terça-feira, 31 de agosto de 2010

AS NOVAS CAROCHINHAS

NOVO ENFRENTAMENTO ENTRE CHAPEUZINHO E LOBO MAU

A atriz principal da novela das seis, Chapeuzinho Vermelho, voltava de uma gravação na madrugada de domingo quando seu carro enguiçou na Estrada de Furnas, que corta a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ao saltar para tentar descobrir o defeito do automóvel, a atriz foi abordada pelo Lobo Mau, que habita aquelas matas. Depois de roubar vários pertences de Chapeuzinho, o animal acabou por devorá-la. Mas sentiu-mal logo em seguida e, usando o carro de Chapeuzinho, dirigiu-se a um hospital das redondezas. Lá foi submetido a uma ultrassonografia abdominal que constatou a presença de Chapeuzinho, ainda viva, em seu estômago. De imediato, a equipe médica quis realizar uma cirurgia para a retirada da atriz. Mas o procedimento teve que aguardar autorização do plano de saúde do Lobo, que alegou nunca ter enfrentado um caso como esse. Era necessário uma consulta ao departamento jurídico para esclarecer se os médicos poderiam salvar a vida de Chapeuzinho usando o plano de saúde do Lobo Mau. Sem dúvida, uma situação inusitada.

O Lobo permaneceu internado enquanto aguardava uma decisão do plano médico. Nesse meio tempo a avó de Chapeuzinho, informada do infortúnio que se abatera sobre sua neta, compareceu ao hospital, acompanhada de seu advogado e exigindo uma cirurgia imediata, não pelo plano do Lobo e sim pelo de sua neta, já que o procedimento médico visava salvar a vida dela e não a do animal. Os médicos concordaram com a avó e chegaram a levar o Lobo Mau para o centro cirúrgico. Mas, durante a anestesia, o plano de saúde de Chapeuzinho alegou precisar de tempo para saber do direito ou não de sua associada àquele tipo de cirurgia.

As pendências jurídicas levaram todo o dia de segunda feira. E quando, por fim, o plano de Chapeuzinho autorizou a operação, a chegada dos advogados da atriz ao hospital levou tudo para a estaca zero novamente. Os doutores Christian e Andersen trouxeram um mandato que impedia a cirurgia, a pedido de sua cliente.
Segundo eles, Chapeuzinho contatou-os pelo celular afirmando que, ao perceber que pode permanecer viva dentro do Lobo, optou por não mais sair de lá. Ainda segundo os advogados, sua cliente garantiu sentir-se muito mais segura dentro do animal, onde não há engarrafamentos, risco de assaltos, vizinhos chatos nem outras violências. Quanto à novela, Chapeuzinho declarou que o autor certamente encontrará uma saída criativa para a trama. E realmente na segunda feira à noite, representantes da emissora de tevê chegaram ao hospital para oferecer ao Lobo um contrato. Há especulações de que o animal já deve aparecer ou pelo menos ser citado no capítulo desta terça feira. Há também a expectativa de um ibope recorde com os novos rumos da história e chances muito grandes de todos viverem felizes para sempre.

(Da reportagem local)

SALTA UMA CAROS AMIGOS NA MESA 5!


Saiu do forno o novo número da revista Caros Amigos, com 3 entrevistas quentinhas: Marcio Pochmann, professor da Unicamp e presidente do IPEA, analisa o país e sua desigualdade histórica. É um prato cheio! E pra matar sua fome de informação, o professor da UFRJ José Luís Fiori fala da atual crise européia. E pra rebater: Inezita Barroso e seus 30 anos no comando do programa “Viola Minha Viola”. De sobremesa: os 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, a nova onda do cinema latinoamericano e a arte nordestina na Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro. E por conta da casa ainda tem uma porção bem servida de colaboradores. Depois dessa, traz a minha crônica na pressão aí embaixo e fecha a conta! (Mas ainda tem o aperitivo: saiu também um número especial da revista só sobre eleições. Assim não há regime que aguente!)

OS TUPINAMBÁS E A FORMAÇÃO DO NOVO MUNDO EUROPEU

Não foi por acaso que, em 1500, os Tupinambás saíram do porto do Rio de Janeiro e navegaram até as terras do Novo Mundo, batizando-as de Europa. Eles sabiam muito bem o que iam fazer por lá: levar o primeiro processo de globalização ao continente desconhecido.

É verdade que de início se limitaram à retirada do Pau-Europa, mas com o ciclo da beterraba iniciaram a produção de açúcar, que exportaram para todo o Velho Mundo, desde a Argentina até o Canadá. Junto com o lucro vieram os conflitos com os índios europeus – franceses, ingleses, portugueses, espanhóis e os temidos holandeses, que se aliaram aos Xavantes quando estes invadiram o Nordeste da Europa em 1630, liderados por Juruna de Nassau e sua Companhia Xavante das índias Ocidentais.

Nos anos 1700, para explorar o ouro descoberto no interior da Europa, os Tupinambás são obrigados a importar mão de obra estrangeira, já que a indolência do europeu o torna incapaz de trabalhar nas minas. É criado assim o tráfico negreiro para a Europa, que dura até 1888, quando os Tupinambás promulgam a Lei Áurea e dão liberdade a todos os escravos.

No século XX, chegam as guerras de independência, com Churchill, De Gaulle, Stalin e outros líderes terroristas sacudindo uma Europa até então pacífica. E se no século XXI já não há mais colônias, há os populistas como Sarkozy e Berlusconi oferecendo milagres à população.

Mas a dura realidade histórica é que nada disso altera o quadro do subdesenvolvimento europeu. Afinal, seria ele resultado de séculos de imperialismo tupinambá ou do inóspito clima frio do continente somado à preguiça natural dos índios, sejam eles ingleses, portugueses, franceses ou alemães?

Cesar Cardoso é historiador e leciona na University of Tchucarramãe.

AUTOPEÇAS LITERÁRIAS CARDOSÃO



EPISÓDIO DE HOJE: O CACHORRO LOUCO DO PAULO LEMINSKI

Parem
eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face
parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta.



Dois loucos no bairro
Um passa os dias
chutando postes para ver se acendem

o outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco

todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também.


O Paulo Leminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filho da puta
de fazer chover
em nosso piquenique

- LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –


SEQUESTRO DE AMÉLIA TEM SALDO TRÁGICO

Benedito Pereira, conhecido pelos apelidos de Escurinho e Unha de Gato, saiu de cana ainda não faz uma semana, beneficiado pela progressão de sua pena, que passou de regime fechado para semi-aberto. Mas o presidiário não perdeu a mania de brigão, que lhe fez famoso no Morro da Providência, no Centro do Rio, onde mora. Na mesma manhã em que deixou a Penitenciária de Bangu 1, Benedito invadiu a casa de sua ex-mulher, Amélia do Lago, que almoçava com seus pais. Muito descontrolado e armado com um revólver calibre 38 e uma pistola, Benedito fuzilou os ex-sogros com mais de dez tiros e manteve Amélia como refém por dois dias, sob a mira de suas armas e de constantes ameaças.
Agentes do Grupo de Ações Táticas Especiais cercaram a casa e tentaram negociar a rendição de Benedito. Mas, inconformado com o fim do casamento, ele se negava a soltar Amélia ou mesmo a entregar os corpos dos pais dela. A polícia cortou a água e a luz da residência, mas nem assim Benedito aceitou negociar. Sua mãe, a doméstica Dora – conhecida no morro como rainha do frevo e do maracatu – foi chamada ao local e declarou à nossa reportagem que Benedito era um homem comum mas passou muito tempo entre maus elementos e que aquilo era macumba de alguma escurinha que ele fez ingratidão. Num dramático apelo ao filho, Dora implorou para que ele se entregasse. O que aconteceu, no entanto, foi que Benedito, ao ouvir a voz da mãe, gritou que não iria de novo para a cadeia e de lá só sairia morto. Em seguida fez quatro disparos dentro da casa, levando os policiais especializados a se decidirem pela invasão do local. Durante a operação houve um violento tiroteio e Benedito acabou morto, cumprindo tristemente sua profecia. Amélia, ferida na perna e no abdômen, foi levada ao Hospital Souza Aguiar. À nossa reportagem ela declarou apenas: “o que se há de fazer?”

