terça-feira, 25 de agosto de 2009

HOJE É DIA DE VISITA

E quem vem nos visitar é o escritor e professor de literatura Elesbão Ribeiro, diretamente do escurinho do cinema para o Patavina’s.


di CINEMAS*

por onde passará o seu pensamento

por dentro da minha saia

adriana calcanhoto

Primeiro, mandou-me uma sobrinha; agora manda-me uma amiga fotos de cinemas antigos desta cidade. EMOCIONANTE, diz a chamada. Mas o emocionante não foi escrito por elas, faz parte do pacote.

ESPANTADO foi como fiquei. Como podem ser apresentados como antigos os cinemas CARIOCA e AMÉRICA, ali na Sães Peña, se ainda há pouco estive lá com os meus filhos pequenos?!

Gosto dos cinemas antigos e também gosto dos cinemas atuais.

Antigamente, as sessões eram às duas, às quatro, às seis... ou às duas, às três e quarenta, às cinco e vinte... Podia-se entrar no cinema às duas e sair na hora do lobo. Podia-se entrar no meio da sessão, ver o filme do meio para o final e depois vê-lo do início para o meio. O expectador tinha a liberdade de transformar uma narrativa linear em não linear, tinha a liberdade de fazer o seu flash-back. Antigamente, comprava-se um saco de pipocas na carrocinha em frente ao cinema, eram poucos os cinemas que vendiam pipoca. Agora, quase todos vendem. Devem ter esticado os intervalos entre uma sessão e outra para dar tempo de venderem mais pipoca. E a gente tem de ver um vassalo carregando para uma suposta princesa uma bandeja com sacos enormes de pipocas e copos enormes de refrigerantes.


Antigamente, tínhamos o azar, ou a sorte (dependendo do vizinho), de nos debruçarmos sobre a poltrona ao lado, porque o outro da frente nos impedia de ler a legenda. Agora como as poltronas estão dispostas em degraus e entre elas há um porta copos, temos de aturar o cheiro da pipoca e ouvir o chupão no canudo do refrigerante.

Mas os cinemas de hoje têm um bom som, uma acústica boa. Acho que isto sempre foi um atrapalho para o cinema brasileiro. O gênio rebelde gravava com som direto o filme que seria passado em salas cujo som era pífio.

Os cinemas de hoje são pequenos, mas os grandes cinemas de antigamente tinham grandes filas.


Mas os melhores cinemas, de ontem ou de hoje, são aqueles que ainda têm poltronas no mesmo plano, sem degraus. Aqueles em que as poltronas, porque escondem, ainda permitem que a mão boba percorra a namorada por dentro de sua saia.

* pro Zé Trindade, por sua mão boba

Elesbão Ribeiro

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