sábado, 13 de novembro de 2010

LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –

CANTIGUINHA

O Cravo brigou com a Rosa. Foi semana passada, bem aqui debaixo da minha sacada. A gente nem conseguiu dormir. Mas também não chega a ser uma novidade. Pelo menos uma vez por semana eles berram e se xingam. Cada nome. Minha avó pega o terço e fica andando de um lado pro outro. Sabe que isso me deixa mais nervosa do que a berraria dos dois? Mas se fosse só a berraria, só que aí eles começam a quebrar coisas, jogar louça, panela, o que for. É que eu não sou de reza mesmo, mas tira a gente do sério. Bom, lá pelas tantas chegou a polícia. O seu Nezinho do botequim é quem chama. Ele conhece os pms, que sempre comem e bebem de graça no bar. Normalmente eles chegam, dão uns três ou quatro berros, também quebram um troço qualquer, só pra fazer um barulho maior e os dois acabam sossegando. Mas dessa vez a coisa tava feia mesmo. Chamaram até a ambulância. Saíram os dois juntos, um em cada maca. Mesmo sangrando, continuavam a se xingar. Que coisa. Pelo menos a gente conseguiu dormir. Só que também não foi por muito tempo. No dia seguinte, de manhãzinha bem cedo, eles voltaram. Aí, já viu: logo, logo começou a berraria de novo. Mas dessa vez não era briga. O Cravo teve um desmaio, caiu da cama, babando e se urinando, todo torto. Parece que foi derrame. Não dava pra entender direito o que a Rosa berrava, porque ao mesmo tempo ela chorava, ainda por cima de boca inchada e sem dois dentes da frente. Mas deu pra perceber que ela tava culpando os médicos do hospital. Bom, culpados ou não, a ambulância voltou e levaram o Cravo outra vez. Parece que ele morreu no caminho. A Rosa? Desde esse dia que só chora, berra, xinga e se descabela. E a gente continua sem dormir.

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