(Da reportagem local)

“NÚNCARAS” – po+es+ia



O paraibano Zé Limeira nasceu em Teixeira em 1886, foi repentista e cordelista dos melhores e ficou conhecido como O Poeta do Absurdo. Dizem que se vestia de modo extravagante e usava óculos escuros e muitos anéis. Uma figura pop em pleno Nordeste do século 19 e começo do 20. Se quiser saber mais sobre ele e sua obra compre o livro O Poeta do Absurdo, de Orlando Tejo, Editora Caliban (já na 11ª edição). E agora veja porque ele ganhou o apelido de Poeta do Absurdo.


Quem vem lá é Zé Limeira,
Cantor de força vulcânica,
Prodologicadamente
Cantor sem nenhuma pânica
Só não pode apreciá-lo
Pessoa senvergonhânica.

Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri,
As estrelas trinca os dentes,
Leão chupa abacaxi,
Com trinta dias depois
Estoura a Guerra Civí.



Se tu for na minha casa
Tem capim pro teu cavalo,
Se chegar um filósofo
Eu mando fotoigafá-lo,
Se chegar um fotóigafo
Eu mando filosofá-lo.



O Marechal Floriano,
Antes de entrar pra Marinha,
Perdeu tudo quanto tinha
Numa aposta com um cigano.
Foi vaqueiro vinte ano,
Fora os dez que foi sargento,
Nunca saiu do convento
Nem pra lavar a corveta,
Pimenta só malagueta,
Diz o Novo Testamento!

Pedro Álvares Cabral,
Inventor do telefone,
Começou tocar trombone
Na volta de Zé Leal.
Mas como trocava mal,
Arranjou dois instrumento...
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três,
Quem tem razão é o freguês,
Diz o Novo Testamento!

Um dia, Nossa Senhora
Se encontrou com Rui Barbosa,
Tiraro um dedo de prosa,
Voltaro e foram-se embora.
Judas se enforcou na hora,
Numa corda de cimento,
Botou os filho pra dentro,
Foi pra barca de Noé,
Viva a Princesa Isabé,
Diz o Novo Testamento!

Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E dona Leopoldina
Devia a Deus e ao mundo,
O poeta Zé Raimundo
Começou castrar jumento,
Teve um dia um pensamento:
Tudo aquilo era boato,
Oito noves fora quatro,
Diz o Novo Testamento!

Napoleão Bonaparte
Saiu de dentro da grota,
Veio contar anedota
Pra seu Pedro Malazarte,
Dom Pedro teve um enfarte,
Tomou um chá de jumento,
Vomitou, botou pra dentro,
Tornou goipar outra vez,
Ás, dama, valete e reis,
Diz o Novo Testamento!

Quando Jesus veio à Terra
Foi gerente da Paulista,
Sócio de São João Batista,
Depois da Segunda Guerra...
De tanto subir a Serra,
Tivero um padecimento,
Inda existe decumento
Da juvenía dos dois,
Hoje, amanhã e depois,
Diz o Novo Testamento!


O meu nome é Zé Limeira
De Lima, Limão , Limansa
As estradas de São Bento
Bezerro de Vaca Mansa
Vala-me, Nossa Senhora
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França

CHIPS – o prazer da batata & o poder do circuito –


Minha cara irmã Alice,

Aí vai o haiconto que te falei, com o tema da memória.
Beijo
Cesar


MEMENTO - 1

Hoje ele me contou as histórias outra vez. Eu o ensinando a andar de bicicleta, os nossos jogos de futebol na beira do rio, a força que fiz para a minha amiga ser sua primeira namorada, as viagens para assistir os festivais, as farras na cidade grande. Vai contando, cada vez mais animado, e de vez em quando para, emocionado com esta ou aquela lembrança. Sei que ele fica me olhando quando vou embora. Mas não olho para trás. Vou andando em linha reta e pensando que nada daquilo aconteceu.


Salve, maninho,

Aceitei o desafio. Lá vai o meu haiconto sobre a memória. Publica os dois lá no Patavina’s. Podíamos desenvolver mais esse jogo, essa parceria em desafio. Que tal?

Beijos gulosos da mana
Alice


MEMENTO - 2

Finalmente. Quanto tempo se passou? Não importa, o fato é que eu estou aqui. Eu consegui voltar.

Andei pelo cemitério mas não achei o túmulo. Então respirei fundo e atravessei a rua principal. Entrei na farmácia, na papelaria, na padaria, comprei coisas de que não precisava, só para poder pisar de novo aquelas calçadas e, aos poucos, ir medindo as reações. No bar, pedi uma cerveja e fiquei ali no balcão puxando assunto e mastigando alguma coisa.

Anoiteceu. Eu continuo no mesmo balcão. Mas agora estou bêbado. Nada. Ninguém lembrou de nada. Nem de mim. Vou pagar a conta e voltar pra rodoviária.

AVISO AOS NAUFRAGANTES


POESIA NO SESI-RJ

O poeta e amigo Claufe Rodrigues informa: “Setembro vem aí e com ele o mar de comemorações pelos 80 anos de Ferreira Gullar. No nosso evento, o poeta maranhense será devidamente incensado, com participação de nomes como Adriano Espínola, Antonio Carlos Secchin, Mano Melo, Salgado Maranhão, Augusto Sergio Bastos, Gregorio Duvivier, Alexandra Maia e, sendo apresentado pela primeira vez ao público carioca, o excelente poeta e romancista cearense Ary Albuquerque. O próprio Gullar encerrará a programação.
O projeto Poesia no SESI-RJ estreou em março e vai até dezembro. Estaremos no Teatro do SESI-Rio (Rua Graça Aranha, no. 1, centro), todas as quartas-feiras, ao meio-dia, com um elenco diferente a cada semana homenageando o poeta do mês.

Programação de setembro:

8 de setembro: Adriano Espínola e Augusto Sérgio Bastos
15 de setembro: Salgado Maranhão e Alexandra Maia
22 de setembro: Mano Melo e Gregório Duvivier.

A apresentação é feita por Claufe Rodrigues e por Mônica Montone e o encontro acontece sempre às quartas, das 12h às 13h, no Teatro do SESI-RJ (Av. Graça Aranha, 1 - Centro - Rio de Janeiro/RJ). A entrada é gratuita.

OUTDOR - po+es+ia +v+is+ual



PORQUE ESCREVO


“Se fosse sólido eu comia. Se fosse líquido eu bebia. Escrevo porque é gasoso.”

