quarta-feira, 8 de junho de 2011

THAT’S ALL, FOLKS!

Não, já não tenho forças para suportar isso! Meu Deus! Que estão fazendo comigo! Derramam água fria em minha cabeça. Não me escutam, não me vêem, não me entendem. Que fiz a eles? Por que me atormentam? O que desejam de mim, o infeliz? Que posso dar a eles? Não tenho nada.

Estou no fim, não posso mais suportar suas torturas; minha cabeça queima, e tudo gira à minha volta. Salvem-me! Levem-me! Dêem-me um trenó com ginetes rápidos como a ventania! Monte na sela, cocheiro, soe, minha sineta! Corcéis, lancem-se em direção às nuvens e levem-me longe deste mundo! Mais longe, mais longe, onde não se veja nada, mais nada. Lá o céu gira diante de meus olhos: uma pequena estrela cintila nas profundezas; uma floresta vaga com suas árvores sombrias, acompanhada pela lua; uma névoa cinza espalha-se sob meus pés; uma corda vibra na névoa; de um lado, o mar, do outro, a Itália; tudo lá está, vê-se até mesmo as cabanas de camponeses russos. Será minha casa aquela mancha azul à distância? É minha mãe sentada diante da janela? Mamãe! Salve teu filho infeliz! Deixe cair uma pequena lágrima sobre sua cabeça sofrida! Olhe como o atormentam! Aconchegue o pobre órfão em teu peito! Ele não encontra um só lugar sobre a terra! Ele é perseguido! Mamãe! Tenha piedade de teu filhinho doente!... Eh, vocês sabiam que o rei da Argélia tem uma verruga exatamente debaixo do nariz?

Trecho final do Diário de um Louco, de Nicolai Gogol (tradução de Roberto Gomes, L&PM Pocket.)



Meu e mail: cesarcar@uninet.com.br

©Cesar Cardoso, 2010. Todos os direitos e esquerdos reservados. Que os piolhos infectados de 18 mil camelos infestem as partes pudendas de quem publicar algum texto daqui sem avisar nem dar meu crédito.

2 comentários:

  1. Sempre volto e obtenho o mesmo prazer. C. nos lembra o prazer da leitura inteligente!

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  2. Obrigado, Lucia e espero que você continue voltando.

    Abracadabraço do

    Cesar

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