terça-feira, 12 de outubro de 2010

RINHA DE GALINHA




Por Don King -
nosso correspondente na Academia Brasileira de Letras e Artes Marciais

Well, os poetas! Já foram viajantes, tuberculosos, distraídos, suicidas. De cabelo verde e blusa amarela. E já se mudaram um bocado, do exílio às torres de marfim. Só que extrair marfim agora é proibido e o aluguel de uma torrezinha qualquer está pela hora da morte. Mas junte uns vinte deles, pergunte o que é a poesia e o pau come na casa de Noca!
Holly Shit!


O que é poesia?

É saber usar a língua para extrair gemidos, uivos e palavras obscenas das mulheres mais vagabundas.
Ademir Assunção

[...] se há uma função para ela, é a de ter o poder de transformar o irreal no real e o real no imaginário. Tem o poder de humanizar um mundo que está zangado consigo. Este mundo em que vivemos em meio a tanta barbárie.
[...] Eu considero a poesia uma medicina espiritual. Posso criar com palavras o que não encontro na realidade. É uma tremenda ilusão, mas positiva: não tenho outra ferramenta com que encontrar um sentido para a minha vida ou para a vida daqueles do meu chão (vide Filhos da várzea). Tenho o poder de outorgar-lhes beleza por meio de palavras e plasmar um mundo belo expressando também sua situação. No feio também há beleza. Tudo é matéria para o poema.
Aníbal Beça

Respondendo à pergunta “o que é música?”, Schoenberg saiu-se com essa historinha:
Um cego perguntou a seu guia: - Como é o leite?
O outro: - O leite é branco.
O cego: - E o que é esse “branco”? Me dê um exemplo de algo que seja “branco”!
O guia: - Um cisne. Ele é totalmente branco e tem um pescoço longo e curvo.
O cego: - O pescoço curvo? Como é isso?
O guia, imitando a forma do pescoço do cisne com o braço, fez com que o cego o apalpasse.
O cego: “Ah, agora eu sei como é o leite”...
Augusto de Campos

Uma aventura. Um modo de expressar a imaginação. E de expressar a paixão. Uma operação sobre a linguagem. Uma experiência de liberdade, e também de possessão.
Claudio Willer

Já dei várias respostas a essa pergunta, mas acho que a melhor foi aquela que usei numa oficina que ministrei na Casa das Rosas: a poesia é uma metralhadora na mão de um palhaço. Seu poder de fogo pode ser apenas intencional, e seu efeito apenas hilário, mas o franco-atirador, ao expor-se em sua ridícula revolta, no mínimo consegue provocar alguma reação, ainda que meramente divertindo o público, e alguma reflexão sobre o papel patético dos idealistas e visionários, que, no fundo, somos todos nós.
Glauco Mattoso

Um registro da voz humana, a arte do vento.
Horácio Costa

Deve ser o substrato da primeira manhã do universo, algo que teria se fixado em minha retina nos albores de minha infância, em Sena Madureira, AC, lá pelos idos de 1935. Um cenário bucólico onde o rio, a mata, os igapés, violões à distância e o desafio dos cantadores nordestinos, soldados da borracha, tanto me deslumbravam quanto acenavam desafios que somente anos depois eu viria a aceitar, compondo o meu primeiro soneto. É um sentimento forte demais para uma criança que ainda não tinha amigos nem brinquedos.
Jorge Tufic

A poesia para mim é a forma mais eficar de alcançar algo inantigível, a essência do real ou, antes, o real em essência. É também o único modo pelo qual posso enxergar o mundo. Ela está um degrau acima da filofosia e um degrau abaixo do amor.
Micheliny Verunschk

A quinta pata do touro sírio, ou seja, a ficção que sustenta a realidade (uma segunda realidade?) ou a terceira margem de João?
Washington Benavides

(Textos retirados do livro O Que É Poesia?, organizado por Edson Cruz e lançado pelas editoras Confraria do Vento e Caliban.)

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