sexta-feira, 29 de outubro de 2010

“NÚNCARAS” – po+es+ia


ADRIANO ESPÍNOLA

A poesia solar do cearense Adriano Espínola se constrói com musicalidade e concisão,
fugindo do derramamento verbal. Em uma das vertentes criativas de seus versos,
o poeta dialoga com a história da literatura, revelando suas leituras e conversas
e mostrando como foi construindo seus caminhos.
Adriano publicou os livros Táxi/Metrô (1996), Beira-Sol (97), Fala, Favela (98),
O Lote Clandestino (2002) e praia provisória (2006,
Prêmio 2007 de poesia da Academia Brasileira de Letras).


CAIS

Ó nau, de novo, ao largo mar te levam / as ondas!
Horácio

à beira
do
velho
cais

ondas
novas
levam
ao
vento

o teu
barco
e este
mo
mento

para
o mar
do nunc
a
mais


O PREGO

o que mais dói
não é o retrato
na parede

mas o prego
ali cravado
persistente

no centro da
mancha
do quadro au-
sente


A CEBOLA

Cortá-la camada
por camada
até chegar

ao centro.

(Ao bulbo do nada
do eu
mais dentro.)

Não chorar.


SOUSÂNDRADE

yea!
na
lín
gua

por
tu
guesa
a

por
tou
er

rante
um
guesa


Língua-mar

A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.

2 comentários: