sexta-feira, 15 de julho de 2011

CAIU NA REDE É PIXEL

MEUS OITO ANOS

o tempo entranhado no susto das unhas
jantamos com o bicho papão

na biblioteca da dor
o sino ressoa sem bater

pelas frestas das camas
embaixo do assoalho

atrás do olho esquerdo
caspa na lágrima que escapa

entre dedos e lembranças entre-tantos
renasce a cica triz na pele insone

grito frio de montanha russa
pesadelo e acordeon

cesar cardoso

IMPRESSÕES DIGITAIS

"LONGO TRECHO EM DECLIVE" DE A CHAVE DE CASA,
DE TATIANA SALEM LEVY

O livro de tatiana salem levy (boto em minúscula como ela botou na capa do livro) pega a(s) memória(s) de uma neta de judeus turcos, nascida em Lisboa, da mesma forma que a autora, e transforma numa história que agarra o leitor o leva em meio a uma montanha russa de emoções até... Até onde? Até onde nos leva a literatura? Vale a pena ler e descobrir. Ah, a chave de casa ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura 2008 como melhor livro de autor estreante. E é um lançamento da Editora Record.

Você não pode partir. [Por quê?] Porque não quero, não deixo, porque não é justo. Poderia argumentar que sou muito nova para perdê-la, que você é muito nova para partir. Que não sei caminhar sem um pouco do seu cheiro a me acompanhar, sem suas palavras doces e ternas a me acalentar. Que ainda não estou preparada para caminhar sozinha, que preciso de um pouco mais de tempo. Que preciso de muito tempo. De todo o tempo. Poderia argumentar que há ainda muitas coisas que não fizemos juntas. Que quando estiver triste não terei colo quente para me receber. Que quando tiver medo não poderei me esconder atrás da sua saia. Que não terei a quem dizer que te amo infinitas vezes, sem medo algum, sem receio. Porque só o nosso amor não tem medo. Poderia argumentar que há coisas que nunca lhe disse, coisas que quero dizer. Que você também deve ter histórias para me contar. Que quero você a meu lado para ouvir as aventuras que ainda viverei. Que quero você a meu lado quando eu publicar o meu primeiro livro. Que quero você a meu lado quando eu conhecer o meu príncipe encantado e com ele decidir que o amor é eterno. Que quero você a meu lado quando nascer o meu primeiro filho, e também o segundo e o terceiro. Poderia argumentar isso e mais, porque é infinito o meu desejo de que você fique. Da mesma maneira, sei que há argumentos para a sua partida, que a vida é assim, ela acaba, a morte sempre vem, cedo ou tarde. Mas recuso os argumentos que não venham de mim mesma. E é por isso que grito, esperneio: não parta! Não é justo! E é por isso que berro enquanto espanco o seu caixão de madeira polida: tirem a minha mãe daí! Lanço as mãos ao ar como os que não têm razão, como os únicos que têm razão, e repito: abram o caixão! Mas estão todos sem jeito e envergonhados: coitadinha dela, era tão próxima da mãe. Eles sentem pena mas não me ouvem. É um dia quente de sol, como não devem ser os dias em que partem pessoas queridas. Eles descem o caixão e com largas pás cavam a terra. Não há flores, elas não são permitidas. Há pedras. Eles cobrem o caixão com a terra, deixam você lá dentro, sozinha, e eu aqui fora, sozinha. Paro de gritar, mas me recobro da certeza de estar assistindo a uma grande injustiça, talvez a pior de todas. E penso que se você estivesse aqui tudo seria diferente, que se estivesse aqui certamente me ouviria, abriria o caixão e se tiraria de lá, você se levantaria e viria na minha direção, pegaria nos meus braços e me diria que não há porque sofrer. Se você estivesse aqui certamente secaria minhas lágrimas que caem agora, enquanto lhe dirijo a palavra e você não me escuta, você já não pode me escutar.


POR QUE ESCREVO?

Eu havia caído numa estrada sem volta. Até o dia da minha morte, podia ou não encontrar o sucesso de público, a fama, o dinheiro. Podia ou não ser adorado por multidões de leitores. Podia ou não ser entendido por meia dúzia de especialistas. Qualquer escolha profissional traz esses riscos, e você só fica seguro de que escolheu a carreira certa quando chega à conclusão de que mesmo que dê tudo errado terá valido a pena. De que o fracasso na tentativa ainda é motivo de orgulho, enquanto que ter passado a vida sem tentar seria uma humilhação insuportável, como se você fosse ridicularizado pelo seu próprio destino.