Alice Barreira

O texto que segue está no ensaio “À Meia-Luz”, sobre o escritor argentino Adolfo Bioy Casares, escrito por José Castello e publicado em seu livro Inventário das Sombras, (Editora Record) onde José nos dá esse e mais 14 ensaios sobre escritores e criadores como Ana Cristina Cesar, Clarice Lispector, João Antonio, Caio Fernando Abreu, Manoel de Barros, Nelson Rodrigues Saramago, Trevisan e outros. A leitura deste “Inventário” é uma grande prazer. Aliás José Castello está nos dando também seu novo romance: “Ribamar”, já nas boas livrarias do ramo.


Bioy Casares pergunta se desejo ouvir uma história. Não é uma gentileza de sua parte, adverte, mas sim um favor que eu lhe prestarei. Antes que eu possa responder que, sim, ficarei muito orgulhoso de ouvir uma hist[oria relatada por Bioy Casares, ele me fala um pouco a respeito de seus hábitos de escritor. Escreve diariamente, sempre pela manhã, nunca mais que duas páginas de caderno. “Depois disso, já se começa a escrever tolices”, justifica. Acrescenta que, na verdade, escreve todo o tempo, não com as mãos, mas com a cabeça. “Ah, eu nunca paro de escrever”, me garante. Um exemplo? Está, suponhamos, fazendo a barba. Enquanto espalha a espuma pelo rosto, vai contando uma história para si mesmo. Em seguida a esquece. Durante o almoço, retoma a mesma história e a relata para uma amiga que o acompanha. Se o relato desperta interesse, sente-se estimulado e na manhã seguinte começa a passá-lo para o papel. Mas se a amiga fica entediada, se muda de assunto, prefere esquecer da história. “É porque ela não presta”, conclui rapidamente.

Mas nem sempre, mesmo quando consegue agradar, Bioy Casares passa a sua história para o papel na manhã seguinte. Prefere ruminá-la mentalmente pelo maior tempo possível, aguardando o momento adequado para a transcrição. “Quando tenho a trama esboçada, começo a pensar: bem, esses serão os pontos difíceis, as partes que podem me derrubar”. Então, sempre mentalmente, sem anotar uma única linha, trata de solucioná-los, um a um. “Só assim, com a estrutura pronta, posso me sentar para escrever com a certeza de que não serei enganado pela história”, diz. Mas esse é mais um engano, a literatura é feita de enganos. Bioy admite: “O problema é que, quando começo a escrever, todas as minhas soluções falham. Quando está diante do papel, por mais que tenha ruminado a história, todas as dúvidas reaparecem. “Esse preparo mental só serve, no fundo, para que eu me engane e assim fique menos tenso para escrever”, diz. “Engano-me, mas já sei que, na hora de escrever, minhas soluções maravilhosas não funcionarão e então serei obrigado a partir do zero. E, com um sorriso no rosto, conclui: “Sou apenas um charlatão”. Poucas vezes terá definido melhor a literatura.

THAT’S ALL, FOLKS!

Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há. É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia.

PALAVRAS FINAIS DE RIOBALDO, EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS.

PLEASE MISTER POSTMAN





Meu e mail: cesarcar@uninet.com.br

©Cesar Cardoso, 2010. Todos os direitos e esquerdos reservados. Que os piolhos infectados de 18 mil camelos infestem as partes pudendas de quem publicar algum texto daqui sem avisar nem dar meu crédito.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CAIU NA REDE É PIXEL








Bras. Zool. Espécie de crustáceo decápode, braquiúro, ocipodídeo, que ocorre das Antilhas até SP, e cuja carapaça tem cerca de 2cm de comprimento. Vive nos mangues.
Bras. Cap. Golpe desequilibrante em que o capoeirista salta com uma perna atrás do joelho do adversário e a outra no seu abdome, com o objetivo de derrubá-lo.
Bras. Zool. Ave passeriforme, tiranídea (Muscivora tyrannus), de coloração geral cinzento-clara, alto da cabeça preto, meio do vértice amarelo, asas e uropígio pardo-escuros, cauda preta e retrizes exteriores marginadas de branco na parte basal; piranha.
Arquit. Constr. Conjunto de peças de madeira ou de ferro, que sustenta a cobertura de um edifício; asna.
Fig. Pessoa maledicente.
Constr. Nav. Cada um dos barrotes de madeira presos obliquamente aos jazentes, para os segurarem na carreira de construção.
Peça longitudinal, de madeira ou de ferro, nos jogos dianteiros dos carros de quatro rodas.
Cruzamento das rédeas com que os cocheiros dirigem uma parelha de tiro.
Instrumento cortante, constituído por duas lâminas reunidas por um eixo, sobre o qual se movem, abrindo em cruz.

- LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –


PEQUENO INDICIONÁRIO DE NUTILIDADES – FASCÍCULO 8

ABANDOLIM
[Do persa antigo بیستون
, pelo italiano amandolino]
Instrumento musical originário da antiga Pérsia e formado apenas por cordas duplas que se sustentam a si mesmas, sem nenhuma caixa que lhes dê apoio. As cordas são feitas de fibras extraídas dos rins do pássaro Simorgh, que vive nas Montanhas Elburz, ao norte do Mar Cáspio. Usado apenas em enterros, o abandolim tem o dom de ressuscitar os mortos, mas em troca leva uma outra pessoa da família, três dias depois do milagre. Dizem que Jesus teria tocado o abandolim para Lázaro.

DESANDORINHAR-SE
[ Do lat. Desirundinere ]
desverbo

Deixar de ser andorinha. De todos os tipos de andorinhas existentes – cerca de 350 – somente uma tem a capacidade de se desandorinhar, a Andorinha do Sétimo Círculo, que vive às margens do Rio Flegetonte. Ela consegue se transmutar em outros seres, como sapos, unhas, pilhas, tumores e objetos que se encontram nos contos de Júlio Cortazar. E é o único ser vivo que se metamorfoseia por simples diversão.

FOICE DE CARTAGO
[ Var. de fouce, derivado do latim falce. + do latim Cartagus]
É a foice que a morte carrega. Houve um tempo em que os deuses eram mortais como os seres vivos, mas só morriam quando golpeados pela Foice de Cartago, que então pertencia a Zeus. Cansado de escondê-la ou de criar escaramuças para se livrar de deuses com desejos assassinos e heróis humanos com sede de glória, Zeus deu a Foice de Cartago de presente à Morte, com a certeza de que ninguém mais procuraria aquele objeto por não querer se encontrar com sua nova dona. Mas Zeus se esqueceu que o sonho de todo herói é desafiar a morte. E por isso até hoje a Indesejada das Gentes tem que se ocupar em dar cabo de dúzias de generais, piratas, justiceiros e outros criminosos, além de diversos deuses menores em busca de ascensão no diversos céus. E ela se lamenta pelos corredores celestiais e dos infernos por ter tão pouco tempo para de dedicar ao que mais gosta de fazer: escolher sem pressa e ao acaso os seres humanos que vai buscar para a sua companhia.

