Mulher combina com música? As duas trazem uma alegria que ninguém sabe de onde vem? Bom, pra comemorar a música, a mulher e o dia 8 de março, com vocês...
MULHERES CANTADAS
O que nos move é a solidão, nos levando a tantos encontros que não sejam o encontro final. E vamos, pedalando pautas, mastigando letras, descobrir as vaidades de Amélia, ela deve tê-las, escondidas na caixa de costura, sublimadas na unha roída, nós vamos, vamos amar Amélia de verdade e tanto até saber sua mentira e pranto. E se eu ficar só, minha Rosinha vem correndo me esperar. Seu nome? É Maria Rosa, seu sobrenome? Ou Narinha ou Betânia ou Dolores ou Renata ou Leilinha ou Dedé. Gente do sexo feminino, gente de som e sombra tão somente. Gente que não pegamos e que nos acende, um mistério, um mistério que tem Clarice e ninguém descobre, no máximo o peito percebe. E Madalena sabe disso. E Conceição lembra tão bem. E até Aurora lembra. Mas finge que não, nunca sincera. E eu que não aguento, eu morro e ainda levarei saudades dessa Aurora, que me despreza, sem sentimentos e ri, ela ri, Irene ri, comadre Sebastiana grita, a, é, i ó, u, na cartilha da Juju, em português, ou da Jou Jou, meu Balangandãs francês, nós dois. Mas como nós dois? Estou só, Jou Jou, sem depois. E o que me paralisa é a solidão.
Mas o que nos tira da angústia e nos leva pro sonho? O sonho onde você não foi pra assistência, Iracema, você nem travessou contramão, meu amor. Mas acabou ficando só. Januária na janela me conquistou. E eu me dei por vencido? Nunca! Preferi boiar nas lágrimas dos olhos fundos de Carolina. Mas Carolina não viu e me chorou pra longe, pro Irajá, onde procurei Kátia Flávia, ou lá pra Martinica, onde descasquei Chiquita Bacana, e a Rita levou meu sorriso e com ele todas as minhas palavras de amor. Restei mudo e só. Emília! Emília! Emília! Eu não posso, você é a minha interjeição, meu único grito, minha tábua de salvação ou de mandamentos. Não cobiçai a canção do próximo! Mas como não cair em tentação diante de Rosa morena, de Dora rainha, de Jandira da Gandaia ou Joana de Tal, por causa de um tal João. A gente sofre, a gente chora, a gente some, mas diz lá pra Dina que eu volto, diz pra Etelvina que acertei no milhar, diz pra Clara Crocodilo que fui ver Cristina... não! Nada de recados, dizer não resolve. Doralice, eu bem que te disse! E ela se foi com o primeiro João Gilberto que apareceu. Pois que se dane, eu nem ligo! Eu? Eu adoro a Julieta, eu disse a Izaura que não podia ficar, esqueci os domingos e as frutas na feira de Lindonéia, encontrei Eduardo e nem perguntei por Mônica e também esqueci de Teresa da praia e de tantas outras Teresas negas e Terezinhas e Luizas e Ligias e Mauras e Drãos e até Genis. Fui e pronto! Fiz o que quis!
Sim, mas o que nos acorda no meio da noite? Ah, pra que eu fui dizer aquilo? Ah, por que eu não voltei? Se a saudade mata a gente, o remorso nos deixa vivo e nos corrói lentamente. Ah, Dindi, se soubesses... Maura, vem matar o meu prazer, que é viver embriagado... Hoje, quem é Gabriela? Cadê Iaiá do Cais Dourado? Onde morena Marina? O que é feito de Odete, que ouvia o meu lamento? Não provo mais a moqueca de Idalina, não danço uma xiba com tia Eulália, não provo o feijão da Vicentina, não vejo o sapateado de Dona Maria Luiza. Se não fosse dona Augusta e a dona Carola... nem sei o que seria, nem sei o que eu seria. E nem descobria que, Maria, teu nome principia. Tua pessoa, Maria, são tantas Marias, ninguéns, todas mulheres de Atenas, e todas brasileiras apenas, a duras penas. Mulheres cuja carne é verbo e o sangue, canção. Mulheres que não existem, fazendo e sonhando as mulheres que existirão.
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