Personagem Pedro, em O Fazedor de Velhos, de Rodrigo Lacerda (CosacNaify).


NOVOS HAICONTOS DE ALICE BARREIRA

“Ei, maninho, mais três vômitos quentinhos saindo do forno onde me torro. Publica aí.”

Ela pediu, o público aplaudiu e aí vão: novos haicontos de minha irmã, Alice Barreira.

JOVEM GUARDA

Um dia, gatinha manhosa, eu prendo você.
Te tranco num quarto escuro. Arranco teus pelos à pinça. E as tuas unhas, uma a uma. Volto até a fumar, só pra tatuar meu nome na tua virilha, com a brasa do cigarro. Só de pensar, já fico aceso.
Quero ver você fazer manha então.

VOVÓ E OS RATOS

No dia de sua morte, minha avó acordou, tomou seu banho e o café da manhã, como sempre fazia. Mas, ao se levantar da mesa, foi direto para o quarto e de lá começou a esbravejar com os ratos que andavam pelo teto, entravam em seu armário, roíam suas roupas, os retratos da família e alcançavam até a fiação.
Durante todo o dia ela gritou até ficar rouca, mas os ratos riam e riam, pois sabiam que ela já estava morta e que eles nem existiam.

VIDA DE ARTISTA

- Próximo - chamou o descobridor de talentos.
Ele se aproximou: - eu sei tocar a Marselhesa peidando.
O descobridor de talentos acenou com a cabeça e ele peidou toda a Marselhesa. Muitos na fila manifestaram uma surda admiração.
- O que mais você faz? – perguntou o descobridor.
- Eu sei cinco idiomas. Inglês, francês, espanhol, russo e japonês.
- Peidando?
- Não, não. Eu falo esses cinco idiomas.
- E a quem pode interessar isso? Próximo.

Alice Barreira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

“NÚNCARAS” – po+es+ia

TÂNIA TOMÉ - A POESIA DE MOÇAMBIQUE NO BRASIL

“Tânia Tomé permite que o mundo escorra por suas pernas como uma semente líquida fundando a sede de um novo tempo”
Floriano Martins

“Moçambique, um dos países africanos de língua portuguesa menos conhecidos entre nós, é terra de excelentes poetas, como José Craveirinha, Reinaldo Ferreira, Glória de Sant'Ana, Noêmia de Sousa, Rui Knopfli, Sebastião Alba, Heliodoro Baptista, Luís Carlos Patraquim e Mia Couto – o único, entre tantos, a ter presença e obra amplamente divulgadas no Brasil.
Agora, o Poesia no SESI, evento promovido pela Firjan através do SESI-RJ, traz ao Brasil a grande revelação de Moçambique em música e literatura neste século XXI: a poetisa, cantora, pianista, declamadora e compositora Tânia Tomé, de 29 anos.”

Assim o evento Poesia no SESI nos apresenta a poeta moçambicana Tânia Tomé. Tânia está no Brasil e se apresentou em dois eventos no Rio de Janeiro, nos jardins da Biblioteca Nacional, junto com vários poetas cariocas num evento que fará parte de um documentário dirigido pelo poeta, jornalista e produtor cultural Claufe Rodrigues, e no Poesia no SESI, no Teatro Sesi, num recital de composições e poemas de sua autoria.
No Brasil, Tânia tem um livro publicado: Agarra-me o Sol por trás, outros escritos e melodias, lançado pela editora Escrituras em 2010, com prefácio de Floriano Martins. Veio agora à América Latina, para participar do Festival de Medellin, na Colômbia e desses dois encontros no Rio.
Em sua terra, Tânia produziu e realizou o primeiro DVD de poesia de Moçambique e criou o movimento Showesia que é um espetáculo de poesia, música e teatro e também uma associação cultural.
Para quem quiser conhecer mais do seu trabalho, aí vão alguns endereços: www.taniatome.com;
www.myspace.com/taniatome; www.showesia.com; www.showesiafestival.com.

E agora, a poesia de Tânia Tomé.

SERMENTE

E se Paul Celan
me entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente

SE O MEU PESCADOR PESCASSE

Se o meu pescador me pescasse
pelo arpão me agarrasse os versos
um a um, sem pressa
a melhor palavra do mar...

