quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RINHA DE GALINHA


Por Don King –
nosso correspondente
na Academia Brasileira de Letras e Artes Marciais

Waaall, dois poetas num duelo. As armas escolhidas? Comprimidos. Sim, um pequeno sol de bolso, o mais prático dos sóis, como eles disseram. E quem são eles? Neste lado do ringue, A Fera das Laranjeiras, o Demolidor de Versinhos, Paulo Henriques Brito! No outro corner, com 80 quilos de poesia publicada, o homem que tem concreto nos punhos, o Geômetra do Nocaute, João Cabral de Melo Neto. E o pau come na casa de Noca! Holly shit!


PARA UM MONUMENTO AO ANTIDEPRESSIVO

Um pequeno sol de bolso
Que não propriamente ilumina
Mas durante seu percurso
Dissipa a espessa neblina

Que impede o outro sol, importátil
De revelar sem distorção
Dura, doída, suportável,
A humana condição

Paulo Henriques Brito, no livro Tarde, Cia das Letras.


NUM MONUMENTO À ASPIRINA

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.
*
Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca, para o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.

João Cabral de Melo Neto, em A Educação pela Pedra, Editora Alfaguara-Objetiva.

4 comentários:

  1. Meu caro Oswaldo,

    É uma dupla da pesada, esta, não?

    abraço

    Cesar

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  2. Aos poetas,
    deixo aqui a sugestão de eternizar
    também a nossa musa, a D. Neosa.

    Que há muito destronou o acido acetilsalicílico, com sua irresistível mistura
    de Dipirona e o mágico Isometepteno (esse sim, uma chave de ouro).

    Feliz Ano Novo, Cesar!
    (D. Neosa no dia 31 contra a ressaca!)

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  3. Querida Angélica

    Vamos fazer uma ode a Dona Neosa e seus dois filhos: a menina Dipirona e aquela rapaz ciscunspecto, o Isometepteno, que fica pê da vida quando os mais íntimos o chamam de Iso.

    Beijo

    Cesar

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