- com Jean Prévert
nosso correspondente em Nova York -
Oi, Cesar,
Depois de um longo e tenebroso inferno, também conhecido como verão em Nova York, eis-me de volta à cidade. Saí do Morgan Library Museum, onde passei a manhã vendo iluminuras da Idade Média. Obras-primas produzidas pelo catolicismo, que você só julga capaz de exterminar dezenas de povos do Novo Mundo. Well, tô de altos, como a gente dizia brincando de pique em Quintino, subúrbio do Rio que você, garoto de Ipanema, talvez não conheça. Revejo o belo portão do Grand Central Terminal – essa porta de entrada da cidade – e já caminho por seus largos espaços à procura de um banco, onde já me sentei e comecei a batucar essas mal traçadas. Tenho notícias, meu caro. Vamos a elas?
Todos os jornais de escândalo da cidade não falam de outra coisa: John Kennedy não morreu! Isso mesmo que você está lendo. A nova teoria é a seguinte: Kennedy teria forjado a própria morte para fugir dos Estados Unidos com outro defunto famoso: ninguém menos que Marylin Monroe. (Eles não brincam em serviço, não é mesmo?) O casal teria se mandado num jatinho e estaria até hoje vivendo muito bem obrigado numa casa de campo às margens do Lago Van e sob as neves eternas do Monte Aratat, no interior da Turquia. Há fotos, ilegíveis o suficiente, é claro. Você já imaginou Marylin aos 84 anos cantando Happy Birthday dear presidente, para um Kennedy de 93 springs? Oh God!
Não sei se é para enfrentar a crise econômica, mas surgem novos empregos nesta paradisíaca ilha perdida bem em frente a esse país desagradável. O curador, essa figura paterna que tomou conta das artes plásticas e da grana que corre por lá, estica seus tentáculos a novas atividades. Sim, agora temos na cidade o curador para batizados, cirurgias e até para enterros. Com aqueles belos textos falando sobre os artistas, no caso bebês, doentes e mortos. Garantem as más línguas jornalísticas que daqui a pouco surgirá o curador para assassinatos. Quem viver – e portanto não for a vítima – verá.
Veja o que inventaram os desocupados de sempre (geniais desocupados). Pegaram Luzes da Cidade, uma das muitas obras primas de Chaplin, chamaram um mudo e pediram que ele fizesse leitura labial do que está sendo dito e não ouvimos, é claro, durante o filme. Pois bem, nas primeiras cenas Chaplin passa cantadas e mais cantadas em Virginia Cherril, que faz o papel da florista cega. Mas o tom vai mudando e ele acaba esculhambando com a atriz, dizendo que ela é péssima e que pensa em substituí-la. Pelo menos esta parte condiz com o que a história do cinema registra. Contam que Chaplin queria substituir Virginia por Georgia Hale, mas não teve dinheiro suficiente para isso.
Jean Prévert, de N. Y., para o Patavina’s.
nosso correspondente em Nova York -
Oi, Cesar,
Depois de um longo e tenebroso inferno, também conhecido como verão em Nova York, eis-me de volta à cidade. Saí do Morgan Library Museum, onde passei a manhã vendo iluminuras da Idade Média. Obras-primas produzidas pelo catolicismo, que você só julga capaz de exterminar dezenas de povos do Novo Mundo. Well, tô de altos, como a gente dizia brincando de pique em Quintino, subúrbio do Rio que você, garoto de Ipanema, talvez não conheça. Revejo o belo portão do Grand Central Terminal – essa porta de entrada da cidade – e já caminho por seus largos espaços à procura de um banco, onde já me sentei e comecei a batucar essas mal traçadas. Tenho notícias, meu caro. Vamos a elas?
Todos os jornais de escândalo da cidade não falam de outra coisa: John Kennedy não morreu! Isso mesmo que você está lendo. A nova teoria é a seguinte: Kennedy teria forjado a própria morte para fugir dos Estados Unidos com outro defunto famoso: ninguém menos que Marylin Monroe. (Eles não brincam em serviço, não é mesmo?) O casal teria se mandado num jatinho e estaria até hoje vivendo muito bem obrigado numa casa de campo às margens do Lago Van e sob as neves eternas do Monte Aratat, no interior da Turquia. Há fotos, ilegíveis o suficiente, é claro. Você já imaginou Marylin aos 84 anos cantando Happy Birthday dear presidente, para um Kennedy de 93 springs? Oh God!
Não sei se é para enfrentar a crise econômica, mas surgem novos empregos nesta paradisíaca ilha perdida bem em frente a esse país desagradável. O curador, essa figura paterna que tomou conta das artes plásticas e da grana que corre por lá, estica seus tentáculos a novas atividades. Sim, agora temos na cidade o curador para batizados, cirurgias e até para enterros. Com aqueles belos textos falando sobre os artistas, no caso bebês, doentes e mortos. Garantem as más línguas jornalísticas que daqui a pouco surgirá o curador para assassinatos. Quem viver – e portanto não for a vítima – verá.
Veja o que inventaram os desocupados de sempre (geniais desocupados). Pegaram Luzes da Cidade, uma das muitas obras primas de Chaplin, chamaram um mudo e pediram que ele fizesse leitura labial do que está sendo dito e não ouvimos, é claro, durante o filme. Pois bem, nas primeiras cenas Chaplin passa cantadas e mais cantadas em Virginia Cherril, que faz o papel da florista cega. Mas o tom vai mudando e ele acaba esculhambando com a atriz, dizendo que ela é péssima e que pensa em substituí-la. Pelo menos esta parte condiz com o que a história do cinema registra. Contam que Chaplin queria substituir Virginia por Georgia Hale, mas não teve dinheiro suficiente para isso.
Jean Prévert, de N. Y., para o Patavina’s.
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