PEQUENO INDICIONÁRIO DE NUTILIDADES – FASCÍCULO 7
Coágulo De Diadorim
Expressão substantiva de vereda
Constelação visível apenas nos céus do hemisfério Sul e no Círculo Polar Ártico, durante seu curto verão. Pode ser localizada pelas seis estrelas avermelhadas que formam os dois triângulos conhecidos como Raso do Cachorral e Corguinho do Dinho. As estrelas são Garanço, Curiol, Fafafá, Retenteia, Rama-de-Ouro e Cererê Velho. Segundo a lenda, elas orientam os navegantes desde que estes fechem os olhos e se deixem levar. Quem não tiver coragem para tal, é melhor não procurar o Coágulo de Diadorim nos céus pois seu navio não naufragará mas nunca mais chegará a um porto, ficando a navegar em mares desconhecidos para sempre. Esse castigo teria se abatido sobre a nau de Vasco de Ataíde, que fazia parte da esquadra de Pedro Álvares Cabral e nunca mais foi encontrada. Conta-se também que Macunaíma, o herói de nossa gente, decidiu morrer para ir viver no Coágulo de Diadorim, mas ainda não encontrou a constelação e vive perdido na imensidão do céu. “Eu não imaginava que infinito era tanto”, disse ele e seguiu correndo atrás da constelação. Por isso, cada vez que vemos uma estrela cadente, é Macunaíma correndo pra tentar encontrar Diadorim.
Cós Do Capeta
[Do provenç. cors da capitto ]
Segundo uma velha lenda corsa, o cós do capeta é uma tira de pano que dá a quem a possui a capacidade de se transmudar em qualquer outra pessoa. No tempo em que Deus e o Diabo ainda se falavam, embora já estivessem brigados, contam que o Capeta resolveu fazer um terno novo só para ir ao aniversário de Deus. E o encomendou a São Casimiro, protetor dos alfaiates. O santo, temendo que a presença de Lúcifer desagradasse o Todo-Poderoso e acabasse por estragar a festa que todos no céu preparavam com tanto cuidado, decidiu não aprontar nunca o terno, para não deixar o Demônio ir lá. Por isso, toda vez que o Coisa Ruim chegava para experimentar a roupa, São Casimiro tirava fora o cós da calça e dizia que precisava refazê-lo. O Diabo percebeu o truque do santo, foi juntando todos os coses que Casimiro jogava fora, lavou-os numa noite sem lua nem estrela e pediu a um súcubo que lhe fizesse uma roupa idêntica à do santo. Quando chegou o aniversário de Deus, enquanto São Casimiro costurava ferozmente, o Diabo, disfarçado de São Casimiro, dançava, comia e bebia a valer na festa divina.
Desabotão
[ Do fr. arcaico dessous-botton ]
Botão impossível de ser desabotoado. Na Idade Média, a Igreja Católica declarou na Summa Omnium Conciliorum Et Pontificum que o Desabotão fora criado por Deus para manter a virgindade das mulheres. Mas, segundo um evangelho apócrifo, atribuído a São Loquace de Parma, o desabotão seria o botão da verdadeira arca da aliança. Ela estaria trancada no paraíso e guardaria as memórias da família de Deus,coisas como retratos de seus pais e de Deus brincando com seus irmãos quando criança. Foi por não conseguir abrir o desabotão que Deus resolveu criar o Universo e a humanidade. Mas por não se esquecer dele, tornou-se vingativo e amargo, sempre desforrando em suas criações a raiva que as saudades lhe acumularam por dentro.
[ Do fr. arcaico dessous-botton ]
Botão impossível de ser desabotoado. Na Idade Média, a Igreja Católica declarou na Summa Omnium Conciliorum Et Pontificum que o Desabotão fora criado por Deus para manter a virgindade das mulheres. Mas, segundo um evangelho apócrifo, atribuído a São Loquace de Parma, o desabotão seria o botão da verdadeira arca da aliança. Ela estaria trancada no paraíso e guardaria as memórias da família de Deus,coisas como retratos de seus pais e de Deus brincando com seus irmãos quando criança. Foi por não conseguir abrir o desabotão que Deus resolveu criar o Universo e a humanidade. Mas por não se esquecer dele, tornou-se vingativo e amargo, sempre desforrando em suas criações a raiva que as saudades lhe acumularam por dentro.
