Não, já não tenho forças para suportar isso! Meu Deus! Que estão fazendo comigo! Derramam água fria em minha cabeça. Não me escutam, não me vêem, não me entendem. Que fiz a eles? Por que me atormentam? O que desejam de mim, o infeliz? Que posso dar a eles? Não tenho nada.
Estou no fim, não posso mais suportar suas torturas; minha cabeça queima, e tudo gira à minha volta. Salvem-me! Levem-me! Dêem-me um trenó com ginetes rápidos como a ventania! Monte na sela, cocheiro, soe, minha sineta! Corcéis, lancem-se em direção às nuvens e levem-me longe deste mundo! Mais longe, mais longe, onde não se veja nada, mais nada. Lá o céu gira diante de meus olhos: uma pequena estrela cintila nas profundezas; uma floresta vaga com suas árvores sombrias, acompanhada pela lua; uma névoa cinza espalha-se sob meus pés; uma corda vibra na névoa; de um lado, o mar, do outro, a Itália; tudo lá está, vê-se até mesmo as cabanas de camponeses russos. Será minha casa aquela mancha azul à distância? É minha mãe sentada diante da janela? Mamãe! Salve teu filho infeliz! Deixe cair uma pequena lágrima sobre sua cabeça sofrida! Olhe como o atormentam! Aconchegue o pobre órfão em teu peito! Ele não encontra um só lugar sobre a terra! Ele é perseguido! Mamãe! Tenha piedade de teu filhinho doente!... Eh, vocês sabiam que o rei da Argélia tem uma verruga exatamente debaixo do nariz?
Trecho final do Diário de um Louco, de Nicolai Gogol (tradução de Roberto Gomes, L&PM Pocket.)
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©Cesar Cardoso, 2010. Todos os direitos e esquerdos reservados. Que os piolhos infectados de 18 mil camelos infestem as partes pudendas de quem publicar algum texto daqui sem avisar nem dar meu crédito.
Sempre volto e obtenho o mesmo prazer. C. nos lembra o prazer da leitura inteligente!
ResponderExcluirObrigado, Lucia e espero que você continue voltando.
ResponderExcluirAbracadabraço do
Cesar