Esse é o título de meu novo livro de contos, que vou lançar pela Editora Oito e Meio, no dia 18 de abril. Já, já mando mais informações sobre o lançamento. Enquanto isso, vai a seguir um dos contos.
A
PRISÃO 2 – O VEREDITO
Há três anos saíra o veredito: condenada à morte na forca. A sentença se
cumpriria em três semanas. No dia da execução, foi acordada na hora marcada, um
pouco mais cedo do que de costume. O café já estava na mesa e tudo funcionava
com perfeição, como sempre. Foi levada para o local da execução e, no caminho,
começou a receber todas as informações referentes ao enforcamento. Quantas
pessoas já haviam sido enforcadas ali, que tipo de crime a maior parte delas
cometera, quanto tempo o cérebro ainda vive após o corpo despencar, que reações
físicas e químicas o organismo detona antes, durante e até mesmo após a queda.
Finalmente chegou ao cadafalso e foi preparada para o último gesto, ainda com
mais informações: de que material é feita a corda, qual o tipo de madeira usada
no patíbulo, quantos carrascos já passaram por ali. Foi até mesmo apresentada
ao seu próprio carrasco, embora já estivesse vendada e com a corda no pescoço.
O homem puxou conversa, trocaram algumas frases. Por fim seguiu-se um profundo
silêncio e ouviu-se o ruído metálico de uma alavanca sendo acionada. E tudo se
apagou.
Acordou na enfermaria, onde lhe informaram que houvera um problema técnico
com a alavanca e sua execução falhara. Ela desmaiara com certeza por toda a
tensão envolvida. Com um pedido de desculpas do diretor do presídio em pessoa,
foi reconduzida à sua cela e informada que o procedimento seria refeito na
manhã seguinte.
E realmente na manhã seguinte, ela foi novamente acordada um pouco mais cedo
do que de costume e mais uma vez passou por todo o ritual, com novas
informações e novos dados sobre todo o processo. Até a alavanca ser novamente
acionada.
Mais uma vez acordou na enfermaria e foi-lhe explicado o novo defeito,
desta vez na polia que movimenta a corda. Mais uma vez o diretor se desculpou
pessoalmente e ela retornou à cela.
Passaram-se cinco meses de execuções diárias e
mal-sucedidas. Ela já conhecia de cor todo o funcionamento da forca, já
cumprimentava o carrasco pelo primeiro nome e perguntava pela mulher e pelos
filhos dele. A única surpresa eram os infindáveis defeitos, sempre um diferente
do outro, chacoalhando dentro de sua cabeça.
Até que ontem, pela primeira vez, os guardas se
distraíram e a levaram de volta à cela sem retirar o cinto que lhe segurava a
roupa de execução. E assim que trancaram a porta, ela se enforcou nas grades.
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