Eva-De-Pulmão
Subst. paradisíaco
Mulher que Deus fez de um pulmão de Adão e que possuía a capacidade de viver dentro dágua, respirando como os peixes. Ela e Adão não se davam bem, não gostavam das mesmas comidas nem dos mesmos recantos do Paraíso, tinham sono e fome e cansaço sempre em horas diferentes. Além disso, Eva conversava com vários animais, que a acompanhavam dia e noite, fazendo com que Adão, enciumado, vivesse brigando com ela. Após essas brigas, quando Adão muitas vezes chegava a agredir Eva sem que Deus interferisse, ela passava meses no mar, em companhia dos peixes. Quando Eva enfim retornava à terra firme, Adão não a deixava dormir a seu lado, reclamando do cheiro de maresia que ela exalava. “Que fosse dormir com os peixes!”, gritava ele, acordando os seres do Paraíso. Até que um dia Adão seguiu Eva a uma praia de rio onde ela gostava de se banhar. Enquanto sua mulher sumia sob as águas, ele pôs-se de tocaia atrás de uma grande pedra azul, numa das margens. Quando Eva voltou à superfície e tirava os cabelos do rosto para olhar o vulto que se aproximava, Adão golpeou-a várias vezes com um arpão feito de presas de elefante, até ter certeza de que estava morta. Para sua surpresa, o corpo de Eva não parava de sangrar. Adão arrastou-o até o mar e encheu-o de pedras para que submergisse. E o corpo de Eva realmente afundou e desapareceu da vista de Adão. Mas o mar foi-se tingindo mais e mais de vermelho. Adão fugiu de volta para a floresta, onde encontrou Deus. É claro que Deus – que desde sempre tudo via e em tudo estava – sabia o que acontecera e nem perguntou a Adão por Eva. Limitou-se a dizer: vá e traga o corpo da que eu criei. Adão passou meses mergulhando em meio às águas vermelhas e turvas. Num desses mergulhos viu a mulher e era como se ainda estivesse viva, pois repetia seu último gesto em vida, desembaraçando os cabelos e tirando-os do rosto para olhar para o vulto à sua frente. Apavorado com a cena, Adão acabou se enovelando nos cabelos de Eva e morreu afogado junto ao corpo da mulher. Assim terminou esta humanidade, a terceira criada por Deus. Ele já criou várias humanidades diferentes. A nossa é a décima segunda e está chegando ao fim.
Orlágrima
[Do lat. vulg. orulacrima.]
Subst. ocular
1. Lágrima marítima, que deságua na praia durante as marés de sizígia. Ela se difere da simples água do mar por sua coloração arroxeada e por não possuir nenhuma quantidade de sal, sendo a única lágrima doce do mundo. O que ainda não sabemos é porque o mar chora.
2. Pedra que existia no nascimento do mundo e que decifrava para os seres humanos, para os animais e para as outras pedras o que os deuses falavam. Nessa época, todas as coisas que existiam – fossem minerais, vegetais, gentes ou deuses – falavam, voavam e inventavam. Mas os deuses queriam reinar sozinhos e acabaram por subjugar todas as outras coisas. A orlágrima tentou alertar a todos sobre os planos divinos e por isso os deuses a condenaram a nascer e viver somente nos rins dos seres humanos, onde ninguém a escuta e ela só pode causar dor.
Paratório
[Do quíchua. Paretl + sufixo ório.]
Parada que havia nos caminhos do império Inca que percorriam a América, do extremo sul chileno até as florestas da Guatemala. Ali havia um poeta, um juiz e um verdugo. Quem estivesse de passagem, era obrigado a parar, escutar algum texto lido pelo poeta e interpretá-lo. Em seguida, o juiz estabelecia se a interpretação estava certa ou errada. Se fosse considerada correta, a pessoa era imediatamente decapitada pelo verdugo, por não ter imaginação.
