Quem visita o Patavina’s hoje é o escritor e músico Thiago David. Com 23 anos, Thiago faz parte da banda 27, onde ele compõe, canta e toca violão. Carioca, Thiago também faz curta-metragens, está de mudança pra Salvador, onde vai concluir seu curso de comunicação, e continua escrevendo e compondo em qualquer lugar do planeta. Ele já foi corredor e hoje é gordinho. Mas isso já é uma conversa para a crônica aí de baixo. Leia e confira.
SER GORDINHO
Thiago David
Ser gordinho não é só viver em uma camisa apertada: É muito mais! Ser gordinho é sorrir todos os dias por não ser escravo dos exercícios aeróbicos e rir interminavelmente por saber que seus desejos, independente das calorias, serão consumados.
Ser gordinho é ser a pessoa mais confortável para se abraçar em qualquer ocasião. É ter sempre uma balinha de sobra no bolso e usá-la para começar conversas com estranhos. É poder rir da própria pança enquanto tira sarro de outro gordinho mais gordinho. É jogar futebol na defesa, ser o melhor zagueiro e achar graça de magricelos enfezados gritando nomes esféricos como crítica ao seu bom desempenho na vitória de quatro a zero. Ser gordinho é viver com leveza.
Ser gordinho é ser adorado por todas as mães e todas as avós que se deliciam ao ver seus pratos sendo devorados com gosto até o último grão de arroz. É ganhar uma roupa apertada de uma tia distante e afirmar que a roupa irá alargar com o tempo. É chegar ensopado do próprio suor em casa e saber que um banho e um ar-condicionado te deixarão novinho em folha. É poder beber quatro copos de uísque, cinco taças de champanhe e inúmeras latinhas de cerveja e não ficar tresloucado como brotinhos que só tomaram um cálice de vinho do porto. Ser gordinho é ouvir conselhos de moderação e ir para o cardiologista só para confirmar que as pontadas no peito eram gases.
Ser gordinho é morrer de preguiça de andar até a esquina em qualquer tarefa cotidiana, mas caminhar intermináveis quarteirões para comer um hambúrguer com os amigos em qualquer dia da semana. É saber que ovo já foi proibido e já foi liberado, que vacas comem capim e são suculentas. Ser gordinho é passar a manhã petiscando, comer alguns pratos no almoço, ficar triste por não ter sobremesa e fazer as contas de quanto tempo falta para a janta. Ser gordinho ir para o rodízio de pizza fazer competição de quem come mais fatias sabendo que vai ganhar e às vezes perder para um magrelo sem vergonha com metabolismo bichado.
Ser gordinho é ter o eterno bom humor de quem tem certeza que a vida deve ser degustada e saber que sua barriga é uma afirmação de sua personalidade. É compreender que Buda também foi gordinho e por isso que ele era tão gente boa. Ser gordinho é brincar com grávidas de quem está com mais meses, é ter mais peito do que pré-adolescentes, é ser o travesseiro perfeito para a namorada durante aquele filme em dia de frio. Ser gordinho é ser seu próprio casaco.
Ser gordinho é fazer da vida um farto buffet e saber que sempre terá algo a mais para ser provado.
(Inspirado na crônica "Ser Brotinho", de Paulo Mendes Campos)
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