GATURAMO DE VENEZA
[Do lat. Catturamu + do vêneto Venexia]
Ludicemne, a deusa das brincadeiras, queria alegrar seu filho Lusco-Fusco e trouxe para os jardinsde seu palácio todos os bichos de estimação da criança. Mas nada alegrava Lusco-Fusco. A deusa já não sabia o que fazer e seu único filho então lhe pediu para criar um novo animalzinho, misturando o tei-tei das gôndolas, um pássaro admirado por seu canto e suas cores, com o gato do Adriático. Ludicemne fez a vontade do filho, criando assim o Gaturamo de Veneza, um ser metade pássaro, metade gato, que sente uma incontrolável compulsão para se ferir o tempo todo. Lusco-Fusco adorou seu novo brinquedo e trancou-o numa gaiola de prata. Mas, como sempre, meia hora depois já estava reclamando daquele bicho burro, que não fazia mais nada além de cravar em si seu próprio bico, e foi embora dali, batendo o pé por mais diversão. Antes de ir atrás dos novos desejos do filho, Ludicemne teve pena do gaturamo de Veneza e abriu a porta da gaiola. O bicho voou rápido, foi atrás de Lusco-Fusco e furou seus dois olhos. Desde então, todos os gaturamos de Veneza vivem se escondendo pelas matas e só voam à noite, fugindo da vingança de Ludicemne.

PINGO DE GATO
[Do lat. vulg. pendico + do lat. cattu]
Expressão substantiva aquosa
Suor desses felinos, vertido durante a caça aos ratos. Quando esses animais copulam ainda suados dão origem aos gatos-pingados, que acompanham a morte e sempre rondam os lugares aonde ela vai recolher suas vítimas. Aquele que consegue enxergar um gato-pingado pode escapar da morte.

SONHOBRO
[Do lat. somniubrae]
Subst. onírico
Restos de sonhos que não chegamos a sonhar e ficam dentro de nós, envenenando-nos até levar-nos a uma morte lenta e dolorosa. No princípio o homem não sabia dormir, era dominado pela exaustão e morria antes de chegar à vida adulta. Até que um dia, nas florestas de pinheiros que circundam o Golfo de Riga, na Estônia, um garoto encontrou um sonho emaranhado entre os galhos de uma daquelas árvores e levou-o para o povoado onde morava. Maravilhados com aquela descoberta, todos foram para a floresta à procura de outros sonhos. Andaram dias e noites, se embrenhando entre os pinheiros sem nada encontrar e, nesse esforço contínuo, acabaram por adormecer, extenuados. Então sonharam. E, ao acordar, perceberam que precisavam dormir para pode sonhar. Desde então o homem passou a usar as noites para o sono. Mas a escuridão noturna dificulta que os sonhos consigam sair dos seres humanos. E daí se originam os sonhobros. Para se livrar deles, ao acordar deve-se beber um cálice de suor da égua da noite. Mas este animal habita as florestas de pinheiros que circundam não o Golfo de Riga real, na Estônia, mas um outro que só existe em nossos mais terríveis pesadelos. É lá que temos que ir para escaparmos da morte pelo sonhobro.

TREVISADO
[Do francês arcaico trevisée]
Adjetivo de fubá mimoso
Diz-se dos personagens de Dalton Trevisan que conseguiram fugir de seus contos e foram morar na verdadeira Curitiba. Só que eles não suportaram a nova vida e também não conseguiram mais voltar aos textos de onde haviam escapado. Agora vivem vagando à procura de outras Curitibas e tendo pesadelos onde são devorados por pássaros de cinco asas.

“NÚNCARAS” – po+es+ia


COMIGO ME DESAVIM
Sá de Miranda

Comigo me desavim,
Sou posto todo em perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?

O português Francisco Sá de Miranda nasceu em Coimbra em 1481, foi contemporâneo de Camões e um dos poetas mais lidos do século 16. A lisboeta Maria Teresa Horta nasceu em 1937, fez parte do grupo Poesia 61 e publicou Novas Cartas Portuguesas, com Maria Velho e Isabel Barreno, livro que deu as autoras processos na (In)Justiça salazarista. E agora não vamos atrapalhar a conversa deles, deixemos os dois à vontade.

MINHA SENHORA DE MIM
Maria Teresa Horta

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

recusando o que é desfeito
no interior do meu peito

(Minha Senhora de Mim, Editorial Futura, 1974 - Lisboa, Portugal)

AS NOVAS CAROCHINHAS


AS TRANÇAS

Eu tinha cabelos longos, tão finos como fios de ouro. E passava a maior parte do dia cuidando deles. Talvez tenha me descuidado de tudo o mais. Talvez. Mas como eu ia me cuidar?

Eu nunca mais soube de meus pais. A feiticeira que me raptou e me prendeu aqui nessa torre jurou que eles nunca procuraram por mim e que até teriam tido outra filha, tão loura e de tranças quanto eu. Mas eu nunca acreditei em nada do que a feiticeira falou. Mesmo quando fiquei doente e ela disse que iria me levar ao médico, eu não acreditei. Para que uma feiticeira leva alguém ao médico? Por que não usa seus poderes? Eu não cheguei a falar mas ela me respondeu: - estou velha, muitos poderes se foram. Meus feitiços não dissolvem a doença que te come o corpo.

Foi assim que fiquei sabendo da doença. Quando anoiteceu e o príncipe mais uma vez subiu à torre pelas minhas tranças eu não tive coragem de lhe contar o que ouvira. Mas ele viu em meus olhos que alguma coisa havia mudado. E me abraçou com uma ternura que eu ainda não conhecia.

A feiticeira cumpriu o prometido e me levou aos médicos da vila. E depois a outros médicos de uma cidade grande como eu nunca imaginara que existisse. Eles juravam que estavam cuidando de mim, mas eu me sentia cada vez mais fraca. O feitiço deles era mais poderoso que todos os feitiços de minha algoz. E se, no princípio, cheguei a pensar em fugir e atribuí ao medo da cidade desconhecida não tê-lo feito, aos poucos fui me sentindo mais fraca e desistindo de pensar em fugas. E me aconchegando cada vez mais nas novas ternuras com que o príncipe me consolava.

Até que o primeiro fio de cabelo caiu. E eu voltei a sentir o mesmo pavor que tive no dia do meu aniversário de doze anos, quando fui roubada de meus pais e trancada nesta torre sem escadas nem porta. A feiticeira tentou me tranquilizar: - hoje os médicos te explicarão que isso é o efeito do remédio, que esse é o único jeito capaz de te curar e que você deve ficar calma, depois do tratamento teu cabelo voltará a crescer ainda mais lindo do que já é. Eu não acreditei em uma única palavra do que ela disse, até ouvir os médicos repetirem cada uma delas. Só que, dessa vez, ao invés de crer na feiticeira, passei, sim, a desacreditar também dos médicos. Pude ver claramente que eles eram feiticeiros muito mais poderosos do que ela.

E, enquanto anoitecia, fui escovar meus cabelos, me preparando para receber meu príncipe. E minhas tranças caíam, mais rápidas que a noite, pelo chão do aposento da torre. Mesmo com lágrimas nos olhos, juntei todo o cabelo e fiz uma trança forte, que amarrei no trinco da janela e por onde meu príncipe mais uma vez subiu. Acho que vi surpresa e dor no seu olhar, ao se deparar comigo. Contei-lhe tudo e dessa vez ele não me mostrou novas ternuras. Não. O caso exigia uma solução imediata, temos que ser lógicos e práticos, foi o que ele me disse. E realmente, com muita lógica e prática, contou-me tudo que ia fazer, me tirando de uma vez por todas daquela torre, me livrando das garras da feiticeira e dos médicos e me levando para ser sua rainha, no palácio de seu reino, onde finalmente nós seremos felizes para sempre.

