quarta-feira, 18 de agosto de 2010

“NÚNCARAS” – po+es+ia


COMIGO ME DESAVIM
Sá de Miranda

Comigo me desavim,
Sou posto todo em perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?

O português Francisco Sá de Miranda nasceu em Coimbra em 1481, foi contemporâneo de Camões e um dos poetas mais lidos do século 16. A lisboeta Maria Teresa Horta nasceu em 1937, fez parte do grupo Poesia 61 e publicou Novas Cartas Portuguesas, com Maria Velho e Isabel Barreno, livro que deu as autoras processos na (In)Justiça salazarista. E agora não vamos atrapalhar a conversa deles, deixemos os dois à vontade.

MINHA SENHORA DE MIM
Maria Teresa Horta

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

recusando o que é desfeito
no interior do meu peito

(Minha Senhora de Mim, Editorial Futura, 1974 - Lisboa, Portugal)

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