Mas em que lugar da asa
a palavra poderia ser mais bela?
Com que cheiro? Com que sabor?
Onde seria o lugar do sol
Com que cor? Com que brilho?

E sei que hei de escolher
depressa mas devagar
a palavra mais carnuda para comer
E vou comer intensamente
Com toda forca dos meus (d)entes
na ponta dos dedos
as palavras que não me calo
E um peixe com asas
Há de nascer
E há de pescar-me no alto
o pescador
Espero

ENCANTAMENTE

Uma confusão de dedos
procurando as mãos
da menina
— Onde estão, mãe,
as minhas asinhas da loucura?

A PALAVRA

A palavra quer deitar-se
sozinha, reflexa
contemplar devagar
o sol morre ao silêncio
Não há pressa, não há medo
A palavra quer morrer
quantas vezes for preciso

POESIA TU ÉS O MEU CANTO

Tu és o meu cisne
no urgir das asas.
És o meu ângulo saliente
lírio no tanto que falta
por a vida não ser o bastante.
Poesia,
de pétala em pétala
de silêncio,
canto-te.

ÁFRICA INEXPLORADA

Eu sou a parte de toda África
Ainda inexplorada
Onde batuque
Se auto musica
No orvalho terrestre
Nas águas ainda mudas
Que correm a mutação
Das savanas e das pestes
Eu sou África ainda pura
Que nos seus campos virgens
Ainda adora o sol
E o canta pentatónica
Com a felicidade de existir
Sou África em cada pedaço de mim
E cada pedaço de mim a existir
Mupipi sobrevoando o grão
Urdindo o cântico litúrgico
Da utopia nas sementes
Marrabentando o futuro
Com mesmo sol dendêm
Das acácias e das palancas
Das palmeiras alcançando o céu
Eco ritmando o mistério e o feitiço
Da mãe ventrando a terra una
E da mão carne e alma de mulher
Eu sou a África profunda
Nos montes e ilhas
Que clamam os quatro ventos
Do sonho e dos horizontes
Que nos escorrem pelos dedos
No desacredito dos desertos
E das rochas esquecidas
Sou eu África fecunda
Que te escrevo
No sabor do lirismo que nos une
Na poesia dos povos
Neste exotismo de ânsias
Que nos sonha
Parte da África ainda inexplorada.

UM PIANO, MINHA LOUCURA E EU

Um piano
cogita no silêncio das noites,
arrepia em notas soltas
a desenfreada falésia do desejo.
Ah, estares-me ausente!
Reverbera o saxofone, o teu,
e eu galgando o tempo na lua,
ah amor, cruzo savanas, trópicos e desertos.
E tu comigo, cá dentro, lá fora
amando-me na medida do ritmo
de um jazz cálido e frenético.
Abraço do Índico, o piano
atravessa as fronteiras que nos distam,
recria o sopro do teu sax
no meu corpo.
A boca, as mãos, os teus dentes
no meu lóbulo, o piano
é todo o futuro por vir,
uma pintura quieta como um pomo,
o pêssego que adoça
o som que há no silêncio:

MEU MOÇAMBIQUE

Minha África suburbana.
Eu sei-me Moçambique,
cisterna no pecúlio dos deuses.
Um Zambeze inteiro escala a língua
escorre-me pelas pernas
ramifica nos canhoneiros,
laça os peixes inquietos nas sementes
engolfa-se nos mpipis bêbados nas timbilas.
Eu sei-me Moçambique,
no cume das árvores, na sede incontinente
da minha falange, do Rovuma ao Incomati,
no xigubo terrestre dos pés descalços
e em todos os tambores que surdem
das mãos coloridas nos braços em chaga.


A LÍNGUA NUA DE OSWALDO MARTINS

O poeta Oswaldo Martins Acaba de lançar pela 7Letras um novo livro: Língua Nua, numa parceria com as ilustrações de Elvira Vigna. No prefácio, Júlio Diniz fala dessa parceria:

“A noção de parceria, em particular no campo das artes, tem sofrido constantes modificações. Realizar um projeto que envolve distintas mãos não se resume a uma soma de esforços e busca de complemento. Mais do que isso, a necessária comunhão entre linguagens e estruturas distintas se afirma na suplementaridade de suas diversidades e objetivos.

