Nosso correspondente Jean Prévert
direto de N.York
Meu caro Cesar,
Passei a manhã no Lower East Side, entre gente do mundo inteiro e a mistura de muitos passados. Depois fui ao Museu de Arte Contemporânea pra equilibrar. Os curadores continuam mandando na nova Bolsa de Valores que é a arte contemporânea. Por fim caminhei uns cinco quarteirões até o Sammy’s Roumanian, onde tomei uma sopa de miúdos e agora saboreio fígado picado acompanhado de mamaliga com queijo, enquanto bebo uma tuica, que é uma cachaça feita de ameixa e forte como o diabo! Aproveito para te mandar a mais recente criação do nosso cantador atômico, Patavina do Alcaçuz. Ele me fez duas promessas: continuar escrevendo para que eu possa por fim organizar o livro com suas poesias e te processar por usar o nome dele para batizar teu blog.
Abracadabraço do
Jean Prévert
O POETA PATAVINA DO ALCAÇUZ
CONVIDA O DESPEITÁVEL PÚBLICO
A CONHECER O ENCOBRIMENTO DO BRASIL
o meu nome é patavina
verso como quem navega
seja no mar da poesia
seja no álcool da adega
chamo a verdade de irmã
e a mentira de colega
e vou contar a história
da nau que ficou às cegas
dizem que até hoje
pelo mar ela trafega
dizem, mas ninguém prova
só se sabe que cabral
era o chefe da esquadra
onde estava essa nau
eram bem mais de mil homens
saídos de portugal
mulher? não tinha nenhuma
nada de xota, só pau
e nem sabiam onde iam
ô que viagem legal!
foi no brasil que chegaram
cabral e sua cambada
debaixo de bruta chuva
viram as índias peladas
mas em vez de tirar a roupa
e cair na batucada
encher a cara de uca
bacalhau com feijoada
vestiram os índios todinhos
com hóstia, missa e porrada
mas uma das 13 naus
não chegou a aportar
foi a de vasco ataíde
que se perdeu pelo mar
e achou outro brasil
muito melhor que o de cá
pois num dia cheio de sol
aqueles índios de lá
despiram os portugueses
e foram comemorar
com todo mundo pelado
começou logo a festança
tinha comida e bebida
mais maconha e fudelança
passaram-se oito meses
sem sequer parar a dança
o vasco ataíde doidão
enchendo a pica e a pança
e quem vai lembrar d’el rei
vivendo nessa bonança?
mas o escriba da nau
que era primo de caminha
fez parar aquela zona
começou a ladainha
lembrando da obrigação
com el rey e a rainha
e temos a fé em cristo
pra salvar essa gentinha
serão nossos escravos
andando sempre na linha
vasco ataíde então disse
você é um soldado leal
bote tudo numa carta
e leve pra portugal
como só tem um navio
vais a nado, animal!
e se não quiser cumprir
esta missão bestial
podes ficar por aqui
sentadinho no meu pau
os índios e os portugueses
voltaram pra putaria
tacaram fogo na nau
assim ninguém mais fugia
decretaram só uma lei
aqui não tem mais chefia
a farra começa de noite
mas não acaba de dia
porque farra nessa vida
é o que tem serventia
batizaram aquela terra
brasa-braseiro-brasil
descoberto por acaso
bem no primeiro de abril
cagaram para el rey
e aposentaram o fuzil
juro que é tudo verdade
ainda não estou senil
e quem duvidar do que eu conto
vá pra puta que o pariu
Grande Patavina! Não é à toa que dele diz o povo de Alcaçuz (ou a parte dele mais distinta, que cai no sono de dia e de noite na putaria): "Patavina tem na ponta da língua o verso ardente, lambido da urgência em brasa dos xibius."
ResponderExcluirAbraço
Salve, Tuca!
ResponderExcluirE viva a poesia veros-esculhambativa de Patavina do Alcaçuz. Vou trazer o homem ao Rio para uma coletiva.
Abraço
Cesar
Caro Cesar, peça, por favor, ao encarregado desse site para incluir opções de compartilhamento dos seus textos. Me perdi na net e me achei impressionado com eles. Segui-los-ei até o fim dessa chacrinha.
ResponderExcluirA propósito, vou incluir seu Patavina nos links do meu blog.
Abraços e parabéns.
Fabio Minervini
www.imperiodasletras.com