Como ele faria tudo aquilo? É o que tenho pensado. Meus dias não mudaram muito. Escovo bem minha trança, vou aos médicos com a feiticeira, continuo fazendo o tratamento e me sentindo cada vez mais fraca. Mas o pior mesmo são as noites. As noites vazias, desde aquela em que meu príncipe fez todas as promessas. Ele nunca mais voltou. Fico pensando no que pode ter acontecido. Será que os médicos e a feiticeira descobriram seus planos e o aprisionaram?

BARATA VOA - vale tudo, menos porrada –


POR ALICE BARREIRA

Querido irmão,
Aí vão os tais comentários. Pode publicar no Patavina’s. E parei de vez com os remédios, viu?
Baci
Alice.



Aumenta cada vez mais a conversa fiada de que o e book é um puta sucesso e vai já já superar o livro de papel. O que há é uma gigantesca máquina montada para vender essa e todas as outras traquitanas informatizadas que a indústria inventa. Ou alguém aí acredita que tecnologia cai do céu, é mais um milagre que Deus manda aqui pra Terra? As notícias que saem em toda a mídia dão a impressão de que estão simplesmente sendo atendidos os desejos das pessoas, que adoraram essas novas tecnologias. Conversa fiada. O que há é muita grana em publicidade, financiada por um grupo que vai faturar cada vez mais milhões e milhões de dólares, impondo sua vontade industrial goela abaixo da parte da humanidade que interessa a eles, que são os consumidores, com dólar suficiente no bolso e shit suficiente na cabeça pra ser feita de trouxa. Não há nem um milímetro de democracia no mundo dos negócios e da tecnologia.

Vi o documentário sobre a vida de John Lennon nos States. Chama “Os EUA VS John Lennon” e é muito bom. Pra quem não quiser continuar cego é uma boa chance de ver a escrotidão que se vende pelo mundo com o nome de democracia americana. A covardia americana contra um país pequeno e corajoso, que bota pra correr o Império mais filho da puta da história. E a covardia de um presidente americano, Nixon, que persegue o ex-beatle. Enquanto Lennon aprendeu uma porrada de coisas sobre o mundo real (como ele mesmo admite) e é perseguido pelo FBI, seu ex-parceiro Paul continuou sendo o babaca de sempre (e continua até hoje). Quanto a Yoko, qualquer semelhança com a perseguição de que foi vítima Elza Soares no Brasil, por amar Garrincha, não é mera coincidência.

Maninho, você viu que saiu o novo livro velho do Paulo Coelho? Chama-se O Aleph. O cara não se deu ao trabalho nem de escolher um título original, pelo menos. Copiou direto do Borges. Mas tá cheio de gente comprando. E ainda dizem que o Borges é que era cego.

Aliás, meu irmãozinho querido, também saiu o livro novo do teu amado Trevisan. Sinto te informar, mas o cara envelheceu e tá diluído em 400 copos dágua. Bom, mas vai reclamar do quê? Poucos estiveram tanto tempo no topo.

AVISO AOS NAUFRAGANTES


SEXTA NA QUINTA (NÃO CONFUNDIR COM QUINTA NA SEXTA)

SEXTA-FEIRA DE MADRUGADA é o nome do ótimo show em homenagem ao compositor Paulo Vanzolini que os cantores Lúcio Sanfilippo e Marina Iris fazem junto com o Grupo Coisa & Tal, que tem entre seus componentes o percussionista Chico Abreu. Vanzolini é um sujeito interessante, que costumava dividir seu tempo entre catar répteis na floresta amazônica e fazer sambas antológicos nos botequins de São Paulo. Além de ser um cientista de renome mundial, o cara é autor de Ronda e Volta Por Cima. É mole? O show visita esses sucessos e dá um balanço na produção de Vanzolini, mostrando até sambas de breque de sua autoria. Anotem aí as próximas datas: 2 e 9 de setembro, quintas feiras, às 21:30, no Bar do Tom, que fica lá no Leblon, ao lado da Churrascaria Plataforma (que todo mundo conhece). Clique aqui para mais informações.

LIVRARIA A DOMICÍLIO

Você quer qualquer livro, nacional ou importado, entregue no conforto de seu lar e ainda podendo pechinchar um descontinho? Pois a Livraria Garamond está oferecendo exatamente isso. Bom, não é? Você liga para 2221-6604 e fala com o Márcio ou a Bruna. Ou então entra em contacto pelo e mail livraria@garamond.com.br . Agora, se você é desses que prefere ir ao local do crime e passar um tempo folheando livros até escolher um ou mais títulos, pode ir conhecer a livraria, sem problemas. Ela funciona dentro do IFCS - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ –, no Largo. de São Francisco n° 1. E boa leitura!

OUTDOR - po+es+ia +v+is+ual



esquecimemor

CHIPS – o prazer da batata & o poder do circuito –

A CRIANÇA

A criança estava ali, adormecida, e eu andava muito lentamente para não acordá-la.

Aquele estado de torpor, aquela nuvem diante dos olhos, aquele lugar quase que suspenso no ar. Era um sonho. E a criança adormecida era eu mesmo.

Tentei despertá-la com ruídos casuais. Me aproximei, toquei em seu braço coberto pelo lençol, toquei sua mão, sacudi.

Então me dei conta. A criança estava morta.


A DOR

Ela sorriu, tirou o guardanapo do colo, chamou o garçom, pediu mais um vinho e disse que sim.

Eu estendi minha mão esquerda até tocar seu braço, aquele braço que tantas vezes, disse calmamente que ia embora para sempre, me levantei e caminhei lentamente para fora do restaurante e do seu sorriso.

É o que me dói até hoje.

TORNEI-ME UM

Na bebida busco esquecer, mas nem sempre foi assim. Eu buscava só me divertir. Esquecia também, mas sem querer. As noites de vodka. Às vezes acordava e não sabia como tinha chegado em casa. Depois comecei a acordar e ver que não tinha chegado em casa. Voltava com flores e presentes. Ela não reclamava. Continuávamos nos amando.

Um dia acordei todo ensanguentado. Tomei um puta susto. Enquanto verificava se não estava ferido, gritava por ela. Mas ela não me respondia. Levantei nervoso, gritando mais alto e assim que saí da cama tropecei e caí. Por cima dela. Estava deitada no chão, os pés pra debaixo da cama, o rosto cheio de sangue e a cabeça aberta, com os cabelos empastados e uma poça em volta. Aquelas coisas que a gente só vê em filme, só que muito pior, é claro.

Foi o pior dia da minha vida? Não sei. Limpei tudo, deixei chegar a madrugada e enterrei o corpo no quintal. De novo aquelas coisas todas de filme. E como em todo filme, eu seria descoberto. Não sou criminoso, não sabia fazer aquilo, certamente devo ter deixado um montão de pistas.

Mas não. Dei queixa na delegacia sobre seu desaparecimento e a polícia cagou e andou. Ninguém na família sonhou com a possibilidade de eu tê-la matado. Eu não tinha motivo nenhum. Nós éramos felizes. E eu nunca consegui me lembrar do que aconteceu naquela noite.

