sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PATAVINA’S NEWS

Nosso correspondente Jean Prévert
direto de N.York

Meu caro Cesar,
O sol me esquenta nesse banco do Central Park e eu batuco essas linhas pra você e pro PATAVINA’S. Desta vez te apresento Miklós Pörkölt, um escritor húngaro que acaba de ser publicado pela Gulliver’s Travels, uma pequena editora novaiorquina com nome de gigante. O texto que apresento faz parte do livro “Venha Ser Um Criminoso”, onde Miklós debocha de tudo que existe na Hungria de ontem e de hoje. (E que também existe espalhado pelo mundo, é claro.) Nesse texto ele também se revela um discípulo de Jonathan Swift e apresenta uma solução gastronômica de pouco custo para os paladares mais exigentes, húngaros ou não.
Abracadabraço do
Jean Prévert

RECEITAS MAGIARES

Desde o século IX a Cozinha Magiar, ou Húngara, como alguns preferem, vem se construindo junto com a nacionalidade. É um dos pontos altos de nossa cultura, junto com a matemática e os massacres. Não somos apenas um goulash cheio de páprica e pimenta preta. Na verdade nosso prato preferido é o caldo de culturas, uma mistura de otomanos com ocidentais, de resultados indigestos se não for bem preparada. E por vezes, até mesmo se for.
O Danúbio reclama de cruzar este país onde só existem planícies, mas nós adoramos seus peixes, como o tisza e o neusiedl, e nos esmeramos a criar molhos para prepará-los. Mas hoje vamos conhecer um prato típico das grandes cidades húngaras, modernizadas graças à economia de mercado.

A empregada.
A empregada é uma carne de segunda, mais barata mas nem por isso menos saborosa. E por ser um prato bem popular deve ser acompanhado de uma Slivovitz Pálinka, nossa melhor aguardente de ameixa. Mas nossa receita traz um toque de sofisticação.

EMPREGADA AO CREME DE LARANJA COM COUVE DE BRUXELAS

Ingredientes:
Uma empregada nova, de porte médio.
Dez tomates amarelos.
Um pacote de couve de Bruxelas.
5 dentes de alho bem socados.
Pimenta chinesa.
Creme de laranja.
Cogumelos.
Páprica doce.

Modo de preparar:
Na véspera pegue uma empregada limpinha, sem carteira assinada e ainda viva, mande ela se lavar e ficar de molho no creme de laranja. No dia seguinte, proceda ao abate da empregada, evitando macerar as partes que serão consumidas: a alcatra e o lombo. Frite os cogumelos e reserve. Tire a pele dos tomates amarelos e da empregada. (Atenção: não jogue fora a pele. Deixe secar e doe para um curso de artesanato.) Tempere com páprica doce, sal a gosto e pimenta chinesa, para dar um toque de mistério oriental ao prato. Bote numa panela grande, em fogo brando, e acrescente aos poucos água quente e os cogumelos. Espete com uma faca para ter certeza que a carne está ficando macia e que a empregada está morta (não se pode confiar nessa gentinha, se for romena então, hum!). Junte o alho bem socado (mande a empregada socá-lo antes de abatê-la). E nos últimos dez minutos de cozimento acrescente a couve de Bruxelas. Sirva com arroz soltinho e coma durante a novela. Dá para toda a família.

O chef Miklós Pörkölt é escritor e carne de pescoço.

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