sexta-feira, 6 de maio de 2011

“NÚNCARAS” – po+es+ia

Uma conversa poético-erótica entre os brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Oswaldo Martins e a portuguesa Manuela Amaral. E se você quiser aprofundar a conversa, conheça o ensaio Corpos abertos e silêncios rasgados: o recurso poético e político do erotismo na contemporaneidade, de Larissa Andriolli, publicado na ótima revista on line Mafuá (http://www.mafua.ufsc.br/numero15/ensaios/ ).

EM FACE DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?

Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?

(Carlos Drummond de Andrade, em Brejo das Almas)

A virgem de olhos doces tece intrigas
para conquistar os favores
de deus

para isso usa de artifícios
finge no olhar vazio
ser a menina dos olhos

depois diz para isabel:
fodi com deus.

ah, isabel, isabel,
com ele
é como se fodesse com todos os homens

(Oswaldo Martins, em Cosmologia do Impreciso, 7 Letras)

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cristo nas bodas de caná houvesse percorrido
o colo das moças

e com os olhos inebriados de tesão
tocasse aqui uma teta
ali as curvas

as portentosas nádegas
da mulher que se oferecia

mais que a morte
seria a carne

nossa unção

(Oswaldo Martins, em Cosmologia do Impreciso, 7 Letras)

Não sou homem
nem mulher
nem lésbica
ou pederasta

Sou tudo

Mas ser tudo
não me basta

(Manuela Amaral)

REBELDIA

Soltem-me
as algemas

Quero
a minha alma livre
meu corpo livre
meu pensamento livre

Esbofetear o mundo
e cuspir
na vida

(Manuela Amaral)

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