QUERIDO OUVINTE

Adoro ouvir histórias. É a única hora em que eu não tenho pressa nenhuma. Se levar o dia inteiro, aí é que eu me divirto mesmo. Quando eu era pequeno, minha avó contava para mim toda noite. Aqui é a mesma coisa. E todo mundo conta. Mesmo que no começo eu precise incentivar, com choque elétrico, palmatória e afogamento.

PATAVINA’S NEWS

- com Jean Prévert
nosso correspondente em Nova York -


Oi, Cesar,

Depois de um longo e tenebroso inferno, também conhecido como verão em Nova York, eis-me de volta à cidade. Saí do Morgan Library Museum, onde passei a manhã vendo iluminuras da Idade Média. Obras-primas produzidas pelo catolicismo, que você só julga capaz de exterminar dezenas de povos do Novo Mundo. Well, tô de altos, como a gente dizia brincando de pique em Quintino, subúrbio do Rio que você, garoto de Ipanema, talvez não conheça. Revejo o belo portão do Grand Central Terminal – essa porta de entrada da cidade – e já caminho por seus largos espaços à procura de um banco, onde já me sentei e comecei a batucar essas mal traçadas. Tenho notícias, meu caro. Vamos a elas?

Todos os jornais de escândalo da cidade não falam de outra coisa: John Kennedy não morreu! Isso mesmo que você está lendo. A nova teoria é a seguinte: Kennedy teria forjado a própria morte para fugir dos Estados Unidos com outro defunto famoso: ninguém menos que Marylin Monroe. (Eles não brincam em serviço, não é mesmo?) O casal teria se mandado num jatinho e estaria até hoje vivendo muito bem obrigado numa casa de campo às margens do Lago Van e sob as neves eternas do Monte Aratat, no interior da Turquia. Há fotos, ilegíveis o suficiente, é claro. Você já imaginou Marylin aos 84 anos cantando Happy Birthday dear presidente, para um Kennedy de 93 springs? Oh God!

Não sei se é para enfrentar a crise econômica, mas surgem novos empregos nesta paradisíaca ilha perdida bem em frente a esse país desagradável. O curador, essa figura paterna que tomou conta das artes plásticas e da grana que corre por lá, estica seus tentáculos a novas atividades. Sim, agora temos na cidade o curador para batizados, cirurgias e até para enterros. Com aqueles belos textos falando sobre os artistas, no caso bebês, doentes e mortos. Garantem as más línguas jornalísticas que daqui a pouco surgirá o curador para assassinatos. Quem viver – e portanto não for a vítima – verá.

Veja o que inventaram os desocupados de sempre (geniais desocupados). Pegaram Luzes da Cidade, uma das muitas obras primas de Chaplin, chamaram um mudo e pediram que ele fizesse leitura labial do que está sendo dito e não ouvimos, é claro, durante o filme. Pois bem, nas primeiras cenas Chaplin passa cantadas e mais cantadas em Virginia Cherril, que faz o papel da florista cega. Mas o tom vai mudando e ele acaba esculhambando com a atriz, dizendo que ela é péssima e que pensa em substituí-la. Pelo menos esta parte condiz com o que a história do cinema registra. Contam que Chaplin queria substituir Virginia por Georgia Hale, mas não teve dinheiro suficiente para isso.

Jean Prévert, de N. Y., para o Patavina’s.

THAT’S ALL, FOLKS!



- Põe a bênção na minha filha... seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com Dionóra que está tudo em ordem.

Últimas palavras de Augusto Matraga, já sussurrando, para João Lomba, seu velho conhecido. “Depois, morreu.”

PLEASE MISTER POSTMAN

Meu e mail: cesarcar@uninet.com.br

©Cesar Cardoso, 2010. Todos os direitos e esquerdos reservados. Que os piolhos infectados de 18 mil camelos infestem as partes pudendas de quem publicar algum texto daqui sem avisar nem dar meu crédito.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CAROS AMIGOS


Segue a minha crônica que está na revista Caros Amigos de julho, já nas melhores bancas do ramo. Neste número temos uma imperdível entrevista com Frei Betto, refletindo sobre as eleições, o Brasil de hoje e sua história e otras cositas. E mais o time de craques de sempre.

OS TUPINAMBÁS E A FORMAÇÃO DO NOVO MUNDO EUROPEU

Não foi por acaso que, em 1500, os Tupinambás saíram do porto do Rio de Janeiro e navegaram até as terras do Novo Mundo, batizando-as de Europa. Eles sabiam muito bem o que iam fazer por lá: levar o primeiro processo de globalização ao continente desconhecido.

É verdade que de início se limitaram à retirada do Pau-Europa, mas com o ciclo da beterraba iniciaram a produção de açúcar, que exportaram para todo o Velho Mundo, desde a Argentina até o Canadá. Junto com o lucro vieram os conflitos com os índios europeus – franceses, ingleses, portugueses, espanhóis e os temidos holandeses, que se aliaram aos Xavantes quando estes invadiram o Nordeste da Europa em 1630, liderados por Juruna de Nassau e sua Companhia Xavante das índias Ocidentais.

Nos anos 1700, para explorar o ouro descoberto no interior da Europa, os Tupinambás são obrigados a importar mão de obra estrangeira, já que a indolência do europeu o torna incapaz de trabalhar nas minas. É criado assim o tráfico negreiro para a Europa, que dura até 1888, quando os Tupinambás promulgam a Lei Áurea e dão liberdade a todos os escravos.

No século XX, chegam as guerras de independência, com Churchill, De Gaulle, Stalin e outros líderes terroristas sacudindo uma Europa até então pacífica. E se no século XXI já não há mais colônias, há os populistas como Sarkozy e Berlusconi oferecendo milagres à população.

Mas a dura realidade histórica é que nada disso altera o quadro do subdesenvolvimento europeu. Afinal, seria ele resultado de séculos de imperialismo tupinambá ou do inóspito clima frio do continente somado à preguiça natural dos índios, sejam eles ingleses, portugueses, franceses ou alemães?

O autor é historiador e leciona na University of Tchucarramãe.

LETRA DANDO SOPA / SOPA DANDO LETRA

& ANTUNES MAIS ARNALDO DO QUE NUNCA
& ARNALDO TÃO ANTUNES COMO SEMPRE


Cantor, compositor, poeta, escritor. Tudo isso é Arnaldo Antunes. E em qualquer coisa que faça ele é sempre um inventor. Como em seu novo livro de poemas “n.d.a.”. Ali temos poesia, poesia em prosa, em foto, em montagem, em desenho... Mas sempre com a marca inconfundível da invenção.Veja o texto abaixo sobre o ato de escrever. E depois trate de ir logo comprar o livro! Anda! Xispa!


Pessoas mudas escrevem pra falar. Analfabetos aprendem a escrever. Pessoas sem braços escrevem com os pés. Os surdos escrevem no ar com gestos. Os cegos escrevem com a voz no escuro. Pessoas que esquecem escrevem listas. Canhotos escrevem com a mão esquerda. Pessoas distantes escrevem cartas. O tempo escreve no rosto rugas. Nas palmas linhas, nas pintas pontos. E nas estrelas cadentes. E nas cadeias escrevem nas paredes. E nas carteiras de escola. Neurônios escrevem na memória. Os genes escrevem nos corpos vivos. A chuva que escorre escreve nos vidros. E os dedos nos embaçados. E nas cavernas traçados de antepassados. Bisontes, flechas, humanos, arcos. E os médicos nas receitas. Orientais usam outras letras. De cima a baixo, nas verticais. E começando sempre por trás. Nos livros, placas e nos mangás. Escreventes, escrivães, escritores, escribas. Uns tomam notas pra se lembrar. Uns fazem livros pra ser lembrados. Passos escrevem no chão com rastros. Corvos espalham nanquim no alto. Galinhas grafam bicando o chão. Migalhas fazem frases do pão. Palavras ditas morrem no ar. Em pedra escrevem nomes dos mortos. E em placas de rua. E quando o texto acaba a escrita continua.