Subst. paradisíaco
Mulher que Deus fez de um pulmão de Adão e que possuía a capacidade de viver dentro dágua, respirando como os peixes. Ela e Adão não se davam bem, não gostavam das mesmas comidas nem dos mesmos recantos do Paraíso, tinham sono e fome e cansaço sempre em horas diferentes. Além disso, Eva conversava com vários animais, que a acompanhavam dia e noite, fazendo com que Adão, enciumado, vivesse brigando com ela. Após essas brigas, quando Adão muitas vezes chegava a agredir Eva sem que Deus interferisse, ela passava meses no mar, em companhia dos peixes. Quando Eva enfim retornava à terra firme, Adão não a deixava dormir a seu lado, reclamando do cheiro de maresia que ela exalava. “Que fosse dormir com os peixes!”, gritava ele, acordando os seres do Paraíso. Até que um dia Adão seguiu Eva a uma praia de rio onde ela gostava de se banhar. Enquanto sua mulher sumia sob as águas, ele pôs-se de tocaia atrás de uma grande pedra azul, numa das margens. Quando Eva voltou à superfície e tirava os cabelos do rosto para olhar o vulto que se aproximava, Adão golpeou-a várias vezes com um arpão feito de presas de elefante, até ter certeza de que estava morta. Para sua surpresa, o corpo de Eva não parava de sangrar. Adão arrastou-o até o mar e encheu-o de pedras para que submergisse. E o corpo de Eva realmente afundou e desapareceu da vista de Adão. Mas o mar foi-se tingindo mais e mais de vermelho. Adão fugiu de volta para a floresta, onde encontrou Deus. É claro que Deus – que desde sempre tudo via e em tudo estava – sabia o que acontecera e nem perguntou a Adão por Eva. Limitou-se a dizer: vá e traga o corpo da que eu criei. Adão passou meses mergulhando em meio às águas vermelhas e turvas. Num desses mergulhos viu a mulher e era como se ainda estivesse viva, pois repetia seu último gesto em vida, desembaraçando os cabelos e tirando-os do rosto para olhar para o vulto à sua frente. Apavorado com a cena, Adão acabou se enovelando nos cabelos de Eva e morreu afogado junto ao corpo da mulher. Assim terminou esta humanidade, a terceira criada por Deus. Ele já criou várias humanidades diferentes. A nossa é a décima segunda e está chegando ao fim.
Orlágrima
[Do lat. vulg. orulacrima.]
Subst. ocular
1. Lágrima marítima, que deságua na praia durante as marés de sizígia. Ela se difere da simples água do mar por sua coloração arroxeada e por não possuir nenhuma quantidade de sal, sendo a única lágrima doce do mundo. O que ainda não sabemos é porque o mar chora.
2. Pedra que existia no nascimento do mundo e que decifrava para os seres humanos, para os animais e para as outras pedras o que os deuses falavam. Nessa época, todas as coisas que existiam – fossem minerais, vegetais, gentes ou deuses – falavam, voavam e inventavam. Mas os deuses queriam reinar sozinhos e acabaram por subjugar todas as outras coisas. A orlágrima tentou alertar a todos sobre os planos divinos e por isso os deuses a condenaram a nascer e viver somente nos rins dos seres humanos, onde ninguém a escuta e ela só pode causar dor.
Paratório
[Do quíchua. Paretl + sufixo ório.]
Parada que havia nos caminhos do império Inca que percorriam a América, do extremo sul chileno até as florestas da Guatemala. Ali havia um poeta, um juiz e um verdugo. Quem estivesse de passagem, era obrigado a parar, escutar algum texto lido pelo poeta e interpretá-lo. Em seguida, o juiz estabelecia se a interpretação estava certa ou errada. Se fosse considerada correta, a pessoa era imediatamente decapitada pelo verdugo, por não ter imaginação.
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