sexta-feira, 4 de junho de 2010

CHIPS - o prazer da batata & o poder do circuito – 2

O escritor Wilson Bueno é autor de Mar Paraguayo, Manuel de Zoofilia, Amar-te a Ti Nem Sei Com que Carícias, O Copista de Kafka, Cachorros do Céu - onde estão as duas fábulas publicadas a seguir – e alguns outros livros. A surpresa e a criação estão sempre presentes em seus textos. Infelizmente Wilson morreu esta semana em Curitiba. Fica aqui uma homenagem a ele e a todos nós que temos o prazer de encontrar mais uma vez sua literatura.

O GANSO OU A VIDA
O Ganso recebeu pela quarta ou quinta vez a visita do Pato. Lá vinha ele, de novo, com aquele papo de Pato pachola.
- Seo Ganso, por que o senhor não entra de vez para a Ordem dos Patos, já que ganso não passa de um pato disfarçado?... E nós estamos precisando de sócios. Dezenas de marrecos já aderiram...
- Não, seu Pato. Ganso sou e ganso morrerei. Honro o ganso meu pai e a gansa minha mãe, que não eram, nenhum deles, patos nem marrecos, mas gansos, seo Pato.
- Besteira. Pato, ganso, marreco, são tudo a mesma coisa. Que diferença temos um do outro? Que diferença? Me diga.
- Uma baita diferença, seo Pato. Aqui na aldeia, ao menos, ninguém come ganso. Agora pato e marreco, todo mundo sabe, são um baita prato.
Grasnando muito o Ganso voltou ao seu bando enquanto o Pato, dessa vez, corria, com cinco marrecos atrás dele, da senhora sua dona, armada de enorme faca de degolar pato. Ou marreco, se acharem melhor e mais tenro...

COISAS DA VIDA
Num trecho do caminho, as duas cobras se encontraram.
- Oi, Cobra, tudo bem? – cumprimentou a primeira cobra, que parecia a mais simpática.
- Tudo bem, Cobra – respondeu meio secamente a cobra que não parecia nem um pouco simpática.
- Mas por que este ar casmurro, Cobra? – perguntou a primeira cobra.
- Não me sinto casmurra, Cobra. Vivo apenas o sentimento, sincero, de que sou uma cobra.
- E cobra tem sentimento? – retrucou a cobra que, de tão afável, nem parecia uma cobra.
Só que, num bote certeiro, esta, a Sweet Snake, nhóct!!!, cravou as presas, as duas, na jugular da outra cobra, que no afã enfezado de se mostrar cobra, esquecera de que conversava com uma cobra de verdade.

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