Há uma tradição de diálogo já firmada entre o livro e as artes plásticas, em especial o desenho e a pintura. São inúmeros os exemplos de clássicos da literatura ocidental ilustrados por artistas consagrados. Mas poderíamos ainda afirmar que traços, figuras e formas apenas ilustram e adornam a obra, a escritura, o corpo textual?

Se tomarmos como exemplo uma das edições de Les fleurs du mal de Baudelaire, primorosamente rasurado pelo delicado traço de Matisse, veremos que há muito não se aplica a esse constructo de artistas conceitos como ilustração e adorno. Matisse relê Baudelaire e reescreve em níveis distintos e suplementares as suas/dele flores do mal.

A constatação exposta acima aplica-se com propriedade ao livro Língua nua, uma bem urdida trama de conceitos, textualidade e imagens poéticas concebida e construída por dois artistas contemporâneos. A parceria entre o poeta Oswaldo Martins e a desenhista Elvira Vigna reafirma a vocação desta obra para a dialogia, a pluralidade e o apagamento de fronteiras rígidas entre diferentes estéticas.”

E concluí: “O resultado final é produto de uma refinada artesania de palavras e imagens. Os traços dos desenhos de Elvira adentram e se confundem no corpo dos poemas de Oswaldo, provocando distintas leituras sobre o lugar do erotismo no espaço dos afetos. Uma parceria em tom maior, sem dúvida.”

A seguir três textos e uma ilustração de Língua Nua.

10

este o abismo da alma o andar medido os anos revoluteiam no corpo revoltos versos estancados em medida o ocaso de um soneto talvez e mais talvez o passo com que meço no espaço o ritmo da mão trêmula e ávido sob este papel em restauração de noites tontas ao som de um religioso bach que alertasse para a dúctil ubiquidade da alvorada preludio com a alma gasta em todas as vírgulas as dobras da vulgata


 
exilada
de meus desejos

crio em mim
homens calcinados

para lembrá-los
da paixão

que nos invejam
os deuses

////

por isso me arrasto
sobre a terra
ganem vitupérios

para ainda provar
o gozo

da desobediência
foi que clamei


A PRÁXIS POÉTICA DE MÁRIO CHAMIE

1. Lavra-Lavra lança e instaura o poema-práxis.
2. Que é o poema-práxis? É o que organiza e monta, esteticamente, uma realidade situada, segundo três condições de ação: a) o ato de compor; b) a área de levantamento da composição; c) o ato de consumir.

Assim começava o Manifesto Poema-Práxis, um posicionamento poético e estético lançado pelo poeta Mário Chamie em 1962, como posfácio de seu livro Lavra-Lavra (Prêmio Jabuti /1962) e em discordância direta com o Concretismo. Dos anos 60 pra cá as vanguardas passaram e foram passadas, Mário continuou poeta e também virou político controverso, sendo secretário de cultura de Paulo Maluf e tendo criado a Pinacoteca Municipal, o Centro Cultural São Paulo e o Museu da Cidade de São Paulo. Na manhã do dia 3 deste mês, um domingo, Mário Chamie morreu em São Paulo, aos 78 anos. “Suas experiências são interessantes como tentativa de manter a tradição do Modernismo, sem renunciar ao espírito de vanguarda”, disse sobre ele e o Movimento Práxis o crítico Antonio Candido. Chamie lançou mais de dez livros de poesia. Então, vamos aos seus versos.

PLANTIO

Cava,
então descansa.
Enxada; fio de corte corre o braço
de cima
e marca: mês, mês de sonda.
Cova.

Joga,
então não pensa.
Semente; grão de poda larga a palma
de lado
e seca; rês, rês de malha.
Cava.

Calca
e não relembra.
Demência; mão de louco planta o vau
de perto
e talha: três, três de paus.
Cova.

Molha
e não dispensa.
Adubo; pó de esterco mancha o rego
de longo
e forma: nó, nó de resmo.
Joga.

Troca,
então condena.
Contrato; quê de paga perde o ganho
de hora
e troça: mais, mais de ano.
Calca.

Cova:
e não se espanta.
Plantio; fé e safra sofre o homem
de morte
e morre: rês, rés de fome
cava.

O TOLO E O SÁBIO

O sábio que há em você
não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.

Sabe que não se vê
o tolo que não sabe
o que há de sábio em você.

