quarta-feira, 18 de agosto de 2010

- LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –


PEQUENO INDICIONÁRIO DE NUTILIDADES – FASCÍCULO 8

ABANDOLIM
[Do persa antigo بیستون
, pelo italiano amandolino]
Instrumento musical originário da antiga Pérsia e formado apenas por cordas duplas que se sustentam a si mesmas, sem nenhuma caixa que lhes dê apoio. As cordas são feitas de fibras extraídas dos rins do pássaro Simorgh, que vive nas Montanhas Elburz, ao norte do Mar Cáspio. Usado apenas em enterros, o abandolim tem o dom de ressuscitar os mortos, mas em troca leva uma outra pessoa da família, três dias depois do milagre. Dizem que Jesus teria tocado o abandolim para Lázaro.

DESANDORINHAR-SE
[ Do lat. Desirundinere ]
desverbo

Deixar de ser andorinha. De todos os tipos de andorinhas existentes – cerca de 350 – somente uma tem a capacidade de se desandorinhar, a Andorinha do Sétimo Círculo, que vive às margens do Rio Flegetonte. Ela consegue se transmutar em outros seres, como sapos, unhas, pilhas, tumores e objetos que se encontram nos contos de Júlio Cortazar. E é o único ser vivo que se metamorfoseia por simples diversão.

FOICE DE CARTAGO
[ Var. de fouce, derivado do latim falce. + do latim Cartagus]
É a foice que a morte carrega. Houve um tempo em que os deuses eram mortais como os seres vivos, mas só morriam quando golpeados pela Foice de Cartago, que então pertencia a Zeus. Cansado de escondê-la ou de criar escaramuças para se livrar de deuses com desejos assassinos e heróis humanos com sede de glória, Zeus deu a Foice de Cartago de presente à Morte, com a certeza de que ninguém mais procuraria aquele objeto por não querer se encontrar com sua nova dona. Mas Zeus se esqueceu que o sonho de todo herói é desafiar a morte. E por isso até hoje a Indesejada das Gentes tem que se ocupar em dar cabo de dúzias de generais, piratas, justiceiros e outros criminosos, além de diversos deuses menores em busca de ascensão no diversos céus. E ela se lamenta pelos corredores celestiais e dos infernos por ter tão pouco tempo para de dedicar ao que mais gosta de fazer: escolher sem pressa e ao acaso os seres humanos que vai buscar para a sua companhia.

GATURAMO DE VENEZA
[Do lat. Catturamu + do vêneto Venexia]
Ludicemne, a deusa das brincadeiras, queria alegrar seu filho Lusco-Fusco e trouxe para os jardinsde seu palácio todos os bichos de estimação da criança. Mas nada alegrava Lusco-Fusco. A deusa já não sabia o que fazer e seu único filho então lhe pediu para criar um novo animalzinho, misturando o tei-tei das gôndolas, um pássaro admirado por seu canto e suas cores, com o gato do Adriático. Ludicemne fez a vontade do filho, criando assim o Gaturamo de Veneza, um ser metade pássaro, metade gato, que sente uma incontrolável compulsão para se ferir o tempo todo. Lusco-Fusco adorou seu novo brinquedo e trancou-o numa gaiola de prata. Mas, como sempre, meia hora depois já estava reclamando daquele bicho burro, que não fazia mais nada além de cravar em si seu próprio bico, e foi embora dali, batendo o pé por mais diversão. Antes de ir atrás dos novos desejos do filho, Ludicemne teve pena do gaturamo de Veneza e abriu a porta da gaiola. O bicho voou rápido, foi atrás de Lusco-Fusco e furou seus dois olhos. Desde então, todos os gaturamos de Veneza vivem se escondendo pelas matas e só voam à noite, fugindo da vingança de Ludicemne.

PINGO DE GATO
[Do lat. vulg. pendico + do lat. cattu]
Expressão substantiva aquosa
Suor desses felinos, vertido durante a caça aos ratos. Quando esses animais copulam ainda suados dão origem aos gatos-pingados, que acompanham a morte e sempre rondam os lugares aonde ela vai recolher suas vítimas. Aquele que consegue enxergar um gato-pingado pode escapar da morte.

SONHOBRO
[Do lat. somniubrae]
Subst. onírico
Restos de sonhos que não chegamos a sonhar e ficam dentro de nós, envenenando-nos até levar-nos a uma morte lenta e dolorosa. No princípio o homem não sabia dormir, era dominado pela exaustão e morria antes de chegar à vida adulta. Até que um dia, nas florestas de pinheiros que circundam o Golfo de Riga, na Estônia, um garoto encontrou um sonho emaranhado entre os galhos de uma daquelas árvores e levou-o para o povoado onde morava. Maravilhados com aquela descoberta, todos foram para a floresta à procura de outros sonhos. Andaram dias e noites, se embrenhando entre os pinheiros sem nada encontrar e, nesse esforço contínuo, acabaram por adormecer, extenuados. Então sonharam. E, ao acordar, perceberam que precisavam dormir para pode sonhar. Desde então o homem passou a usar as noites para o sono. Mas a escuridão noturna dificulta que os sonhos consigam sair dos seres humanos. E daí se originam os sonhobros. Para se livrar deles, ao acordar deve-se beber um cálice de suor da égua da noite. Mas este animal habita as florestas de pinheiros que circundam não o Golfo de Riga real, na Estônia, mas um outro que só existe em nossos mais terríveis pesadelos. É lá que temos que ir para escaparmos da morte pelo sonhobro.

TREVISADO
[Do francês arcaico trevisée]
Adjetivo de fubá mimoso
Diz-se dos personagens de Dalton Trevisan que conseguiram fugir de seus contos e foram morar na verdadeira Curitiba. Só que eles não suportaram a nova vida e também não conseguiram mais voltar aos textos de onde haviam escapado. Agora vivem vagando à procura de outras Curitibas e tendo pesadelos onde são devorados por pássaros de cinco asas.

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