quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

“NÚNCARAS” – po+es+ia

DOS ANDES AO PATAVINA’S:
A POESIA E A PINTURA DE LEO LOBOS

Leo Lobos nasceu em Santiago do Chile em 1966. É poeta, ensaísta, tradutor e artista visual, com inúmeras publicações de poesia e exposições. Conheci sua poesia nas andanças, não por cordilheiras, mas pelas páginas virtuais dos sites e blogs da internet.

Rapid eye movement (REM) é uma seleção de cinco poemas – acompanhados com pinturas eletrônicas, também de Leo Lobos – escritos nas cidades de Ovalle e San Pedro de Atacama e editados na cidade de La Serena, no Chile, no mês de abril de 2008. A tradução para o português é de Geruza Zelnys de Almeida.

REM (rapid eye movement)


Paisagem - Miragem


Ao escritor britânico Artur C. Clarke in memoriam


As ovelhas que pastam distante são chacais
um trem
estremece a cidade
e os anjos do cemitério choram pó
As palavras são portas que abrem e fecham suas asas
as palavras são múltiplas e contraditórias
e possuem o ritmo do trote de um cavalo na campina
Um dia vem depois de outro dia
e para mim
um dia nunca é um dia qualquer
são estas as responsabilidades do ser
em uma paisagem deserta de humanidade


Sonho tenaz


Ao escritor chileno Roberto Bolaño in memoriam


Um diário descontínuo
que abre e fecha
com uma orquestra que acompanha
poesia
vertiginosa e sincopada
comovedor
romântico
Rimbaud em fuga perpétua
E já sabes como és
Cesaréa disse uma vez
para além do ano 2600
queimando as mãos e os pés
por cada poema
exalado
O que há por detrás?


Paralisia do sonho


“Pequeñas motas de luz etéreas burbujas
diminutas pecas en la lente externa del ojo”

Ray Bradbury


Nunca sinto que sou eu quem faz arte
Não sei de onde vêm minhas idéias
Eu só apareço para o trabalho
E sigo minhas ordens


Rapid eye movement


“No importa cómo se ponga la pintura, mientras que algo sea dicho”

Jackson Pollock


Viveram lendo
Escrevendo
Rezando
Muito além do monólogo interior
Muito além da morte


Temor


“La mejor parte es sentirse vivo pintando y la peor es necesitar hacer pinturas para sentirse vivo”


Geoffrey Lawrence


Reverência emocionada
quando tudo
deixa
de
importar
quando tudo está escuro
quando tudo está perdido
Que a musa te toque com seus
dedos as costas
e te empurre ao caminho
Que a frieza das cidades
que a rosa do nada
que a lama imóvel
que a areia movediça do deserto
não apaguem a tristeza da tinta
que há de alcançar a água
E seja ar movido por lábios
uma
vez
mais

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