Mas do tolo que há em você
não sabe o sábio que você vê.

AUTO-ESTIMA

Sou Chamie,
venho de Damasco.
Franco-egípcio
é o meu passado.
Sírio sou helenizado.

De Damasco
ao meu legado,
sou católico
e islâmico,
copta apostólico
catequizado.

No pórtico
mediterrânico,
sou ático e arábico.
Vou contra o deserto
de desafetos contrários.

Sem custo nem preço
que se meça,
em nome de meu gênio
atlântico e adriático,
desprezo a cabeça
e a sentença
de meus adversários,
adversos e vicários.

Sou Chamie, Mário.
Franco-egípcio
é o meu passado.
Por onde entro,
venho de Damasco
pela porta
do apóstolo Paulo.
Sírio sou helenizado.
Venho de Damasco,
por onde saio.

POR TRÁS DA PALAVRA

Por trás
de toda palavra
há uma trama
cavada.
Só não se cava
nem se sagra
a palavra
enclausurada.

A clausura
da palavra
é a palavra
lacrada;
é a usura
da palavra
que não abre
suas veias
se se envenena
de nada.

Só se salva
a palavra
contaminada
por outra palavra
sangrada:
— pois a palavra
infectada
pelo que outra
desata
é a palavra
que em sua casca
se rasga
contra o nada
da palavra
enclausurada.

Por trás
de toda palavra
que não se perde
lacrada
há a trama envenenada
de toda palavra
tramada.

AVISO AOS NAUFRAGANTES

SAUL STEINBERG: AS AVENTURAS DA LINHA


O Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, está com uma das melhores exposições do ano, da década ou do século, no Brasil, no Ocidente, ou no planeta. Saul Steinberg: as aventuras da linha traz 111 desenhos do artista gráfico romeno, que viveu na Itália e nos EUA. A exposição apresenta obras que Steinberg produziu de 1940 a 1960. Muito conhecido por seus trabalhos na revista norte-americana The New Yorker, Saul Steinberg mostra muito mais nesta exposição. Tem-se uma visão geral da visão tão particular de Steinberg, inclusive com trabalhos que ele fez quando de sua visita ao Brasil para a exposição no MASP, em 1952.

“Steinberg costumava trabalhar um tema ou motivo até esgotá-lo, produzindo longas séries de variações gráficas”, diz a curadora Roberta Saraiva. E a mostra realmente reúne inúmeros cowboys, trens, monumentos fictícios, pássaros, gatos e bichos sem nome, mulheres em casacos de pele, desfiles, desenhos de arquitetura, bombardeios e falsos documentos (passaportes e diplomas com assinaturas ilegíveis, selos e carimbos que Steinberg colecionava). O cara é um gênio e a exposição é simplesmente imperdível. Fica no Rio até 21 de agosto e reabre na Pinacoteca, em Sampa, em 3 de setembro. Ah! E ainda tem um super catálogo com as obras expostas e o livro de memórias de Saul Steinberg, Reflexos e sombras, resultado de conversas e mais conversas do desenhista com seu amigo, o escritor italiano Aldo Buzzi, que depois transcreveu tudo e editou.

O que que você ainda tá fazendo aí? Larga esse computador e vai logo ver essa exposição, PÔ!



ÁFRICA DIVERSA: I ENCONTRO DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO RIO

