segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

MEUS CAROS AMIGOS

Aí vai a minha crônica na revista Caros Amigos do mês de janeiro, que já se encontra nas boas bancas do ramo. No número desse mês, Irmã Geraldinha: mais uma freira na mira do latifúndio; o Partido Pirata – contra as patentes do capitalismo; entrevista com Letícia Sabatella. E o time de craques de sempre, como Emir Sader, Frei Betto, Joel Rufino dos Santos e muito mais.

UM HERÓI


Lutei o bom combate. E ele era tão bom e justo e nobre, que eu seguia lutando mesmo com a chegada da noite, dos ventos, das tempestades. E, em meio às trevas, só reconheci meu próprio irmão quando o trespassei com a espada, julgando ser um inimigo.

Aquilo caiu sobre mim como uma maldição. Eu derramara o sangue do meu sangue! Mas o bom combate precisava de mim. E voltei a lutá-lo. E dessa vez matei meu pai. Para melhor lutar o bom combate, ele se disfarçara de árvore. Como era uma árvore que não crescia em nossa floresta, tomei-a por uma vegetação inimiga e trespassei-a com a espada. Quando a árvore me disse: “filho, o que fizeste?”, tive consciência de minha nova tragédia.

Sem poder encarar os companheiros e a família, parti. Mas nem o coração dilacerado me impediu de seguir lutando o bom combate. Disfarçado, invadi o território inimigo aleijando, trucidando e matando. Mapeei, uma por uma, as nascentes de água que abasteciam sua capital. E numa só noite, mesmo com a chegada dos ventos e das tempestades, envenenei toda a água. De madrugada escutei os gritos dos que morriam. E ao amanhecer entrei, triunfante, na cidade dominada. Corpos e mais corpos jaziam nas ruas. E pude reconhecer ali minha mãe, minhas irmãs, meus filhos e meus vizinhos. Todos mortos, envenenados. Eu não sabia que nós havíamos ganhado a guerra e invadido a cidade uma semana antes.

Me deixei ficar para ser capturado pelo inimigo que voltava. Eles me pegaram, me carregaram pelas ruas cheias de sangue enquanto davam vivas ao seu salvador. Agora sou o maior herói da História. Pelo menos da História que eles repetem diariamente em seus livros escolares.

(O autor desse texto foi dispensado de lutar o bom combate por ter pé chato.)

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