A PARCERIA MA-NOEL
Na esquina de Vila Isabel com o Cerrado tem uma padaria que só abre à noite e serve sonhos pra quem dormir no balcão. Foi o que fizeram por lá Noel Rosa e Manoel de Barros. Dormiram, comeram sonhos e sonharam a seguinte conversa:
- Batuque é um privilégio / ninguém aprende samba no colégio
- Contenho vocação pra não saber línguas cultas.
Sou capaz de entender as abelhas do que alemão।
Na esquina de Vila Isabel com o Cerrado tem uma padaria que só abre à noite e serve sonhos pra quem dormir no balcão. Foi o que fizeram por lá Noel Rosa e Manoel de Barros. Dormiram, comeram sonhos e sonharam a seguinte conversa:
- Batuque é um privilégio / ninguém aprende samba no colégio
- Contenho vocação pra não saber línguas cultas.
Sou capaz de entender as abelhas do que alemão।
- Eu queria usar palavras de ave para escrever.
- Quem acha vive se perdendo
- O mundo é o samba em que eu danço / sem nunca sair do meu trilho / vou cantando o teu nome sem descanso / pois do meu samba tu és o estribilho
- O que não sei fazer desmancho em frases.
Eu fiz o nada aparecer.
- Eu sou o medo da lucidez.
Choveu na palavra onde eu estava.
- Quem dá mais? / por um violão que toca em falsete / que só não tem braço, fundo e cavalete / pertenceu a Dom Pedro, morou no palácio / foi posto no prego por José Bonifácio
- São Paulo dá café / Minas dá leite / e a Vila Isabel dá samba
- Depois de ter entrado para rã, para árvore, para pedra,
- meu avô começou a dar germínios।
- O poema é antes de tudo um inutensílio.
- Tudo aquilo que o malandro pronuncia / com voz macia / é brasileiro / já passou de português
- O sol da Vila é triste / samba não assiste / porque a gente implora / sol pelo amor de Deus/ não vem agora / que as morenas vão logo embora
- Com cem anos de escória uma lata aprende a rezar.
Com cem anos de escombros um sapo vira árvore e cresce
por cima das pedras até dar leite.
- As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
- Você no inverno / sem meias vai pro trabalho / não faz fé com agasalho / nem no frio você crê / mas você é mesmo /artigo que não se imita / quando a fábrica apita / faz reclame de você
- Já fui convidada para ser estrela do nosso cinema / ser estrela é bem fácil / sair do Estácio é que é / o X do problema
- O ocaso me ampliou para formiga.
Aqui no ermo estrela bota ovo.
Melhoro com meu olho o formato de um peixe.
- Tudo que explique
a lagartixa da esteira
e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia.
- Fazer poemas lá na Vila é um brinquedo / ao som do samba dança até o arvoredo
- Nasci no Estácio / não posso mudar minha massa de sangue / você pode crer / palmeira do Mangue / não vive na areia de Copacabana
- Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
- Repetir repetir – até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.
- e o povo já pergunta com maldade: / onde está a honestidade? / onde está a honestidade?
- Não tenho herdeiros / não possuo um só vintém / eu vivi devendo a todos / mas não paguei a ninguém
- Na travessia o carro afundou e os bois morreram afogados.
Eu não morri porque o rio era inventado.
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