“O projeto ‘África Diversa: I Encontro de Cultura Afro-Brasileira’ traz uma programação que inclui shows, apresentações, oficinas, mini-cursos, contações de histórias, mostra de cinema, livraria, lançamentos de livros, palestras e um seminário; no intuito de mostrar um panorama da diversidade cultural afro-brasileira e africana.
As atividades vão privilegiar em sua abordagem os seguintes temas: a formação de identidades da cultura afro-brasileira, sua diversidade cultural, a relação entre tradição e contemporaneidade, o diálogo África-Brasil e a importância da transmissão oral nestas sociedades.
O primeiro encontro será de 18 a 22 de julho de 2011 e será realizado no Centro Municipal de Artes Calouste Gulbenkian, na Praça Onze, com artistas como Naná Vasconcelos (PE), François Moïse Bamba (Burkina Faso), Raíz de Polon (Cabo Verde). No dia 17 de julho, dia anterior à abertura oficial, dois cortejos bastante simbólicos - a Guarda de Moçambique de Nossa Senhora das Mercês e a Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário da cidade de Oliveira, Minas Gerais - que cantam e dançam uma tradição iniciada antes de 1888, mas que hoje ainda se encontra viva e em constante movimento, farão cortejos pela cidade do Rio de Janeiro. Em Copacabana, estes grupos vão encontrar o mar, cantando e louvando as tradições de Nossa Senhora do Rosário, surgida das águas. Já na Praça XV, local da assinatura da lei que libertou os escravos, os tambores, gungas e patangomes - instrumentos utilizados pelos Congadeiros - vão mostrar a força da cultura negra.
Dentro da programação do "África Diversa", criamos um Seminário que inclui duas mesas, três mini-cursos e oito oficinas para a formação de 120 educadores, com a participação de nomes como Alberto da Costa e Silva, Nei Lopes, Emanoel Araújo. Esta ação vai colaborar na demanda da abordagem de questões ligadas à cultura afro-brasileira em sala de aula, trazendo novas questões, olhares e reflexões sobre essa temática no Brasil e na África, rememorando a nós, brasileiros, quem somos e os diversos caminhos, experiências e realidades que encontramos do lado de lá e de cá do Atlântico.”

Daniele Ramalho / Curadoria

E pra quem quiser mais informações: www.africadiversa.com.br .

“...VEM SURGINDO DE TRÁS DAS MONTANHAS AZUIS, OLHA O TREM!”

O Trem é “o jornal de Itabira que o Brasil lê e admira”. E sua nova edição traz: uma entrevista exclusiva com Cacá Diegues. Um texto poético de Altivo, irmão de Carlos Drummond de Andrade. Olavo Pimenta e a boina que ganhou de Fidel Castro, em Havana. Povo de Mariana indignado com a empresa Vale, que quer reativar uma mina na cidade. Guido Bilharinho preocupado com a sujeira espacial. E muito mais.

A assinatura anual custa 60 reais. Para assinar: 31 3835-1329 ou otremitabirano@yahoo.com.br. E os Assinantes em todo o Brasil recebem pelo Correio. Fora do país, em PDF.

GERMINA AINDA GERMINA

Já está no ar o novo número de Germina, a revista eletrônica germinada por Silvana Guimarães e Mariza Lourenço. Vale a pena conferir em www.germinaliteratura.com.br. E eu reproduzo aqui o recado das editoras.

“Amigos, leitores e colaboradores: a Germina vai parar por um ano. Podemos voltar em julho de 2012. Ou não. Nesse período a revista continua no ar e o blogue será atualizado semanalmente. Talvez aconteçam edições extraordinárias. A gente entra em contato. E agradece a atenção e a preferência de vocês.

Um abraço,
Mariza Lourenço & Silvana Guimarães
Editoras”

Vão deixar saudades, minhas queridas amigas.

PRÓXIMA ESTAÇÃO: LETRAS

A Estação das Letras, no Rio, continua apostando na literatura. Vejam aí alguns de seus próximos eventos.

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS – curso que propõe uma leitura integral do livro de Lewis Carroll, que continua polêmico por sua insolência, lógica e independência. O livro será comentado e estudado passo a passo pela poeta e ensaísta Suzana Vargas e pela psicanalista e educadora Maria Helena Lemgruber. De 18 a 21 de julho, das 18:20 às 20:20 hs.
LABORATÓRIO DE VIVÊNCIA LITERÁRIA - acontece no dia 16, das 10h às 16h, com o escritor Luiz Ruffato, fazendo uma reflexão sobre o ato de escrever.
MERGULHO DA ESCRITA - do dia 18 ao dia 22 de julho, das 18h às 20h, Silvia Carvão propõe exercícios para ajudar a desbloquear a espontaneidade ao redigir.
RODAS DE LEITURA - (Na Fundação Biblioteca Nacional - Auditório Machado de Assis - Rua México s/nº. Sempre a partir das 18h.)
11 de julho - James Joyce - Estética da vanguarda ficcional: introdução a Ulisses por Léo Schlafman.
8 de agosto - Reinaldo Moraes - Leitura de Pornopopéia: do gozo ao risco, do risco ao riso.
LIVROS NA MESA - encontro informal em que a troca de livros e de idéias é a tônica. Após as trocas, começa o encontro de leitura com escritores ou pesquisadores e personalidades do mundo dos livros.
Em 30 de julho, às 14h30 - Troca de livros; e das 15h às 16h30 Encontro de Leitura: Em busca do tempo de Proust, com Auterives Maciel.

