MACUNAÍMA, HERÓI DE NOSSA GENTE
“No
fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente!”
Assim
Mário de Andrade começa o romance-rapsódia Macunaíma – o herói sem nenhum
caráter, obra central no modernismo brasileiro, com sua paródia e sua mistura
antropofágica de nossos discursos literários e sociais.
A
primeira edição do livro é de 1928 e teve míseros 800 exemplares. E a segunda
levou quase dez anos para vir a público. Mas, como se reencarnasse as andanças
épicas de seu personagem, Macunaíma vai “dandar pra ganhar vintém” e fazer
coisas de sarapantar: vira filme, peça de teatro e samba-enredo.
![]() |
Mário de Andrade |
O
filme, de Joaquim Pedro de Andrade, surge em 1969 e é considerado por muitos
uma obra tropicalista. Heloísa Buarque de Holllanda afirma que “em Macunaíma, segundo Joaquim Pedro,
tem-se a estória de um brasileiro que foi ´comido` pelo Brasil. Isto é, pelas
relações de trabalho, pelas relações sociais e econômicas que ainda são
basicamente antropofágicas. Resumindo, Joaquim afirma ser o seu Macunaíma um
filme sobre consumo".
![]() |
Grande Otelo, fazendo Macunaíma do cinema. |
Em 1978, o diretor Antunes Filho traz Macunaíma
para o teatro, numa transposição que mantém a marca de criatividade e ousadia.
Ao tom antropofágico, Antunes acrescentou um discurso poético, resgatado da
própria obra e levado ao palco.
![]() |
Cena da peça de Antunes Filho. |
Antes da peça, porém, em 1975, Macunaíma
desfilou pela Portela, na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro do Rio.
Foi no samba-enredo Macunaíma, herói de nossa gente, de David Corrêa e Norival
Reis. Mas, como um gigante Pietro Pietra Piaimã, o Salgueiro derrotou nosso
herói e venceu o carnaval daquele ano. A Portela chegou em quinto lugar.
![]() |
Portela leva Macunaíma para a avenida. |
Talvez cansado de tantas aventuras, nosso herói
foi pro céu e virou a constelação da Ursa Maior. No samba, ele se despede
assim:
Vou-me embora, vou-me embora
Eu aqui volto mais não
Vou morar no infinito
E virar constelação.
No livro, o próprio autor assume que é ele quem
conta a história:
“E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra
vos contar a história. Por isso que vim aqui. Me acocorei em riba dessas
folhas, catei meus carrapatos, ponteei na violinha e em toque rasgado botei a
boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói
de nossa gente.
Tem mais não.”
Mas, em se
tratando de Macunaíma, sempre tem mais sim. Sabemos que a qualquer momento
nosso herói reaparece. Tanto que a Editora Ubu acaba de lançar uma nova edição
do livro, “trazendo as fontes indígenas
utilizadas por Mário de Andrade durante sua composição”. Estão incluídos também
prefácios inéditos do escritor e um glossário com o significado de cada uma das
palavras indígenas que aparecem no texto. E o livro ainda é ilustrado por
monotipias do artista plástico Luiz Zerbini.
![]() |
Nova edição de Macunaíma: editora Ubu. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário