quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ESCRITORAS SUICIDAS

Já está no ar a edição 41 das Escritoras Suicidas ( http://www.escritorassuicidas.com.br ). Os temas? Memória de Futebol, Paródia e O Beijo da Mulher Aranha. Lillith Damm e Luci Collin são as convidadas da vez. E as belas fotos que ilustram os textos ficaram a cargo de Márcio Cabral de Moura. Aí vai uma breve mostra, pra dar o gostinho.

quando os homens choram
(de Memórias de Patty Flag)
patty flag


Luzes apagadas, cortina cerrada, cerveja na geladeira. 2002, uma falta imensa de Oromar, de uma discussãozinha tola, de explicar pra ele que não, eu não torceria para a Alemanha. Ele não entenderia e riria de mim se o Brasil marcasse primeiro, ou choraria se fosse a Alemanha a marcar — os homens são mais sinceros no futebol.

Lâmpada na geladeira, cortina apagada, cervejas cerradas. 1934, eu tinha oito anos quando a Alemanha ficou em terceiro lugar na Copa da Itália. Lembro bem de meu pai colado no rádio, a loja fechada, o mundo em suspensão — os clientes podiam esperar.

Luzes cerradas, cortina na geladeira, cervejas apagadas. 1938 foi o ano em que vi meu pai chorar duas vezes. A primeira, com a Alemanha saindo-se tão mal em campos franceses; a segunda, na Kristallnacht.

Meu pai que a Alemanha matou em um campo de concentração, quase morria quando a Alemanha entrava em um campo de futebol: não sobreviveu para ver a Alemanha Ocidental campeã em 1954. Alemanha Ocidental, Oriental, Muro de Berlim. Palavras com duplo sentido, mundo sem sentido algum.

Céu aberto, duzentos mil brasileiros em roupas de gala e juventude. 1950, duas horas após o gol uruguaio, Maracanã vazio, Guilherme, homem irretocável, trincava devagarinho sobre o concreto orgulhoso.

Fim de jogo, cortinas abertas. Ainda que o ensurdecedor Rio de Janeiro se incendiasse em festa, sua risada alta e inconfundível queimava minha pele. Oromar não perderia a piada.

Fim de jogo, cortinas abertas. O Kelle Wasse lentamente se afastava da costa, abrindo um Mar Egeu dentro de mim.

Meu pai era o triste capitão.


pelada
tati skor

A mão pequena e lisa, como que regida por um frenesi musical, não parava de ir e vir, ora ao doce receptáculo, ora aos lábios. Cá e lá. Lá e cá.

A língua ousava estender-se, acompanhando o ritmo surdo, procurando nuances de sabor em cada gota caçada com indizível prazer.

Dedos trabalhavam leves, umedecendo-se no líquido viscoso, trazendo-os à boca que, gulosa, os sugava sem nenhum decoro.

Os últimos e insistentes movimentos de cabeça denunciavam o final, um êxtase de sabor que jamais se desfaria em reminiscências.

Bons tempos aqueles, "limpando" a tigela de compota da vovó, depois do futebol.

used to love her
lilith damm


[Ao som de Used To Love Her, G'N'R]

Ela era gordinha, parecia um menino com aquele jeitão dela, mas eu gostava. Ria muito de suas frases imprevisíveis.

Nos acabávamos na cama como duas patifes, como duas assassinas.

Até que aconteceu. Eu não queria, mas ela veio sem tato nenhum, cravando aquele michê enorme no meu rabo.

Enfiei goela abaixo.

Fiquei em cima dela. Gritando, rasgando a carne dela, mordendo as orelhas e o pescoço, até a pele arroxear.

Ela se debatia, me arranhava com suas unhas roídas, me puxava os mamilos — e eu gozava vezes seguidas.

Ela demorou pra burro até ficar quietinha.

Saí do banho pronta pra uma noite que nem papai sonha possível. Preparava a primeira carreira quando lembrei do que tinha feito.

Ela estava na cama com o puta consolo estufando a traqueia. Puxei com força e acabei arrancando um dos caninos.

Achei melhor botar ela pra fora do apartamento antes que ficasse fria.
Mas primeiro, brinquei de salãozinho. Vesti e maquiei como se fosse uma boneca.

Carregar aquela gordinha bêbada pelos corredores tudo bem, mas descer aquele peso morto pelas as escadas, nem pensar.

Era uma decisão difícil, mas ninguém ia se meter no meu esquema.

Virei uns goles de Jack Daniel's, bati umas cavalas na mesa e cheirei até não sentir o maxilar.

Apoiei o traseiro dela no beiral da janela, lambi seu lóbulo e soltei.

Isso foi há três anos.

Acabo de sair de um centro de reabilitação para drogaditos. Namorei bastante as enfermeiras, mas elas só aprenderam a abrir as pernas.

Não vejo a hora de ser cravada no rabo. O problema é que agora sou de maior.

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