livro Os Poemas de Luis Buñuel, de J. F. Aranda, com tradução e prefácio de Mário Cesariny, em edição portuguesa da Assírio & Alvim.

INSTRUMENTAÇÃO

Para Adolfo Salazar

Violinos
Meninas pirosas da orquestra, insuportáveis e pedantes. Serras de som.

Violas
Violinos que já chegaram à menopausa. Estas solteironas ainda conservam bem a sua voz de meia tinta.

Violoncelos
Rumores de selva e de mar. Serenidade. Olhos profundos. Têm a persuasão e a grandeza dos discursos de Jesus no deserto.

Contrabaixos
Diplodocus dos instrumentos. O dia em que se decidam a dar o grande berro, pondo em fuga os espectadores espavoridos! Atualmente, vêmo-los cabecear e grunhir de contentes com as cócegas que os contrabaixistas lhes fazem na barriga.

Flautim
Formigueiro do som.

Flauta
A flauta é de todos os instrumentos o mais nostálgico. Ver-se nas mãos de um bom senhor gordo e calvo, ela que, nas de Pã, era a voz emocionada da pradaria e do bosque! Mesmo assim continua a ser a princesa dos instrumentos.

Oboé
Balido feito madeira. Suas ondas, profundos mistérios líricos. O oboé foi irmão gêmeo de Verlaine.

Corno inglês
É o oboé já maduro, com experiência. Viajou. O temperamento requintado tornou-se mais grave, mais genial. Assim como o oboé tem quinze anos o corno tem trinta.

Fagote
Os professores de fagote são os faquires da orquestra. Às vezes olham para o tremendo réptil que têm nas mãos e que lhes mostra a língua bífida. Depois de hipnotizado deitam-no nos braços e ali se fica, extático.

Contrafagote
É o fagote da terra terciária.

Xilofone
Jogo infantil. Água de madeira. Princesas a fiar no jardim, raios de luar.

Trompete com surdina
Clown da orquestra. Contorção, pirueta. Esgares.

Trompas
Ascensão a um cume. Emersão do sol. Anunciação. Oh o dia em que se desenrolem como um “mata-sogras”!

Trombones
Temperamento um tanto alemão. Voz profética. Chantres de velha catedral com era e catavento bolorento.

Tuba
Dragão lendário. O seu vozeirão subterrâneo faz tremer de medo os outros instrumentos, que desatam a perguntar quando virá o princípio de luzida armadura que os liberte.

Pratos
Luz feita em estilhas.

Triângulo
Carro elétrico de prata através da orquestra.

Tambor
Trovãozinho de sanefa. “Algo” ameaçador.

Bombo
Obcecação. Grosseria. Bum bum bum.

Tímbales
Cestos de azeitonas.


NOTAS

Instrumentação

Publicado em Horizonte, prestigiosa revista de vanguarda dirigida por Pedro Garfias, n° 2, 30/11/1922. Dedicado a A.S., companheiro de Buñuel na “Residência”, um dos compositores que formaram o grupo dos Atonalistas espanhóis (com Rodolfo Halfter, Salvador Bacarisse, Gustavo Pittaluga, etc) e o maior musicólogo espanhol deste século. Luís foi um bom violinista e um apaixonado pela música, na adolescência. O texto revela já a sua visão da orquestra como monopólio representativo da burguesia, que deve ser objecto da agressão surrealista. Lembre-se os dois pianos de cauda com quatro burros podres metidos “em sandes”, em Um Cão Andaluz; a orquestra de A Idade do Ouro, com o seu cômico director e o primeiro violino, um padre Marista. O cenário de Os Esquecidos, onde uma orquestra de 120 professores ensaia num arranha-céus em construção, enquanto os rapazes matam o cego; a destruição de uma orquestra, e até do teatro, em As Ménadas, episódio de Quatro Mistérios, por causa do louco entusiasmo dum público de província que ouve um conjunto internacional executar a Quarta Sinfonia de Brahms. A destruição, a golpes de machado, dum violoncelo, em O Anjo Exterminador. A alusão, em O Discreto Encanto da Burguesia, de que os violoncelistas estão a ser postos na rua pelas orquestras, etc.
Estilisticamente, é uma homenagem, mais do que um plágio, às famosas Greguerias de Ramón Gomes de la Serna, frases breves ou aforismos metafóricos cujas premissas conduziam a uma conclusão não coerente, de absurdo ou humor. Segundo Max Aub, todo o cinema de Buñuel é “um encadeado de Greguerias”. De qualquer modo, veja-se a diferença entre B. e Ramón (o primeiro mais visual que literário) ao compararmos a Gregueria sobre os pratos da orquestra: B: Luz feita em fanicos; R. (escrito posteriormente): “Os pratos são o espirro da orquestra.”

THAT’S ALL, FOLKS!

Não, já não tenho forças para suportar isso! Meu Deus! Que estão fazendo comigo! Derramam água fria em minha cabeça. Não me escutam, não me vêem, não me entendem. Que fiz a eles? Por que me atormentam? O que desejam de mim, o infeliz? Que posso dar a eles? Não tenho nada.

Estou no fim, não posso mais suportar suas torturas; minha cabeça queima, e tudo gira à minha volta. Salvem-me! Levem-me! Dêem-me um trenó com ginetes rápidos como a ventania! Monte na sela, cocheiro, soe, minha sineta! Corcéis, lancem-se em direção às nuvens e levem-me longe deste mundo! Mais longe, mais longe, onde não se veja nada, mais nada. Lá o céu gira diante de meus olhos: uma pequena estrela cintila nas profundezas; uma floresta vaga com suas árvores sombrias, acompanhada pela lua; uma névoa cinza espalha-se sob meus pés; uma corda vibra na névoa; de um lado, o mar, do outro, a Itália; tudo lá está, vê-se até mesmo as cabanas de camponeses russos. Será minha casa aquela mancha azul à distância? É minha mãe sentada diante da janela? Mamãe! Salve teu filho infeliz! Deixe cair uma pequena lágrima sobre sua cabeça sofrida! Olhe como o atormentam! Aconchegue o pobre órfão em teu peito! Ele não encontra um só lugar sobre a terra! Ele é perseguido! Mamãe! Tenha piedade de teu filhinho doente!... Eh, vocês sabiam que o rei da Argélia tem uma verruga exatamente debaixo do nariz?

Trecho final do Diário de um Louco, de Nicolai Gogol (tradução de Roberto Gomes, L&PM Pocket.)



Meu e mail: cesarcar@uninet.com.br

©Cesar Cardoso, 2010. Todos os direitos e esquerdos reservados. Que os piolhos infectados de 18 mil camelos infestem as partes pudendas de quem publicar algum texto daqui sem avisar nem dar meu crédito.