Arnaldo Antunes em n.d.a. – Editora Iluminuras, 2010.



AUGUSTO MONTERROSO

O DINOSSAURO


Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.


Este texto, considerado o menor conto da literatura mundial é do guatemalteco Augusto Monterroso, que nasceu em 1921 e morreu em 2003. Entre uma data e outra fez muita coisa, inclusive um livro chamado “A Ovelha Negra e Outras Fábulas”, que no Brasil foi traduzido por Millor Fernandes, ilustrado pelo Jaguar e lançado pela Editora Record. “O Dinossauro” faz parte desta obra, que o Tio Google te conta como fazer para comprar, ok?

- LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –



Eu e o artista plástico Hélio Jesuíno fizemos o roteiro
dessa HQ que ele desenhou. Despeitável público,
com vocês, o Lobo Mau e Chapeuzinho Vermelho em “Pra Quê?”
(É só clicar sobre a página que ela aparece em tamanho legível, ok?)

CHIPS – o prazer da batata & o poder do circuito –

MATEMÁTICA MODERNA

Por Malbaratan - matemático e escritor, nascido no Curdistão, um país que não existe, e autor do livro O Homem que Descalculava.

João foi à feira com cinco reais e comprou duas couves, meia dúzia de laranjas e cinco tomates. Ficou com um real e setenta centavos de troco e, na volta para casa, foi atingido por uma bala perdida, morrendo na calçada antes da chegada de uma ambulância.

Joana foi ao shopping com um cartão de crédito e comprou dois tops, um par de sandálias e três batons. Gastou cento e vinte e quatro reais e setenta centavos e, na saída do shopping, foi atingida por uma bala perdida, morrendo sem que se tenha identificado o autor do disparo.

Sabendo-se que a morte de João saiu num canto da página dez e que a de Joana foi manchete de primeira página por uma semana;

Sabendo-se que o preço de um anúncio de jornal na primeira página é 178 por cento mais caro que o mesmo anúncio na página dez;

E sabendo-se que João e Joana estão mortos;

Responda:

Qual o valor da vida humana?

HOJE É DIA DE VISITA


Quem visita o Patavina’s hoje é o escritor e músico Thiago David. Com 23 anos, Thiago faz parte da banda 27, onde ele compõe, canta e toca violão. Carioca, Thiago também faz curta-metragens, está de mudança pra Salvador, onde vai concluir seu curso de comunicação, e continua escrevendo e compondo em qualquer lugar do planeta. Ele já foi corredor e hoje é gordinho. Mas isso já é uma conversa para a crônica aí de baixo. Leia e confira.

SER GORDINHO

Thiago David

Ser gordinho não é só viver em uma camisa apertada: É muito mais! Ser gordinho é sorrir todos os dias por não ser escravo dos exercícios aeróbicos e rir interminavelmente por saber que seus desejos, independente das calorias, serão consumados.

Ser gordinho é ser a pessoa mais confortável para se abraçar em qualquer ocasião. É ter sempre uma balinha de sobra no bolso e usá-la para começar conversas com estranhos. É poder rir da própria pança enquanto tira sarro de outro gordinho mais gordinho. É jogar futebol na defesa, ser o melhor zagueiro e achar graça de magricelos enfezados gritando nomes esféricos como crítica ao seu bom desempenho na vitória de quatro a zero. Ser gordinho é viver com leveza.

Ser gordinho é ser adorado por todas as mães e todas as avós que se deliciam ao ver seus pratos sendo devorados com gosto até o último grão de arroz. É ganhar uma roupa apertada de uma tia distante e afirmar que a roupa irá alargar com o tempo. É chegar ensopado do próprio suor em casa e saber que um banho e um ar-condicionado te deixarão novinho em folha. É poder beber quatro copos de uísque, cinco taças de champanhe e inúmeras latinhas de cerveja e não ficar tresloucado como brotinhos que só tomaram um cálice de vinho do porto. Ser gordinho é ouvir conselhos de moderação e ir para o cardiologista só para confirmar que as pontadas no peito eram gases.

Ser gordinho é morrer de preguiça de andar até a esquina em qualquer tarefa cotidiana, mas caminhar intermináveis quarteirões para comer um hambúrguer com os amigos em qualquer dia da semana. É saber que ovo já foi proibido e já foi liberado, que vacas comem capim e são suculentas. Ser gordinho é passar a manhã petiscando, comer alguns pratos no almoço, ficar triste por não ter sobremesa e fazer as contas de quanto tempo falta para a janta. Ser gordinho ir para o rodízio de pizza fazer competição de quem come mais fatias sabendo que vai ganhar e às vezes perder para um magrelo sem vergonha com metabolismo bichado.

Ser gordinho é ter o eterno bom humor de quem tem certeza que a vida deve ser degustada e saber que sua barriga é uma afirmação de sua personalidade. É compreender que Buda também foi gordinho e por isso que ele era tão gente boa. Ser gordinho é brincar com grávidas de quem está com mais meses, é ter mais peito do que pré-adolescentes, é ser o travesseiro perfeito para a namorada durante aquele filme em dia de frio. Ser gordinho é ser seu próprio casaco.

Ser gordinho é fazer da vida um farto buffet e saber que sempre terá algo a mais para ser provado.

(Inspirado na crônica "Ser Brotinho", de Paulo Mendes Campos)

RINHA DE GALINHA


Por Don King - nosso correspondente na Academia Brasileira de Letras e Artes Marciais

Well, dois peso-pesados ítalo-paulistanos se enfrentam।
Não vai sobrar porpeta sobre porpeta।
Que Nossa Senhora da Achiropita nos proteja!
E enquanto isso, o pau come na casa de Noca! Holly Shit!


Neste canto, com 70 quilos de puro italianismo, está Alexandre Marcondes Machado, o temível Juó Bananère, poeta paulista que escreveu numa enlouquecida mistura de italiano com português, criando uma língua pessoal e intransferível, e recriando poemas famosos de nossa tradição literária. Parodiou também La Fontaine e Machado, e até Dante, com La Divina Increnca (aliás, título de seu principal livro). Nasceu em 1892 e morreu em 33. A Editora 34 publicou “Juó Bananère, o Abuso em Blague”, onde Cristina Fonseca estuda a obra deste escritor e humorista. Lá, além da análise, podemos conhecer uma ótima seleção de textos de Juó.

MIGNA TERRA
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá.
As aves che stó aqui,
Tambê tuttos sabi gorgeá.

A abobora celestia tambê,
Che tê lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella
Che non tê na Ingraterra.

Os rios lá sô maise grandi
Dus rios di tuttas naçó;
I os matto si perde di vista,
Nu meio da imensidó.

Na migna terra tê parmeras
Dove ganta a galigna dangola;
Na migna terra tê o Vap'relli,
Chi só anda di gartolla.

