quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AVISO AOS NAUFRAGANTES

CARNAVAL 30 HORAS

São três dias de folia e brincadeira. E isso é o que me revolta. Por quê? Por que três dias ou setenta e duas horas ou quatro mil novecentos e vinte minutos ou duzentos e noventa e cinco mil e duzentos segundos, por quê? Por que a vida não pode ser um eterno carnaval? Isso mesmo, um carnaval que não acabasse nunca, que só acabasse com a morte, que seria chorada pelos que ficam em outro grande carnaval?

Não me julguem mal nem me tomem por quem não sou, anarquista, subversivo dos costumes, ou mesmo terrorista, que é o termo da moda, substituto dos velhos comunistas comedores de criancinhas. Nada disso, o que pretendo com o carnaval é até uma espécie de globalização. Sim, sei que a festa já é planetária, mas, como eu falei, são três dias, apenas três dias num mundo em que tempo é o quê? Exatamente isso que você pensou: dinheiro!

E o carnaval, o que é? Para brincar o carnaval, milhares de pessoas fazem fantasias, desfilam em blocos e escolas de samba, consomem milhões de litros de cerveja. refrigerantes e cachaça, atiram para o ar quilômetros e quilômetros de serpentinas e bilhões de rodelinhas de confetes coloridos, sem falar em camisinhas, salgadinhos, chocalhos, energia elétrica, comprimidos para ressaca, transportes variados até os locais de folia, cds com samba-enredo, band-aids para pés machucados, etc, etc, etc. E do que essas pessoas precisam para consumir tudo isso? O que é que possibilita a elas o acesso a esses bens, materiais ou não? Exatamente isso que você pensou de novo: dinheiro!!

Chegamos assim à conclusão de que tempo é dinheiro e carnaval também é dinheiro. Mas isso não basta. É preciso lembrar o que o carnaval é, antes de qualquer outra coisa: o carnaval é alegria. Essa é sua essência, sua alma, sua vida. E agora raciocine comigo. Se o tempo é dinheiro, se o carnaval também é dinheiro e o carnaval é antes de tudo alegria, chegamos à óbvia conclusão que a alegria é o quê? Exatamente isso que você pensou mais um vez: dinheiro!!!

Ora, ora, se a alegria é dinheiro, por que termos um carnaval que dura só três dias? É um desperdício. Temos que ter carnaval todos os dias, todas as horas, todos os minutos e segundos. Escola de samba, trio elétrico, bloco, baile, micareta, batucada, correria, o diabo a quatro!

E não basta! Sabem por quê? Você tem que juntar uma porção de gente pra fazer uma batucada, duas porções de gente pra um bloco, três pra uma micareta e por aí adiante em progressão geométrica. É gente que não acaba mais. E juntar gente é sempre confuso. Um não vem porque brigou com o patrão, outro tem medo de multidão, um passa a mão na bunda da mulher do outro e já sai briga... É difícil. Não que eu seja contra a folia coletiva. Ela pode continuar acontecendo com suas datas. A revolução que precisamos fazer é outra.

Precisamos individualizar o carnaval. Tudo na nossa sociedade é individual. Cada um vive pra si e o outro que se dane, a base de nossa civilização contemporânea é o egoísmo. Então por que não estendemos ao carnaval esses valores que construímos tão arduamente com sangue, suor e lágrimas alheios?

Vamos criar o carnaval on line, onde cada um vai poder brincar em casa, no sossego do seu quarto, diante de seu computador. E todo mundo vai poder passar a mão na bunda de todo mundo, sem briga. É virtual. E até por isso mesmo quem quiser brigar também pode. E mais: teremos o carnaval via celular. É só você deixar seu aparelho ligado o tempo todo que, a qualquer momento do dia ou da noite, nossa central carnavalesca vai lhe enviar uma mensagem, um torpedo, chamando você para brincar, pular, cair na farra.

Seremos todos foliões de tempo integral, sem nenhuma possibilidade de tristeza e com um sentimento único: quanto riso ó quanta alegria, quanto riso ó quanta alegria, quanto riso ó quanta alegria, quanto riso ó...

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