NOVOS CONTOS DE ALICE BARREIRA
Meu caro maninho Cesar,
Aí vão três haicontos inéditos pra animar teu blog. Ainda não estão no ponto mas eu chego lá. Vamos parar de falar de amor, da natureza, do futuro. Essas coisas são boas pra vender shampoo, apartamento e carro. Vamos falar mesmo é de assassinato e ódio, que é a nossa especialidade enquanto humanos.
PS: o que você acha da gente currar uns arcebispos e depois escrever cartas pedindo desculpas, como eles fazem?
Beijos incestuosos da tua sempre mau comportada irmã,
Alice
A SAÚDE DO BEBÊ
A bolsa d’água já se rompera, o marido já estava com o carro ligado, a mãe já levava a mala com as roupas, a empregada já esquentava o jantar para o filho, o trânsito já estava desimpedido na avenida principal, a vaga para o carro já estava reservada na maternidade, a equipe médica já estava toda preparada, a respiração cachorrinho já lhe saía pela boca, a anestesia já lhe entrava pelo braço, a criança já estava na posição, a médica já a retirava, o marido já filmava tudo e a filha caçula já tinha vindo ao mundo.
A recém-nascida, de cabelos brancos, mãos trêmulas e enrugadas, olhou para ela com dificuldade e disse:
- Sou eu, sua avó.
DE TUDO AO MEU AMOR
Tantas e tantas vezes tinha se imaginado ali. Esperou alguns homens entrarem primeiro, para ter com quem aprender em caso de dúvida, que ele tinha certeza que surgiria. Por fim deu seus passos, como quem entra no labirinto.
Foi cumprindo com facilidade as tarefas. Descobria maravilhado que eles – fossem quem fossem – estavam ali para facilitar. Pôs o troco no bolso, passou pela porta que se escancarava diante dele e, com mão firme, colocou a moeda no local indicado.
À sua frente, uma cortina se abriu por trás de um vidro transparente e suado. E ele pôde ver, por fim. Ela devia ter o quê? Uns oitenta, oitenta e cinco anos. Usava um peignoir que fora rosa um dia e escovava os dentes. Ele começou a se tocar. Sabia que tinha cinco minutos mas quando ela tirou a dentadura e começou a escová-la na mão, não se conteve mais.
RIR É O MELHOR
No centro do palco um sujeito usando roupas de atleta está amarrado de cabeça pra baixo há mais ou menos uma hora e meia. Ele não disse uma palavra, percebemos apenas sua respiração pesada. Por fim, um outro sujeito, também com roupas de atleta, entra em cena, em marcha cadenciada, dá duas voltas pelo palco e, ao passar novamente pelo que está amarrado, saca um revólver e lhe dá um tiro na cabeça, fazendo espirrar sangue até a terceira fila pelo menos.
E nós estouramos numa gargalhada sem fim.
Muito boa a sua maninha, Cesar! O Jesuíno também acha, mas me disse - aquele sátiro sem freios - que ela é mais inteligente e criativa de biquini.
ResponderExcluirNão seria sem o biquini?
ResponderExcluirAbraços
Cesar
Isso já seria muito angu pro pires dele...
ResponderExcluirleio, só
ResponderExcluire saio
um dia
eu rio