CORRESPONDÊNCIA
S.
Os exames não indicaram nada mas continuo com as dores por todo o corpo e sem conseguir dormir antes das três da manhã. Acordo às sete, pontualmente, com o vômito. Sim, comprimidos de todo tipo, pra dor, pra enjôo, pra febre, pra tudo. E agora umas injeções que tua mãe receitou.
E nada.
Beijo
T.
S.
Ontem consegui sair de casa. E melhor ainda: fui ao banco e renegociei a dívida do cartão. Acho que começo a me acostumar com a tua falta. Mas quando lembro que você está aí com eles. De qualquer forma segui teu conselho. Toda noite, em vez de novela, vou à ala dos pacientes terminais no hospital aqui em frente. Falei no teu nome e eles aceitaram meu trabalho voluntário. Tenho dormido melhor.
Beijo
T.
S.
Deixei tuas coisas na portaria, pode passar a qualquer hora. Felicidades para teus filhos. Que eles não cruzem muito com gente como nós. Meu sono está voltando. Uma vez por semana escolho um dos pacientes e lhe dou repouso. Às vezes uma injeção (tua mãe me ensinou pensando que era pra mim). Às vezes um aparelho desligado. Ou, nos mais debilitados, um rápido sufocamento com o travesseiro. É, você tinha razão. O sono voltou.
Beijo
T.
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