terça-feira, 29 de maio de 2018


MACUNAÍMA, HERÓI DE NOSSA GENTE

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente!”

Assim Mário de Andrade começa o romance-rapsódia Macunaíma – o herói sem nenhum caráter, obra central no modernismo brasileiro, com sua paródia e sua mistura antropofágica de nossos discursos literários e sociais.

A primeira edição do livro é de 1928 e teve míseros 800 exemplares. E a segunda levou quase dez anos para vir a público. Mas, como se reencarnasse as andanças épicas de seu personagem, Macunaíma vai “dandar pra ganhar vintém” e fazer coisas de sarapantar: vira filme, peça de teatro e samba-enredo.

Mário de Andrade

O filme, de Joaquim Pedro de Andrade, surge em 1969 e é considerado por muitos uma obra tropicalista. Heloísa Buarque de Holllanda afirma que “em Macunaíma, segundo Joaquim Pedro, tem-se a estória de um brasileiro que foi ´comido` pelo Brasil. Isto é, pelas relações de trabalho, pelas relações sociais e econômicas que ainda são basicamente antropofágicas. Resumindo, Joaquim afirma ser o seu Macunaíma um filme sobre consumo".

Grande Otelo, fazendo Macunaíma do cinema. 

Em 1978, o diretor Antunes Filho traz Macunaíma para o teatro, numa transposição que mantém a marca de criatividade e ousadia. Ao tom antropofágico, Antunes acrescentou um discurso poético, resgatado da própria obra e levado ao palco.

Cena da peça de Antunes Filho. 

Antes da peça, porém, em 1975, Macunaíma desfilou pela Portela, na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro do Rio. Foi no samba-enredo Macunaíma, herói de nossa gente, de David Corrêa e Norival Reis. Mas, como um gigante Pietro Pietra Piaimã, o Salgueiro derrotou nosso herói e venceu o carnaval daquele ano. A Portela chegou em quinto lugar. 

Portela leva Macunaíma para a avenida. 

Talvez cansado de tantas aventuras, nosso herói foi pro céu e virou a constelação da Ursa Maior. No samba, ele se despede assim:
Vou-me embora, vou-me embora
Eu aqui volto mais não
Vou morar no infinito
E virar constelação.

No livro, o próprio autor assume que é ele quem conta a história:
“E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a história. Por isso que vim aqui. Me acocorei em riba dessas folhas, catei meus carrapatos, ponteei na violinha e em toque rasgado botei a boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói de nossa gente.
Tem mais não.”

Mas, em se tratando de Macunaíma, sempre tem mais sim. Sabemos que a qualquer momento nosso herói reaparece. Tanto que a Editora Ubu acaba de lançar uma nova edição do livro, “trazendo as fontes indígenas utilizadas por Mário de Andrade durante sua composição”. Estão incluídos também prefácios inéditos do escritor e um glossário com o significado de cada uma das palavras indígenas que aparecem no texto. E o livro ainda é ilustrado por monotipias do artista plástico Luiz Zerbini.
Nova edição de Macunaíma: editora Ubu.