MOINHO
A mó da morte mói
o milho teu dourado
e deixa no farelo
um ai deteriorado.
Mói a mó, mói a morte
em seu moer parado
o que era trigo eterno
e nem sequer semeado.
Da morte a mó que mói
não mói todo o legado.
Fica, moendo a mó,
o vento do passado.
(Carlos Drummond de Andrade em As Impurezas do Branco, José Olympio, 1973.)
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O bastão, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a murcha
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O vermelho espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso esquecimento;
Não saberão jamais que nos fomos.
(Jorge Luis Borges, em Nova Antologia Pessoal, tradução de Maria Julieta Graña e Marly de Oliveira, Editora Sabiá।)
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Meu ser evaporei na lida insana
do tropel de paixões, que me arrastava;
ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
em mim quase imortal a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana
existência falaz me não dourava!
Mais eis sucumbe a natureza escrava
ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
esta alma, que sedenta em si não coube,
no abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus! oh Deus! quando a morte a luz me roube,
ganhe um momento o que perderam anos.
Saiba morrer o que viver não soube.
Meu ser evaporei na lida insana
do tropel de paixões, que me arrastava;
ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
em mim quase imortal a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana
existência falaz me não dourava!
Mais eis sucumbe a natureza escrava
ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
esta alma, que sedenta em si não coube,
no abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus! oh Deus! quando a morte a luz me roube,
ganhe um momento o que perderam anos.
Saiba morrer o que viver não soube.
(Manuel Maria Du Bocage, em Livro dos Sonetos 1500-1900 (poetas portugueses e brasileiros),organização Sergio Faraco, L&PM Pocket।)
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E A MORTE PERDERÁ O SEU DOMÍNIO
E a morte perderá o seu domínio.
Nus os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio.
(Dylan Thomas, tradução de Fernando Guimarães, em http://www.culturapara.art.br/opoema/dylanthomas/dylanthomas.htm)
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E A MORTE PERDERÁ O SEU DOMÍNIO
E a morte perderá o seu domínio.
Nus os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio.
(Dylan Thomas, tradução de Fernando Guimarães, em http://www.culturapara.art.br/opoema/dylanthomas/dylanthomas.htm)
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