COMIGO ME DESAVIM
Sá de Miranda
Comigo me desavim,
Sou posto todo em perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
O português Francisco Sá de Miranda nasceu em Coimbra em 1481, foi contemporâneo de Camões e um dos poetas mais lidos do século 16. A lisboeta Maria Teresa Horta nasceu em 1937, fez parte do grupo Poesia 61 e publicou Novas Cartas Portuguesas, com Maria Velho e Isabel Barreno, livro que deu as autoras processos na (In)Justiça salazarista. E agora não vamos atrapalhar a conversa deles, deixemos os dois à vontade.
MINHA SENHORA DE MIM
Maria Teresa Horta
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
recusando o que é desfeito
no interior do meu peito
(Minha Senhora de Mim, Editorial Futura, 1974 - Lisboa, Portugal)
Nenhum comentário:
Postar um comentário