quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

RINHA DE GALINHA

Por Don King
nosso correspondente na Academia Brasileira de Letras e Artes Marciais

Waaal! A poesia é o Ultimate Fight da literatura. E pra mais um duelo do século ( e de quantos séculos precisamos, óh, Cronos!), encaram-se no ringue do PATAVINA’S a Rocha de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, o homem que é uma pedra no meio do caminho de seus adversários, e a Navalha Desoriental de Curitiba, Alice Ruiz, a Bela e a Fera numa só mulher... E o pau come na casa de Noca, holly shit!

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade, em Antologia Poética, Editora Record.


DRUMUNDANA

e agora Maria?

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora Maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria

Alice Ruiz, em Dois em Um (Prêmio Jabuti de Poesia), Editora Iluminuras.


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