segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

- LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –


PEQUENO INDICIONÁRIO DE NUTILIDADES – CAPÍTULO 6

Bem-te-verme
[do latim bene-tuu-vermis]
S.m. Bras. Ínfima Zoologia.
Ave parasita, de asas e cauda manchadas de vermelho vivo, cabeça amarela, garganta azul, peito e abdômen roxos। Descoberto pela nanobiologia, o bem-te-verme é considerado a mais bela ave do reino animal. Mas seu tamanho é tão reduzido que ele só pode ser visto em microscópios. A bem-te-verme-mãe esconde seus filhotes recém-nascidos dentro da banana-de-cauda-roxa, que é devorada pelos babuínos do arquipélago africano Frijol de Carita. Assim, o bem-te-verme passa toda a sua vida dentro do estômago deste símio, só saindo para se reproduzir e morrer. Mas, por ser tão mínimo, mesmo ali ele pode executar belos vôos helicoidais.


Cedoso
[Do lat. ceatosu, pelo grego arcaico
αλφάβητου]
Adjetivo poroso.

Suavidade prematura da primeira claridade da manhã, formada por fios de luz esverdeada, emanados pela estrela Urucuia, da constelação de Diadorim. Ela brilha no hemisfério sul apenas na madrugada de 19 de março, dia de São José, marcando o início da estação das chuvas no nordeste brasileiro. Em seu livro “Vida Social No Brasil em Meados do Século XIX” Gilberto Freyre registra que “os devotos de São José seguiam os tênues fios verdes do cedoso, para encontrar as pedras de sal, garantia de um ano com muitas chuvas”.

Frijol de Carita
Ilha do Caribe, onde escravos de diversos países se refugiaram durante o século 17. Tropas espanholas atacaram a ilha várias vezes sendo sempre rechaçadas. Por fim, uma grande frota foi montada para um ataque final. E aquela que ficou conhecida como A Armada Invencível realmente não foi derrotada. Mas também não venceu porque simplesmente não conseguiu encontrar a ilha, por mais que passasse meses esquadrinhando o Mar do Caribe. Alguns babalorixás caribenhos contam que os negros arrancaram a ilha do fundo do mar e remaram com ela de volta até a África. Ela seria o arquipélago que forma Cabo Verde e tem o formato de uma fava de feijão fradinho, sua principal plantação.

Nonadeira

[Da loc. do lat. tard. res non nata, 'nenhuma coisa nascida', com perda do res + sufixo eira ]
Substantivo nódino.

Árvore do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto é a nonada. Ela também foi expulsa do paraíso por Deus e replantada por dois anjos às margens do Rio Hades, nas portas do inferno, onde é protegida pelos cães de agosto. Tem a casca pelo lado de dentro e seus gomos estão sempre expostos. Ao serem bicados pelos pássaros eles sangram.

Pedra do Sono
[Do ár. al-pelderal sonkayl ]
Locução substantiva inorgânica

Mineral que faz a pessoa dormir por sete anos. Para que funcione, na primeira lua minguante de um ano bissexto, a pessoa deve se banhar, sem saber, com a água em que três pedras do sono estiveram mergulhadas por três semanas. Depois de trabalhar durante 21 anos para Labão, Jacó descobre a pedra do sono e prepara dois banhos, um para seu patrão e outro para sua filha Lia, com quem Jacó teve que se casar. Em seguida, Jacó foge com sua amada Raquel, a serrana bela, dizendo a ela: - Temos sete anos de felicidade até que eles acordem e venham nos procurar.

Pernunca
[Do latim Pernnuncale]
Subst. cláudico

A perna que o saci não tem. Quando o saci nasce é uma criança comum. Na madrugada em que a estrela Urucuia brilha nos céus, a mãe dessa criança faz um pacto com o demônio, indo até um pé de quilelenga-verde e trocando essa perna pelo barrete vermelho que dará poderes a seu filho. A pernunca vive vagando pelas densas matas amazônicas mas raramente encontra seu dono, que tem como maldição passar a vida toda fugindo dessa perna. Quando uma pernunca encontra seu saci, o demônio vem para tomar-lhe o barrete e levá-lo para o inferno.