Para a programação de cursos do semestre clique aqui. A programação completa está no www.estacaodasletras.com.br. Informações pelo telefone (21) 3237-3947.

RINHA DE GALINHA

     Por Don King - nosso correspondente na Academia Brasileira de Letras e Artes Marciais


Mais um duelo de titãs. E dessa vez é um duelo-ménage, de três. Wallll! No corner da direita, Rodrigues Lobo (1579-1621), o Demolidor de Lisboa, que foi considerado um dos maiores discípulos de Camões e um mestre do Barroco na literatura portuguesa. No soneto Fermoso Tejo Meu ele canta o rio de sua aldeia, que o engoliria anos depois num naufrágio. No corner da esquerda, Gregório de Mattos (1636-1695), O Boca Maldita, que não liga pra morte de Rodrigues Lobo e conversa com ele em Triste Bahia, cantando a terra que também o engoliria. E no terceiro corner do rio, surge, séculos mais tarde, Caetano Veloso cantando Gregório. Cantará um dia Rodrigues Lobo? Ninguém sabe e o pau come na casa de Noca. Holly shit!

Fermoso Tejo meu, quão diferente

Fermoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente!

Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!

Mas lá virá a fresca Primavera:
Tu tornarás a ser quem eras dantes,
Eu não sei se serei quem dantes era.

Rodrigues Lobo

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Gregório de Mattos


 
Triste Bahia, poema de Gregório de Mattos musicado por Caetano Veloso. (Fonte: You Tube).

PREPARE O SEU ORELHÃO PRAS COISAS QUE EU CANTAR

Duas divas da canção: Billie Holiday e Elza Soares.
Duas mulheres negras que sofreram na pele.
E cantam, com suas dores e alegrias nas vozes.
E como cantam!
Fazem bem demais.
(E Elza faz com o auxílio luxuoso de Chico Buarque.)






Os cidadãos no Japão fazem
Lá na China um bilhão fazem
Façamos, vamos amar
Os espanhóis, os lapões fazem
Lituanos e letões fazem
Façamos, vamos amar
Os alemães em Berlim fazem
E também lá em Bonn
Em Bombaim fazem
Os hindus acham bom
Nisseis, níqueis e sanseis fazem
Lá em São Francisco muitos gays fazem
Façamos, vamos amar
Os rouxinóis nos saraus fazem
Picantes pica-paus fazem
Façamos, vamos amar
Uirapurus no Pará fazem
Tico-ticos no fubá fazem
Façamos, vamos amar
Chinfrins, galinhas afim fazem
E jamais dizem não
Corujas sim fazem, sábias como elas são
Muitos perus todos nus fazem
Gaviões, pavões e urubus fazem
Façamos, vamos amar
Dourados no Solimões fazem
Camarões em Camarões fazem
Façamos, vamos amar
Piranhas só por fazer fazem
Namorados por prazer fazem
Façamos, vamos amar
Peixes elétricos bem fazem
Entre beijos e choques
Cações também fazem
Sem falar nos hadoques
Salmões no sal, em geral, fazem
Bacalhaus no mar em
Portugal fazem
Façamos, vamos amar
Libélulas em bambus fazem
Centopéias sem tabus fazem
Façamos, vamos amar
Os louva-deuses com fé fazem
Dizem que bichos de pé fazem
Façamos, vamos amar
As taturanas também fazem
com um ardor incomum
Grilos meu bem fazem
E sem grilo nenhum
Com seus ferrões os zangões fazem
Pulgas em calcinhas e calções fazem
Façamos, vamos amar
Tamanduás e tatus fazem
Corajosos cangurus fazem
Façamos, vamos amar
Coelhos só e tão só fazem
Macaquinhos no cipó fazem
Façamos, vamos amar
Gatinhas com seus gatões fazem
Tantos gritos de ais
Os garanhões fazem
Esses fazem demais
Leões ao léu, sob o céu, fazem
Ursos lambuzando-se no mel fazem
Façamos, vamos amar
Façamos, vamos amar


Let’s Do It (Let’s Fall In Love), de Cole Porter e a versão brasileira que não é Herbert Richers e sim Carlos Rennó: Façamos: Vamos Amar.

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