ROBERTO PIVA
O poeta Roberto Piva está com 73 anos e teve sua obra principal – o livro Paranóia – relançado pelo Instituto Moreira Salles em 2009. São 19 poemas que conversam com fotografias do artista plástico Wesley Duke Lee. Que dupla, hein?
Piva já publicou Paranóia (Massao Ohno, 1963, reeditado em 2000 e em 2009 pelo Instituto Moreira Salles), Piazzas (1964, reeditado em 1979), Abra os olhos e diga AH! (1976), Coxas (1979), 20 poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Ciclones (1997) e Estranhos sinais de Saturno (2008), além de uma antologia poética em 2005 e manifestos. Esses livros estão em Obra Reunida (editora Globo), organizada por Alcir Pécora, em três volumes: Um estrangeiro na legião (2005), posfácio de Claudio Willer, Mala na mão & asas pretas (2006), posfácio de Eliane Robert Moraes, e Estranhos Sinais de Saturno (2008), posfácio de Davi Arrigucci Jr. Em 2010, foi lançada uma coletânea de suas entrevistas, Encontros: Roberto Piva, pela editora Azougue. Piva relê São Paulo e o mundo (real e literário) com olhos peculiares, oníricos, beats e experimentais Vale a pena conhecer – ou melhor: mergulhar em sua poesia.
Nesse momento o poeta passa por grandes problemas de saúde, sofrendo de Mal de Parkinson e tem recebido a ajuda de vários outros poetas, como Ademir Assunção, que divulgou as dificuldades de Piva em seu blog, e Claudio Willer, que participou do programa Sempre um Papo, no SESC Vila Mariana, em Sampa, falando sobre Piva e sua obra, junto com depoimentos de Antonio Fernando de Franceschi, Celso de Alencar, Roberto Bicelli, Toninho Mendes, Ugo Giorgetti e Valesca Dios. E com vocês... Roberto Piva!
Paranóia
Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das
beatas
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação
O poeta Roberto Piva está com 73 anos e teve sua obra principal – o livro Paranóia – relançado pelo Instituto Moreira Salles em 2009. São 19 poemas que conversam com fotografias do artista plástico Wesley Duke Lee. Que dupla, hein?
Piva já publicou Paranóia (Massao Ohno, 1963, reeditado em 2000 e em 2009 pelo Instituto Moreira Salles), Piazzas (1964, reeditado em 1979), Abra os olhos e diga AH! (1976), Coxas (1979), 20 poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Ciclones (1997) e Estranhos sinais de Saturno (2008), além de uma antologia poética em 2005 e manifestos. Esses livros estão em Obra Reunida (editora Globo), organizada por Alcir Pécora, em três volumes: Um estrangeiro na legião (2005), posfácio de Claudio Willer, Mala na mão & asas pretas (2006), posfácio de Eliane Robert Moraes, e Estranhos Sinais de Saturno (2008), posfácio de Davi Arrigucci Jr. Em 2010, foi lançada uma coletânea de suas entrevistas, Encontros: Roberto Piva, pela editora Azougue. Piva relê São Paulo e o mundo (real e literário) com olhos peculiares, oníricos, beats e experimentais Vale a pena conhecer – ou melhor: mergulhar em sua poesia.
Nesse momento o poeta passa por grandes problemas de saúde, sofrendo de Mal de Parkinson e tem recebido a ajuda de vários outros poetas, como Ademir Assunção, que divulgou as dificuldades de Piva em seu blog, e Claudio Willer, que participou do programa Sempre um Papo, no SESC Vila Mariana, em Sampa, falando sobre Piva e sua obra, junto com depoimentos de Antonio Fernando de Franceschi, Celso de Alencar, Roberto Bicelli, Toninho Mendes, Ugo Giorgetti e Valesca Dios. E com vocês... Roberto Piva!
Paranóia
Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das
beatas
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação
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