Pintadinho do céu
Do armênio hɑjɛɹɛnɑ lɛzu h ɹɛnuzlɛjɛ
Locução diminutiva alada
Ave que vive nos céus pintados no teto da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto। Há quem diga que ela é apenas uma pintura criada por Mestre Ataíde em finais do século 18. Mas, segundo fontes descobertas por Câmara Cascudo, o pintadinho do céu se finge de pintura e ali permanece imóvel, se alimentando apenas da música do famoso órgão desta igreja. E quando, durante um batizado, o pintadinho do céu canta, é sinal de que aquela criança será um lobisomem.


São Reimok
No século 10, o reino de Monngüber, na Vissônia Setentrional, era governado por Reimok Segundo। Quando a rainha engravidou pela primeira vez, Reimok se converteu ao catolicismo e prometeu que, se Deus lhe desse um filho varão, ele invadiria todos os reinos vizinhos e os converteria à sua nova fé, mesmo que fosse a ferro e fogo. Mas Deus lhe deu uma filha. E depois outra. E mais outra. E por mais que Reimok fizesse mais e mais promessas e até invadisse todos os reinos vizinhos – e até alguns mais distantes – e os transformasse a ferro e fogo em leais seguidores de Cristo, e cortasse as cabeças e as línguas e amputasse as mãos e os pés e furasse os olhos de todos os que recusassem a palavra do Senhor, mesmo assim Deus insistia em lhe dar filhas. A rainha estava grávida pela sétima vez e, já em desespero, Reimok foi consultar as feiticeiras que ele mesmo havia banido do reino. E elas previram a vinda de mais uma fêmea. Reimok mandou matar a rainha, que ele amava, e enterrou-a no meio da imensa floresta que cercava Monngüber e fornecia caça e frutos e lenha para o reino. Nos seis meses seguintes um gigantesco incêndio queimou toda a floresta, transformando-a num deserto sem vida. Reimok saiu de seu castelo e, de joelhos, atravessou o deserto ainda cheio de restos de árvores em brasa. As chagas se abriam por suas pernas em carne viva. E por sete dias e sete noites despencaram dos céus sete tempestades que destruíram todo o reino. Quando finalmente as águas baixaram, retornaram os poucos súditos que conseguiram sobreviver. E, assombrados, viram surgir uma igreja toda feita de conchas e corais, bem no centro da antiga floresta. Lá dentro estavam Reimok e toda sua família. Os súditos entraram na igreja e puseram-se a rezar. E depois de sete dias e sete noites de reza, viram entrar no templo a rainha. E ela trazia nos braços uma criança, que Reimok não chegou a ver. Ele abdicou do trono em favor dela e partiu para o deserto, vivendo como monge anacoreta até morrer em 987. Oitenta anos depois foi canonizado.


Soninquê
[Do macedônio So
акедонскиикi]
Reverbo impessoal

Tipo de sono em que a pessoa pensa que está dormindo e sonhando mas tudo o que acontece é real. É causado pela Pedra do Sono.

Ut
[Do germânico üüß]
Nome da oitava nota musical, a única que não pode ser escutada pelo ouvido humano. É emitida pelas baleias beluga e por alguns insetos das florestas do sudeste asiático. Foi descoberta e grafada na sexta linha da pauta pelo monge beneditino Guido d’Arezzo, em 1032, na Toscana. O compositor Mozart foi o único ser humano até hoje a compor uma sinfonia na clave de Ut. Ele pretendia tocá-la no Mar do Norte, na época do acasalamento das belugas, mas morreu antes de realizar tal proeza.

Vila De Ávila
Cidade do Vale do Jequitissonha mineiro, que forma com suas vizinhas Barroquinha do Oeste, Lúdico e Catas de Aluvião o Quadrilátero Onírico. Chega-se à Vila de Ávila após o terceiro sonho com a cidade. Mas deve se retornar de lá antes da estação das chuvas pressentidas, que molham antes de desabar, ou a pessoa nunca mais será capaz de encontrar o caminho de volta.

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