segunda-feira, 12 de outubro de 2009

- LHUFAS - coisa com coisa nenhuma –


Aqui vai a homenagem do Patavina’s: aos mestres com carrinho (e o desejo de que passem a ganhar o suficiente para cada um comprar o seu)!


DIA DO PROFESSOR

Está bem próximo o dia em que não haverá mais professores e todas as escolas estarão fechadas. É a marcha do progresso e alguém aí é contra o progresso? Há quem seja, há quem seja, mas como o progresso está progredindo cada vez mais, em breve ele mesmo se encarregará de acabar com essa praga.

Sim, é um grupo inútil, o dos professores. E caro, ainda por cima. As mensalidades das chamadas boas escolas custam mais do que um tênis importado. E um tênis importado, todos sabem, dura mais do que qualquer frase escrita num quadro-negro.

Sem dúvida, um grupo inútil e que não se entende entre si. A maioria se limita a reproduzir um saber que já se sabe há séculos. São papagaios. E, como os papagaios, entrarão em extinção. E há um outro grupo, pequeno e ativo, que vive questionando os valores mais banais da sociedade. São os criadores de desajustados. E quem precisa de criadores de desajustados?

Já estão quase extintos os professores de geografia. Óbvio, ninguém quer saber onde ficam outros povos e países. A menos que por lá haja empregos ou que seja um lugar cheio de riquezas e valha a pena invadir. Mas para esses objetivos há cadernos de classificados e exércitos, não é preciso professores numa sala de aula fazendo chamada. Você pode argumentar que há sempre um pequeno grupo de curiosos. Você gosta de argumentar, não é? Você deve ser professor. Muito bem, mas eu lhe digo que, no mundo de hoje, para ser curioso é preciso ter dinheiro, muito dinheiro. Quem luta desesperadamente pela sobrevivência não tem tempo bem disposição para ter curiosidade. E quem tem dinheiro mata sua curiosidade geográfica fazendo turismo, que é muito mais interessante do que assistir aulas.

Também não há mais necessidade de professores de línguas. Primeiro pela absoluta inutilidade de se falar francês, alemão, espanhol, vietnamita, quarenta dialetos do interior da China ou qualquer outra língua que não seja o inglês. Você vai perguntar porque, eu vou ter certeza que você é um professor e nem vou lhe responder. Com licença, onde eu estava mesmo? Ah, no inglês! Para aprender inglês, basta torná-lo língua oficial. Do nosso país ou mesmo do planeta todo. É o Mundo Livre, livre inclusive de um amontoado de dialetos que vêm sempre acompanhados de reivindicações de liberdade e autonomia ou até de algum grupo terrorista jogando bombas. E sendo o inglês língua oficial, será falado em todos os lares e não haverá necessidade de nenhum professor para ensiná-lo.

Também não precisaremos de professores de matemática, ciências, filosofia ou até educação física. Ouço alguém perguntando porquê. É você de novo, não é, meu caro professor? É típico! Professores adoram perguntar. A humanidade tem pilhas de séculos de perguntas feitas por vocês. Mas agora, meu caro e inútil amigo, nós precisamos é de respostas. Simples, práticas, diretas. Aquelas respostas que vocês, professores, não sabem dar ou não querem, não gostam, não foram treinados para isso ou uma outra explicação que você certamente tem e quer me dar, levantando seu dedinho aflito para pedir a palavra. Sinto muito, mas pode abaixar o dedo, seu tempo acabou, o sinal tocou, pode ir pra casa e não precisa voltar. Mas antes, escute mais um pouco.

O mundo hoje é prático e lucrativo. Enquanto vocês defendem o ensino público e gratuito, o mundo deseja tudo privado e o mais caro possível, com belas embalagens e anúncios na tv. Bilhões de pessoas lutam por isso com unhas e dentes. Você não vê diariamente essa gente toda na rua, se matando? Acha que estão se matando por quê? Para encontrar as respostas às suas perguntas?

Nós, aqui, no terceiro mundo, por exemplo. Somos invadidos e escravizados? Sim, é claro. Mas também podemos invadir e escravizar países menores, que também encontrarão outros, minúsculos, e os invadirão. Sempre há alguém mais fraco. Essa é a nova democracia. Sem filosofias nem histórias. Filosofias levam muito tempo e não chegam a lugar nenhum, chegam apenas a palavras. Dignidade, justiça. Isso não vende. História? Quem fica olhando o passado não constrói o futuro. Pirâmides? Nunca ouvi falar! Vejo apenas umas pilhas de pedras, que podem ser bombardeadas ou transformadas em um bom muro para evitar invasões.

Você se calou? Ora, não fique triste, as profissões terminam um dia. Ânimo, até a vida humana vai terminar um dia! Lembra dos escribas da Idade Média, que copiavam os livros gregos e romanos e detinham todo o saber do Ocidente? Gutemberg criou a imprensa e acabou com eles. Com vocês está acontecendo algo parecido. Criamos tanta tecnologia que não precisamos mais de pensamento. Precisamos de dedos, para apertar botões nas fábricas e escritórios e contar dinheiro nos bancos. E botões não precisam de professor. Portanto você pode ir pra casa contar sua história para seus netos. Eles vão rir um bocado do avô doido que têm.

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