quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

BARATA VOA - vale tudo, menos porrada –


O Pai dos Burros foi publicado como livro pela Editora Salamandra em 1996, com capa e ilustrações do grande Reinaldo, do Casseta & Planeta. Aqui ele será reproduzido em capítulos.


O PAI DOS BURROS
Guia Impraticável da Língua Portuguesa

Dedico este dicionário a Aurélio Buarque de Holanda, pelas inúmeras palavras de apoio.

Equipe de Colaboradores:

Al Capone – finanças e imposto de renda
Amir Klink – a vida sexual das focas
Cartola – futebol
Cecil B. de Mille – Bíblia Sagrada
Chico Xavier – imóveis
Deus – ciência e universo
He Man – o Esqueleto
Irmãos Marx (Grouxo, Roberto e Burle) – marxismo e revolução
Johnny Walker – enxaquecas e cefaléias
King Kong – evolução das espécies
Madre Teresa de Calcutá – Kama Sutra
Michael Jackson – pediatria e infância
Oswaldo Aranha e Assis Chateaubriand – culinária e filés


Abreviaturas, siglas e sinais obscenos usados neste dicionário:

A. – aumentativo
AM – aumentativo maior
Atc. – Atchim!
Aum. – bocejo
Bot. – Botucatu
CBF – Confederação Brasileira de Fonética
CEP – código de endereçamento pronominal
D.C. – “Desce!”
DDT – diminutivo deste tamanho
Ex. – divorciado
FDP – futuro do pretérito
H2O – Hoo
Id. – Idiota
I.e. – Ih, é!
IPI – Ipi Hurra, oba!
M – eme
Masc. – “Mas que nada, sai da minha frente que eu quero passar...”
Mô – “MÔÔ, larga esse dicionário e vem pra cama!”
Neg. “Negue o seu amor, o seu carinho, diga que você já me esqueceu...”
PI – 3,1416
Quim – Joaquim
S. – Saúde (ver atc.)
Super. – legal à beça
Tec. – barulho de tecla do computador


Prefácio de apresentação a introdução

Conheci Cesar Cardoso quando ele ensinava as primeiras letras a seu sobrinho, Fernando Henrique. Infelizmente, ele teve que parar no C, porque estava na hora de nosso ex-presidente ir pra escola. E sou testemunha de que sua vida toda tem sido uma constante luta pelo engrandecimento das letras nacionais, para que os vesgos e os míopes consigam ler sem precisar usar óculos.

Durante os anos de chumbo da ditadura militar, lá estava ele nas ruas, arriscando a própria pele para defender a garantia do emprego do hífen e das letras iniciais maiúsculas. Fui encontrá-lo, mais tarde, no exílio, mais precisamente na Universidade de Phebo, em Paris, onde era conhecido pela intelectualidade francesa como o Petit Larousse. Foi lá que ele ocupou a cadeira de Linguística, obrigando o professor a dar aula em pé.

De volta ao Brasil, em 84, foi levado a depor na Universidade da Polícia Federal do Rio de Janeiro, injustamente acusado de ligações com radiais latinos e pelo contrabando de prefixos gregos.

Afastado arbitrariamente do magistério, longe do convívio de professores e alunos, Cesar Cardoso podia finalmente pensar em ganhar dinheiro. Conseguiu uma bolsa de estudos das Semióticas do Povo, Morou? e se dedicou a escrever este O Pai dos Burros, não sem antes se alfabetizar.

Para encerrar esta breve apresentação, nunca é demais lembrar as palavras com que o próprio Cesar Cardoso, depois de concluir este livro, saudou os falantes da língua portuguesa: “vamos falar mais baixo aí que eu quero dormir, pô!”

Anuênio Gerúndio de Andrade
Presidente da Academia Brasileira de Letras de Câmbio



- E não perca no próximo capítulo as letras A, B e C deste estupefaciente dicionário.

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