Do outro lado do ringue está Adoniran Barbosa, com seus 68 quilos de puro samba. Filho de italianos, João Rubinato – seu nome de batismo –, nasceu em 1910, morreu em 1982, era compositor, cantor, humorista e ator de rádio, tv e cinema. Adoniran é um dos criadores do samba paulista – que muita gente pensa que não existe – e cantou uma São Paulo que hoje só se encontra em suas músicas e graças a elas. São lugares como Jaçanã, a Saudosa Maloca, o Brás, e personagens como Iracema, Arnesto, Pafunça, Joca e Matogrosso. Se o senhor não está lembrado, dá licença de contar...

SAMBA ITALIANO

(Falado:) Gioconda, pitina mia,
Vai brincar alí no mare í no fundo,
Mas atencione co os tubarone, ouvisto?
Capito, meu San Benedito?

(Cantado: ) Piove, piove,
Fa tempo que piove qua, Gigi,
E io, sempre io,
Sotto la tua finestra
E vuoi senza me sentire
Ridere, ridere, ridere
Di questo infelice qui
Ti ricordi, Gioconda,
Di quella sera in Guarujá
Quando il mare ti portava via
E me chiamaste
Aiuto, Marcello!
La tua Gioconda ha paura di quest'onda!

ESCRITORAS SUICIDAS

Já está no ar a edição 41 das Escritoras Suicidas ( http://www.escritorassuicidas.com.br ). Os temas? Memória de Futebol, Paródia e O Beijo da Mulher Aranha. Lillith Damm e Luci Collin são as convidadas da vez. E as belas fotos que ilustram os textos ficaram a cargo de Márcio Cabral de Moura. Aí vai uma breve mostra, pra dar o gostinho.

quando os homens choram
(de Memórias de Patty Flag)
patty flag


Luzes apagadas, cortina cerrada, cerveja na geladeira. 2002, uma falta imensa de Oromar, de uma discussãozinha tola, de explicar pra ele que não, eu não torceria para a Alemanha. Ele não entenderia e riria de mim se o Brasil marcasse primeiro, ou choraria se fosse a Alemanha a marcar — os homens são mais sinceros no futebol.

Lâmpada na geladeira, cortina apagada, cervejas cerradas. 1934, eu tinha oito anos quando a Alemanha ficou em terceiro lugar na Copa da Itália. Lembro bem de meu pai colado no rádio, a loja fechada, o mundo em suspensão — os clientes podiam esperar.

Luzes cerradas, cortina na geladeira, cervejas apagadas. 1938 foi o ano em que vi meu pai chorar duas vezes. A primeira, com a Alemanha saindo-se tão mal em campos franceses; a segunda, na Kristallnacht.

Meu pai que a Alemanha matou em um campo de concentração, quase morria quando a Alemanha entrava em um campo de futebol: não sobreviveu para ver a Alemanha Ocidental campeã em 1954. Alemanha Ocidental, Oriental, Muro de Berlim. Palavras com duplo sentido, mundo sem sentido algum.

Céu aberto, duzentos mil brasileiros em roupas de gala e juventude. 1950, duas horas após o gol uruguaio, Maracanã vazio, Guilherme, homem irretocável, trincava devagarinho sobre o concreto orgulhoso.

Fim de jogo, cortinas abertas. Ainda que o ensurdecedor Rio de Janeiro se incendiasse em festa, sua risada alta e inconfundível queimava minha pele. Oromar não perderia a piada.

Fim de jogo, cortinas abertas. O Kelle Wasse lentamente se afastava da costa, abrindo um Mar Egeu dentro de mim.

Meu pai era o triste capitão.


pelada
tati skor

A mão pequena e lisa, como que regida por um frenesi musical, não parava de ir e vir, ora ao doce receptáculo, ora aos lábios. Cá e lá. Lá e cá.

A língua ousava estender-se, acompanhando o ritmo surdo, procurando nuances de sabor em cada gota caçada com indizível prazer.

Dedos trabalhavam leves, umedecendo-se no líquido viscoso, trazendo-os à boca que, gulosa, os sugava sem nenhum decoro.

Os últimos e insistentes movimentos de cabeça denunciavam o final, um êxtase de sabor que jamais se desfaria em reminiscências.

Bons tempos aqueles, "limpando" a tigela de compota da vovó, depois do futebol.

used to love her
lilith damm


[Ao som de Used To Love Her, G'N'R]

Ela era gordinha, parecia um menino com aquele jeitão dela, mas eu gostava. Ria muito de suas frases imprevisíveis.

Nos acabávamos na cama como duas patifes, como duas assassinas.

Até que aconteceu. Eu não queria, mas ela veio sem tato nenhum, cravando aquele michê enorme no meu rabo.

Enfiei goela abaixo.

Fiquei em cima dela. Gritando, rasgando a carne dela, mordendo as orelhas e o pescoço, até a pele arroxear.

Ela se debatia, me arranhava com suas unhas roídas, me puxava os mamilos — e eu gozava vezes seguidas.

Ela demorou pra burro até ficar quietinha.

Saí do banho pronta pra uma noite que nem papai sonha possível. Preparava a primeira carreira quando lembrei do que tinha feito.

Ela estava na cama com o puta consolo estufando a traqueia. Puxei com força e acabei arrancando um dos caninos.

Achei melhor botar ela pra fora do apartamento antes que ficasse fria.
Mas primeiro, brinquei de salãozinho. Vesti e maquiei como se fosse uma boneca.

Carregar aquela gordinha bêbada pelos corredores tudo bem, mas descer aquele peso morto pelas as escadas, nem pensar.

Era uma decisão difícil, mas ninguém ia se meter no meu esquema.

Virei uns goles de Jack Daniel's, bati umas cavalas na mesa e cheirei até não sentir o maxilar.

Apoiei o traseiro dela no beiral da janela, lambi seu lóbulo e soltei.

Isso foi há três anos.

Acabo de sair de um centro de reabilitação para drogaditos. Namorei bastante as enfermeiras, mas elas só aprenderam a abrir as pernas.

Não vejo a hora de ser cravada no rabo. O problema é que agora sou de maior.

AVISO AOS NAUFRAGANTES

DESINFORMAÇÃO SELETIVA

É este o nome e o desejo do blog do escritor e humorista Tuca Zamagma. Na chamada: “como assinar o globo e receber, de graça, a folha e o estadão. Como tentar ler o primeiro sem jogar fora o segundo – ou vice versa e o terceiro. Como forrar o chão molhado com um, escorregar no outro, se estabacar e quebrar, em vez da coluna vertebral, todas as colunas invertebradas dos três. Como, entende? Como, me explique!!!” Entendeu? Então vai lá: http://tucazamagna.blogspot.com

É CRUMB NA VEIA

A qualidade do trabalho de Robert Crumb faz dele um clássico. Você pode comprar qualquer livro de Crumb que está se dando bem. Os dois últimos: Gênesis e Kafka. Crumb ilustrou várias histórias da Bíblia, com o texto original, sem nenhuma adaptação. E em Kafka, conta a vida e mostra trechos das principais obras do tcheco louco. Mas falar o que Crumb faz não adianta. Tem que ir lá no livro e curtir o trabalho de um dos grandes criadores contemporâneos.

THAT’S ALL, FOLKS!

“Cada qual cuide do seu enterro,
pois impossível não há.”

Última frase de Quincas Berro Dágua,
antes de desaparecer no mar da Bahia de Todos os Santos.

PLEASE MISTER POSTMAN

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