sábado, 1 de agosto de 2009

“NÚNCARAS”


A solidão e sua porta

Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha

A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.

Carlos Pena Filho


O poeta pernambucano Carlos Pena Filho escrevia sonetos como esse acima. Aos 20 e poucos anos levou 30 tiros numa manifestação política. Mas morreu de acidente automobilístico, aos 31. Conviveu com Manuel Bandeira, João Cabral, Joaquim Cardozo e outros de Recife. E teve poemas musicados por Capiba e Alceu Valença. Musicalidade, visualidade e grandes sonetos eram algumas de suas marcas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário